Posted on Leave a comment

FEMINISTA/FEMINISMO

shutterstock_316716839 (1) maos

As palavras não são antagônicas. São, uma e outra, qualidades de gênero, tão em moda nos dias de hoje.

A  Constituição Federal anterior à de 1988, dispunha, em seu artigo 5º, que “Todos são iguais perante a lei.” Mas isto não foi suficiente para que as mulheres tivessem identidade de tratamento com relação aos homens. O legislador constituinte de 1988, reconhecendo a falha, consertou e dispôs, no artigo 5º, que: “homens e mulheres são iguais perante a lei”.

Mudou muita coisa, mas não tudo.  Até hoje vemos discriminação ao gênero feminino, pois continuam as mulheres a receber salários inferiores aos dos homens, embora com a mesma capacitação técnica e cultural, além de outras coisas, tão desgastantes, como por exemplo, a constatação de que realizam poucos cargos de chefia, pouca participação em partidos políticos, pouca participação nas assembleias legislativas, no congresso nacional, na sociedade como um todo…

Tudo isso gerou, como era de se esperar, a formação de grupos de mulheres, especialmente nos Estados Unidos, e logo mais no mundo todo, pretendendo a igualdade de tratamento e a exacerbação destes movimentos é conhecido como movimento  feminista. Não precisamos voltar à história, para lembrarmo-nos das grandes mobilizações da década de 1960, quando eclodiu o movimento. Mas a diferença de tratamento no estrato social é mundial, e nos lembramos até de uma das atrizes ganhadoras do Oscar, que no momento dos agradecimentos, pontuou pela igualdade de salários entre atrizes e atores. Até estrelas de cinema, como se viu, sentem a discriminação.

Continua, então, a luta pela igualdade.

Estas constatações levam a outra reflexão, que encaminharam as mulheres discriminadas, a buscar seus espaços no ambiente social e do trabalho, aguerridamente, a posturas mais agressivas, que as reconhecessem melhores que os homens  no mesmo local de trabalho. Até sem se darem conta, assumiram posturas mais radicais, que diminuíram a feminilidade, a doçura e a meiguice, próprias do gênero. Foram buscar, por melhores salários, profissões que antes eram exclusivamente masculinas, como medicina, engenharia, magistratura, e outras profissões, geralmente no serviço público, exceto a do magistério, que é desdenhada pelas autoridades, sempre com baixíssimos salários.

Hoje vemos mulheres como taxistas,  motoristas de ônibus, pilotos de aeronaves, astronautas, com idênticas condições de trabalho dos homens.

Na indústria, principalmente as que se dedicam à aplicação da nanotecnologia, as mãos femininas, por serem mais   e precisas, têm a preferência na contratação. Na publicidade e marketing, a sensibilidade feminina tem dado excelentes frutos e bem assim, na pesquisa em biomedicina, no jornalismo.   No comércio estão elas dando show, no poder  de persuasão, como vendedoras, chefes de vendas, proprietárias de lojas, e já sem perderem a feminilidade.

Já há luz no fundo do túnel, mas a luta continua e a peleja não está ganha. A busca constante pela competência, expertise, dedicação e talento vão fazer a diferença!

299694_107066062735342_1507590687_n Marilda

Marilda Izique Chebabi – Desembargadora Federal do Trabalho, aposentada, e há 15 anos advogando. Ministrou aulas de Direito e Processo do Trabalho,   na Unip, e na pós graduação em Direito Empresarial,  da Unisal. Foi docente da Escola Superior da Magistratura do Trabalho. Participou de dezenas de Congressos de Direito do Trabalho, como palestrante e mediadora. Participou de várias bancas de concurso público para a Magistratura do Trabalho e ainda mãe de 04 filhos homens.

Posted on 5 Comments

Contra as probabilidades

shutterstock_244865545 desenho mulher

Adoro ser mulher. Mas sou de uma geração que cresceu querendo ser a mulher maravilha, lutar contra a injustiça, ser forte, bela, íntegra, doce e justa.

Me inspirava nas mulheres fortes da minha família que, sem medo (ou talvez por medo), seguiam em frente e davam conta das tarefas.

