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Vivendo dia após dia – São Paulo/SP/Brasil 21.03.2020

Aos que não me conhecem sou um paciente bariátrico,  com baixa imunidade e estou isolado devido ao Covid 19.  Já pesei 216 kilos, fiz a bariátrica em abril de 2017, perdi 103 kilos e recuperei apenas 1. 

Tenho dificuldade de ambular, utilizo duas muletas canadenses, tenho 4 hérnias de disco na região lombar e torácica.  Estou afastado do trabalho há três anos. 

Sou síndico em um condomínio na Vila Clementino com duas torres e 80 apartamentos. 

Atualmente estou isolado, sem condições de sair de casa, nem para visitar minha mãe em Campinas que também está isolada com seus 92 anos de idade .

Sou casado há 33 anos com a Claudia Lavras, não tivemos filhos. Há mais de três  anos ela vem cuidando de cada passo meu. De vez em quando ficamos tristes e um pouco deprimidos, pois só consigo me alimentar em torno de 130 gramas por refeição.  Isso acarreta uma tristeza em minha face e uma tristeza na Claudia por ver eu praticamente definhando diariamente.  

Minha reposição de proteínas é bem complicada. Utilizo medicações diárias para dor, além de um adesivo de opioide nas costas.  

Com o isolamento começamos a fazer diversos pratos e congelar , pois não sabemos o que pode acontecer amanhã.  

Tivemos a ideia de fazer pães caseiros para suprir a falta do pão francês,  pois temos ficado em casa. Os pães ficaram uma delícia,  demos um para os porteiros do prédio com um pouco de manteiga, eles adoraram . 

Então divulguei essa receita com fotos para meus amigos e recebi muitas outras receitas, de outros tipos de pães.  

Fazer pão é algo muito legal , normalmente colocamos amor na massa e quando vemos ele pronto é uma grande satisfação.

Aos que tem filhos podem envolver eles nessa fabricação. Isso gera sentimentos de solidariedade e compaixão.

Outra coisa legal é identificar no seu condomínio quais são os idosos, que não tem apoio familiar e colocar moradores jovens para ajudar na reposição de suprimentos tais como: alimentos, produtos de limpeza e remédios.  Esse gesto gera um sentimento de gratidão para ambos os lados e melhora muito a convivência nos prédios.  

E assim vamos vivendo dia após dia,  tentando ajudar ao próximo e fazer um mundo com mais respeito e cidadania . 

Entendo que muitas coisas ruins ainda podem vir, pois o mundo está “parando ” com as atividades financeiras. 

Por isso procurem não gastar com supérfluos. Não sabemos o que acontecerá amanhã. 

Silvio Lavras – Belo Urbano, administrador de empresas, trabalha na Editora Abril há mais de 20 anos (mas por causa da obesidade está afastado do trabalho), palmeirense, adora viajar. Antes da redução bariatrica gostava de pizzas e churrascos, hoje se alimenta de tudo, porém em quantidade mínima. Casado há 33 anos com Claudia Lavras, não tem filhos.
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Sensações em um confinamento – Campinas/SP/Brasil 20.03.2020

Ontem eu estava muito animada.

Ouvi músicas, cantei, dancei, interagi com família e amigos pelas redes sociais e até escrevi um texto sob encomenda. Pensei que passaria rápido.

Mas hoje já faltou a vontade de levantar da cama. Horário descontrolou inteiro. Durmo às 21h, acordo meia noite, durmo novamente às 5h30 e às 8h já estou procurando o que fazer. Molhei as plantas, lavei o cabelo mas preferi nem ver meu saldo bancário para não me desesperar. Tem conta pra pagar. Mas hoje esquece, não vou nem olhar!

Escuto barulho de carros, motos e bate aquela saudade de passear com meu cachorro e com os filhos na pracinha.

Chorei, chorei de soluçar. Por ver como viramos reféns com tanta facilidade. Reféns de governo, de vírus, de ideologias, de preconceitos, de pessoas, do dinheiro, da nossa mente e também das nossas fraquezas.

Onde está a culpa do ser humano por tudo isso? Mas por que sempre temos que achar culpados? Pode ser destino, pode ser profecia, pode ser oportunidade, pode ser calamidade.

Para mim uma coisa é certa: não é por acaso que estamos vivendo a pandemia na quaresma.

