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Uma vez vomitei no mundo

Uma vez eu vomitei um mundo. O mundo era meu e de mais ninguém. Eu que o fiz e não tinha vergonha. Do fundo de meu amago, a minha garganta, minha boca e então posto para fora. E que sujeira esse mundo fez. Ele fedia. Ele era estranho. Ele era feito de mim e por mim, a minha imagem e semelhança. Assim como eu era feito dele. Olhei para baixo e vi meu mundo se espalhando pelo azulejo do chão do banheiro. Era tão lindo e tão meu. Quantos podem dizer o mesmo de seus mundos? Eu o olhava e o invejava pois meu mundo era o que eu não conseguia ser. Livre. Pois enquanto meu mundo estava ali, se espalhando e se misturando ao pano de chão e as frestas entre o chão, eu estava preso ao que eu era e a o que eu havia feito para minha vida. Eu que construí essa prisão particular em que estava preso. Mas quantos de nós não fazem ou não fizeram o mesmo em suas vidas? Eu olhei para meu mundo e imaginei o que eles pensavam sobre mim. Será que no meu mundo haviam “Eles” há quem pudessem pensar? Ou meu mundo era vazio? Será que no meu mundo eles pensavam em mim? Será que sabiam da onde vinham? As vezes podiam não fazer ideia de que o mundo deles iria acabar em instantes indo pelo ralo. Eu não tapei o ralo. Será que sequer chegaram a pensar que toda sua existência nada mais era do que o resto que meu corpo não quis mais? Ou seriam como nós, arrogantes como somos de que tudo o que existe é por nós e para nós? Senti raiva de meu mundo. Quem eram eles para se achar tão bons ao ponto de se achar melhor que eu!? Desgraçados! Eu gritei e joguei água e limpei tudo! O mundo deles acabou. Se não era mais meu mundo ao sair de mim, não seria de mais ninguém! Mas será que eu havia sido injusto com eles? Será que eles não mereciam uma segunda chance? Talvez. Melhor pensar melhor na próxima. Irei vomitar outro mundo amanhã e colocarei eles em um balde dessa vez. E se o mundo for pelo ralo dessa vez, será culpa deles e não minha.

Igor Mota – Belo Urbano, um garoto nascido em 1995, aluno de Filosofia na Puc Campinas do segundo ano. Jovem de corpo, mas velho na alma, gasta grande parte de seu tempo mais lendo do que qualquer outra coisa. Do signo de Gêmeos e ascendente em Aquário, uma péssima combinação (se é que isso importa).