Ver a tia pular grávida de um trampolim, e eu lá com meus nove anos olhando admirada aquela mulher sem freios, corajosa e querendo ser igual. Nunca fiz isso, aliás confesso que morro de medo de altura, mas aos poucos tento superar.

Ainda menina, brincava que era uma das “panteras”, série de sucesso numa época que ainda não existia TV a cabo. Queria ser sempre a personagem Sabrina, a de cabelo tijelinha e preto como o meu. A menos bonita, mas a mais inteligente. Gostava de ser essa.

Já fui seguida na rua diversas vezes. No final da adolescência e no início da vida adulta isso acontecia muito, mas eu era esperta e percebia rápido. Atravessava para ruas que eram contramão para quem estava de carro.  Entrava em alguma loja ou padaria e lá ficava até o seguidor desistir. Fingia que ia entrar em uma rua e corria para outra. Fui criando técnicas para não ser abordada, incomodada e sabe-se lá o que mais.

Quando estava no terceiro ano da faculdade fui fazer estágio em uma multinacional. Meu trabalho era interno, porém uma vez fui convocada para acompanhar um colega – talvez uns 15 anos mais velho que eu – em uma tomada de preços. Achei bacana porque seria algo diferente da minha rotina diária.

Tinha 21 anos, eu e toda minha geração usávamos muito minissaias, bermudas e shorts. Mesmo para trabalhar, até porque nosso departamento era composto basicamente por estagiários.

Fomos no carro dele, eu estava de bermuda-saia que também era moda na época. Participamos daquela tomada de preços e, na volta, esse homem parou em uma rua e começou a me dizer que morava perto dali. Não me lembro das minhas respostas, não me lembro se entendia que aquilo era nitidamente uma cantada e que eu estava em uma posição bem vulnerável ou se, de fato, não percebia. Não sei, de verdade, excluí da minha lembrança.

Ele viu que eu não demostrava nada e foi me mostrando alguns álbuns de fotos que tinha tirado do porta-luvas. Até que em um momento ele simplesmente passou a mão na minha perna com uma dessas pegadas fortes e disse algo do tipo: que pernão.

Não sei explicar o meu sentimento: nojo, constrangimento. Acho que minha cara deve ter sido de alguém tão pasma que aquilo não passou dali, por sorte minha. Pedi que fossemos embora e fomos.

Cheguei na empresa com uma sensação ruim, com vergonha e só vim contar isso há poucos anos para uma amiga que trabalhou na mesma empresa. Ela ficou assustada com a história, mas sabia que o tal sujeito era cafajeste. Neste último mês contei essa mesma história para mais três pessoas e, agora, publicamente.

Por que não contar antes? Vergonha? Constrangimento? Não sei, o fato é que não quis compartilhar com ninguém e somente agora, mais de 20 anos depois estou escancarando isso em um texto e divulgando para onde for e para quem quiser ler, simplesmente porque acho que não devemos nos calar em situações abusivas como esta.

Não sou contra cantadas, e nem as tão famosas cantadas de pedreiro. Se não forem agressivas, ok, estão valendo. É gostoso ouvir um “fiu fiu” de vez em quando, mas do assobio à agressão verbal e física existe uma grande diferença.

Mulheres são ainda estigmatizadas pela sua aparência. Bonita, feia, gorda, gostosa, siliconada, loira burra e por ai entram em cena adjetivos animais, como gata, baleia, vaca, piranha, capivara, cachorra, cavala etc.

Tenho 47 anos e três filhos, um com 18, outro com 12 e a caçula com 10 anos. Contra as probabilidades da vida de uma mulher, continuei trabalhando. Sou fundadora e sócia da Modo Comunicação e Marketing há 23 anos, desde que me formei. Trabalhei até um dia antes do nascimento de cada filho, fiquei home office no período de licença-maternidade, mas amamentei todos filhos bem mais que os seis meses necessários.

Ao invés de chorar pela falta de oportunidades para as mulheres fui criando as minhas e elas foram dando certo. Cresci muito, hoje sei muito da minha área. Nessa altura, me permito criar que adoro, além é claro das demais funções que como sócia sou responsável.