Muitos planos rapidamente foram mudados. Sussurrou no meu coração a voz doce de uma bela menina dos olhos escuros e pele branquinha suplicando por paz. – Minha filha, nem tudo depende de mim, mas vou tentar. E ela dizia: – Mamãe, alguém tem que começar.

Vivamos essa quaresma e pandemia tentando olhar ao menos um ponto positivo. As grandes oportunidades que só agora a vida nos tráz.

Angela Carolina PaceBela Urbana, publicitária, mãe, tem como hobby estudar Leis. Possui preferência por filmes de tribunais de todas as áreas jurídicas.
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Ressignificar – Conoravírus – Campinas/SP/Brasil 19.03.2020

De repente parei pra pensar e me deparei com algo inusitado… A força e o poder do medo!

Foram algumas notícias incertas, alguns dias de algo mais concreto, e pronto! O caos se instaurou, o pânico tomou conta e a tragédia aconteceu.

Fico me perguntando o porquê de alguns seres humanos terem tanto medo de adoecer e morrer, mas não se importam com o sofrimento e morte alheios.

Ao mesmo tempo, tantos outros são dedicados, disponíveis, capazes de uma doação íntegra, com atos ininterruptos de dedicação. E aí fica a questão… O que determina esse comportamento? O que é realmente transformador e faz com que atitudes estúpidas de uns sejam inversamente proporcionais à grandeza da empatia e entrega de outros?

Neste caso agora, o tal “invisível a olho nu”, que tanto estrago tem causado, imagino que mudou comportamentos porque vem apavorando a sensação de finitude gerada.

A vulnerabilidade escondida atrás dos muros da soberba, da ambição, do poder, de repente vem à tona e transforma todos igualmente em seres frágeis.

A capacidade de afetar um mundo gerou um sentimento igualitário… o pânico! E através desse medo incontrolável, a busca por sobrevivência se tornou o denominador comum.

Mas as evidências ainda mostram as diferenças. O sistema deixa de amparar uma classe, isso é injusto! E mortes continuam a acontecer… Os motivos são diversos, tão graves quanto esse. E o que efetivamente está sendo feito?

Também passada a pandemia, algo irá mudar?

Os olhares serão mais generosos? A mão poderá ser estendida para tirar alguém do chão? O abraço será um gesto que salva vidas? Poderemos nos aproximar e nos sentirmos seguros, amparados?

Será utopia?

Mais que isso, é o desejo genuíno de que ocorram mudanças. Mudanças de almas…

Passou da hora de ressignificarmos os olhares, os apertos de mãos, os abraços, os beijos, os valores, as prioridades… enfim, a vida!

Simara Bussiol Manfrinatti Bittar – Bela Urbana, pedagoga, revisora, escritora e conselheira de direitos humanos. Ama o universo da leitura e escrita. Comida japonesa faz parte dos seus melhores momentos gastronômicos. Aventuras nas alturas são as suas preferidas, mas o melhor são as boas risadas com os filhos, família e amigos.
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Coronavírus na Alemanha dia 18.03.2020

Por onde começar e quando parar? A enxurrada de notícias sobre Corona é quase infinita. Tudo muda todos os dias. Uma coisa é certa: o número de infecções na Alemanha continua a aumentar rapidamente. Ainda não sentimos os efeitos do fechamento de lojas, bares e estabelecimentos públicos, fechamento da vida pública, por assim dizer.

Os políticos estão tentando desesperadamente agir e não apenas reagir. Só ficará claro se o plano será bem-sucedido caso o número de novas infecções comece a diminuir. Precisamos esperar uns 15 dias até termos alguma noção. Aguardamos ansiosos grudados em nossos celulares.

Hoje a Alemanha tem mais de 10.000 infecções confirmadas e sabe-se lá quantas mais escondidas em cidadãos assintomáticos.

Enquanto isso, todos os políticos aqui estão se movimentando.

A chanceler alemã Angela Merkel falou à população na sexta-feira passada que caso não sejam respeitadas  as medidas impostas 70% da população será infectada pelo COVID-19.

A figura política aqui com as ideias mais progressistas (e coerentes) é o primeiro ministro da Baviera, Markus Söder. Sua sugestão de que os jogadores da Bundesliga (Brasileirão daqui) deveriam renunciar aos salários para ajudar os clubes, deixou alguns dirigentes ofegantes. Mas faz sentido certo? Jogadores milionários sem trabalhar…

Mas é fato que muitos clubes de futebol daqui já estão negociando a renúncia aos salários.