Outro dia estava em um evento da área para sócios de agências de comunicação e percebi que eu era a única mulher – sócia de agência – que estava lá. Comecei a tentar lembrar as mulheres daqui de Campinas (interior de SP) que estão há mais de 20 anos no mercado a frente de agências. Temos muitas na cidade, mas só consegui  lembrar de mais duas mulheres nas mesmas condições que eu. É muito pouco.

Se tem uma palavra que hoje eu escolho para mim é coragem. As probabilidades não me assustam e nem me fazem recuar. É justamente por essa coragem de hoje que coloco a boca no trombone, conto essas histórias verídicas e sigo em frente gostando da mulher que sou.

Foto-0010E001 dri

Adriana Chebabi – Bela Urbana, idealizadora do blog Belas Urbanas onde escreve contos e poesias, mas também e atreve a escrever no divã desse blog. Publicitária e empresária. Divide seu tempo entre sua agência Modo Comunicação e Marketing  www.modo.com.br e as diversas funções que toda mulher contemporânea tem que conciliar, especialmente quando tem filhos. É do signo de Leão, ascendente em Virgem e no horóscopo chinês Macaco. Isso explica muita coisa 🙂

Posted on Leave a comment

Feminismo – A Quem Interessa?

shutterstock_135059156 (1) fogo

Todo ano, no dia 8 de março alguém me dá os Parabéns! Parabéns por quê? Porque sou mulher… E?

Sou filha de uma mulher que precisou lutar por sua existência e a da sociedade em que vivia, durante a Segunda Guerra Mundial! Alguém a quem ninguém dizia que era menos capaz por ser mulher, porque naquele momento precisavam que ela fizesse o trabalho dos homens que estavam morrendo no front. Quando a guerra acabou, essa e outras mulheres já não aceitariam o papel de submissas na Europa. A luta por igualdade de direitos entre os gêneros já era uma realidade de mais de séculos, mas aquele foi o momento decisivo.

Mesmo assim, as mulheres ainda estão longe de ter os mesmos salários ocupando os mesmos cargos. Lutam para poderem ser promovidas nas empresas em que trabalham. Lutam para poder andar nas ruas sem receberem cantadas, para não serem julgadas, estereotipadas. Lutam por respeito. E lutam para explicar quase todo dia a razão da luta.

O que espanta é o quanto uma questão do ENEM gera de protesto e espanto em pleno ano de 2015, não só por uma bancada evangélica, embora sim, a igreja sempre esteve envolvida na opressão da mulher, mas também por pessoas que, por preguiça de pensar, por ignorância, jogam pedras sem saber no que querem acertar.

Alguém realmente imagina que Simone de Beauvoir quis dizer que a mulher que não nasce mulher, nasce sem gênero? Isso seria até simples. Difícil é entender o quanto a sociedade molda a mulher para ser submissa. Essa é a essência da luta.

Na história da humanidade, nos primórdios, homens e mulheres eram responsáveis pela sobrevivência da espécie, o homem, fisicamente mais forte, era caçador e a mulher, a cuidadora da cria, era a colhedora, colhia frutos, musgo, ervas, precisava saber distinguir alimento saudável e veneno. Essa mulher foi ganhando e passando adiante seus conhecimentos, usava ervas para curar, ajudava nos partos e nas curas de doenças… As descendentes dessas mulheres, na idade média, passaram a ser acusadas de bruxaria. Com as bruxas queimadas, queimou-se muito conhecimento…

Hoje, nós bruxas, ainda estamos tentando resgatar a nossa dignidade.

O dia Internacional da Mulher marca uma fogueira, uma fábrica têxtil, onde as funcionárias queimaram em um incêndio, porque o responsável pela fábrica trancara as portas no horário de expediente.

Então quero dar os Parabéns a todas as mulheres e homens que lutaram e lutam por dignidade.