O governo alemão também apresentou um  pacote de suporte econômico para socorro às empresas da ordem 1/2 trilhão de euros. É em momentos como este que sinto a potência de uma economia de primeiro mundo.

Alemão é um povo disciplinado e organizado, até para sair de férias . Todos tinham suas férias de Páscoa minimamente organizadas mas… todo mundo cancelou.

No momento, viajar para o exterior é proibido e está fortemente recomendado não tirar férias e transitar pelo país sem necessidade. 

Enquanto isso todos cortando a grama do jardim ou dando voltas no quarteirão, aproveitando o primeiro dia ensolarado da quase primavera.

Fique seguro meu Brasil, não brinquem com este vírus. Nada de praias, missas, bares e baladas.

Protejam uns aos outros.

Silvia Lima – Bela Urbana, publicitária, leonina, mãe do Gabriel e Lucas. Atua na área de moda internacional com foco em sustentabilidade. Mora em Stuttgart, adora uma viagem, só ou bem acompanhada, regada a muito vinho. Acredita no casamento, desde que não seja sempre com o mesmo marido, já que está no terceiro, que foi coletando mundo afora! É uma das sócias da Kbsa Inovação Responsável, que ajuda empresas de moda brasileiras a atuarem no mercado internacional por meio da sustentabilidade. www.kbsa.com.br
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ALGORITMO

Máquinas que me ouvem
Parecem frias, mas enfim
Máquinas interagem assim

São assim programadas
Manipuladas, sem vida
E que cuidam de mim

É verdade, fui isolado
Algoritmo programado
Por um capitalista teen

Vende minha alma
História, paz e calma
Numa bolsa em Pequim

Distraído, peço comida,
Carro, sexo, pet, post
Vida, drogas, Matrix, fim.

Crido Santos – Belo urbano, designer e professor. Acredita que o saber e o sorriso são como um mel mágico que se multiplica ao se dividir, que adoça os sentidos e a vida. Adora a liberdade, a amizade, a gentileza, as viagens, os sabores, a música e o novo. Autor do blog Os Piores Poemas do Mundo e co-autor do livro O Corrosivo Coletivo.
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Foi perfeito

Não sei se foi o tempo nublado, a chuva fina que caía, os armários brancos e a pedra preta na cozinha ou o vento fresquinho que soprava através da cortina…. O fato é que segunda passada fui fazer um café à tarde e, de repente, por um segundo, uma fração de segundo, eu não estava aqui. Eu estava lá, no apartamento de São Paulo, na João Julião.

O tempo parou e me ofereceu seu ombro. 

Finalmente pude descansar meu coração, meus olhos, no exato momento que repousei minha cabeça em seu ombro.

Finalmente as sensações de paz, de aconchego, segurança e felicidade há muito desconhecidos. Finalmente.

Apenas uma centelha divina que o tempo me ofertou. Apenas uma saudade matada de forma deliciosa.

E essa sensação ainda me acompanha, quase uma semana depois – não posso e não quero perdê-la. 

Que abraço mais amigo que o tempo me deu!

Naquele microssegundo, minha mãe e minha tia estavam na sala, fazendo os bordados de ponto cruz, falando amenidades e esperando o meu café…

Voltei para a sala, já neste tempo e neste lugar – meu lugar – e me deliciei com o amor imenso que se apoderou de mim.

A única testemunha foi a Nina. Quietinha, mas tenho certeza que seu coraçãozinho também entendeu aquela magia que aconteceu.

Nada deveria ser acrescentado ou tirado daquela centelha divina. Foi perfeito.

E, como num delicioso passe de mágica, à noite sonhei que estava na cozinha fazendo um bolo com a mamãe.

Talvez porque tenho sentido uma vontade grande de fazer o “bolo de aniversário” que, mesmo fora de datas específicas, às vezes fazíamos. Com camadas de recheio, leite condensado cozido, creme holandês com morangos, glacê de antigamente, chocolate branco.

O fato é que este ombro tão carinhosamente me ofertado, deixou saudades. Mas saudade da boa, daquela que provoca um leve sorriso e brilho nos olhos.

Saudade da boa! 

Ruth Leekning – Bela Urbana, enfermeira alegremente aposentada, apaixonada por sons e sensações que dão paz e que ama cozinhar.  Acredita que amor e física quântica combinados são a resposta para a vida plena. Louca pela Nina  (na foto, já com 15 anos )