IMG_0514 (2)

Synnöve Dahlström Hilkner É artista visual, cartunista e ilustradora. Nasceu na Finlândia e mora no Brasil desde pequena. Formada em Comunicação Social/Publicidade e Propaganda pela PUCC. Desde 1992, atua nas áreas de marketing e comunicação, tendo trabalhado também como tradutora e professora de inglês. Participa de exposições individuais e coletivas, como artista e curadora, além de salões de humor, especialmente o Salão de Humor de Piracicaba, também faz ilustrações para livros. É do signo de Touro, no horóscopo chinês é do signo do Coelho e não acredita em horóscopo.  

 

 

Posted on Leave a comment

Livremente iguais

shutterstock_148152347 (1) sapatilha

Pelo menos duas vezes na semana costumo passear com meu cachorro pelo bairro e eu não consigo me lembrar, até hoje, uma vez em que eu não tenha me sentido intimidada ou até mesmo agredida por palavras, olhares ou gestos de algum homem.

Sou casada e me mudei algumas vezes de cidade para ficar mais próxima do meu marido e não foram poucas as vezes em que eu tive que escutar, inclusive da minha família, que a vida era assim mesmo, a mulher tinha que acompanhar o marido e que eu nem podia imaginar a possibilidade de deixá-lo vivendo sozinho, pois casamento onde a mulher não cuida do marido, não dá certo. Em meu ciclo de amizades, tanto homens como mulheres vivem reproduzindo discursos machistas, que de alguma maneira desequilibram o gênero, diminuem a mulher, baseados em uma cultura de preconceito e desigualdade. “Nossa, mas você trabalha até tarde, quem faz a janta pra vocês?” , ” Você vai viajar e vai largar o seu marido sozinho uma semana, é muito tempo”, “Não adianta, você fez uma escolha. Agora terá que pensar na sua família e não mais na sua profissão.” E além disso tudo, imaginem o que falaram quando eu resolvi que não colocaria o sobrenome do meu marido ao final do meu nome quando nos casamos…

Todos esses exemplos podem até ser pequenos se comparados a casos de violência contra a mulher, casos explícitos de desigualdade de gênero, ofensivos, esmagadores, silenciosos e dolorosos, mas não deixam de ser casos que muitas mulheres já vivenciaram ou vivenciarão pelo menos alguma vez na vida.

Esses dias uma colega postou no facebook que um menino da escola de sua filha, que tem 5 anos, a havia ameaçado de apanhar porque ela era menina e então a pequena respondeu, eu sou menina mas eu sou forte, pode vir que eu sei me defender! Então a mãe escreveu: pais, ensinem seus filhos a respeitarem o próximo e ensinem suas filhas a serem empoderadas! Eu fiquei pensando sobre essa palavra PODER e o quanto ela exerce domínio sobre as relações. Sou bailarina e professora de dança e a minha profissão me faz refletir todos os dias sobre questões sócio -culturais. A dança me fez enfrentar muitos preconceitos e me ensina cada vez mais sobre a igualdade, sobre não precisar ter mais poder sobre alguém para ser respeitada, sobre não precisar me vestir dessa ou daquela maneira para caminhar em público sem me sentir intimidada, sobre não julgar o diferente, sobre não precisar abafar sentimentos, sensações e desejos para atender às necessidades de um outro alguém, sobre ser livre, sobre movimento, fluxo, sobre o feminino, o masculino, o homem, a mulher, o ser humano, o corpo! Não gosto de radicalismo, mas acho que o grito da mulher precisa ser ouvido, é uma inquietude que nos acompanha de geração em geração e mesmo que hoje haja mais espaço para nos manifestarmos sinto que ainda tememos a fala, a escrita, a expressão… Ainda há repressão, ainda há preconceito, ainda há muito o que dizer.

Se eu pudesse dançar esse texto eu acho que eu me despiria e ficaria girando de olhos abertos para o mundo, na esperança de que alguém pudesse compreender a magnitude de um ser sem impregnações, sem casca, sem sexo, livre e igual a todos os outros: humano!

11822734_960310277345681_151386798036692721_n Bruna Bellinazzi

Bruna Bellinazzi Peres – bailarina, formada em Dança, mestre em Artes Cênicas e doutoranda na mesma área, realiza pesquisas sobre processos de criação em dança. Atua também como professora de ballet clássico e dança contemporânea para crianças e adultos.