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coVIDA19

Muitos chamam de pandemia, eu chamo de limpeza. O planeta vomitando, eliminando tudo de ruim da face da Terra.

Um vírus desgraçado, mal caráter, inimigo, ignorante, sem escrúpulos, imundo, nojento, estúpido, sem noção, ruim mesmo, que estraga, polui, arrebenta, infesta, destrói tudo que vê pela frente.

Chegou a hora da limpeza!
Sobrarão poucos, 1/3, 1/4, 1/5 talvez?

Apenas as boas pessoas ficarão nessa nova Terra, contemplando o novo mar, os novos rios, sentindo a leveza do novo ar, tudo limpo de novo…

O planeta se curando do seu maior mal, o “Vírus Humano”! Simples assim…

Mauro Soares – Belo Urbano, publicitário, diretor de arte e criação, ilustrador, fotógrafo, artista plástico e pontepretano. Ou apenas um artista há mais de 50 anos.
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ISOLAMENTO

Temos uma  grande contradição,

o problema nunca foi a causa pequena,

focamos nas causas de maior dimensão,

mas o pequeno nos levou à quarentena.

Quase perdemos o nosso rumo,

igual barco à deriva,

como fica o consumo,

na restrição  à  nossa  vida?

Como tudo tem várias perspectivas,

começam logo as iniciativas,

mãe, pai, filho e filha,

juntos no almoço de família.

Que boa chance para nos unir,

mas sempre tem a diferença,

vi que a briga não compensa,

pois não tem para onde fugir.

A casa em ordem é rotina,

se lava até poltrona  e cortina,

mas dá vontade de bater “asa”,

com todo esse  trabalho  de uma casa.

Quem já morou num apartamento,

conhece  a brisa do vento,

 mas como alivia o “stress”,

um palmo de terra para os pés.

Na casa se vê mais defeitos,

pedreiros  deram aqueles  jeitos,

 até  casais apontam (entre si) manias,

que antes  sumiam na dinâmica dos dias.

Olhando todos os dias pela janela,

vemos  que a natureza está mais bela,

mas ainda não vamos  pra galera,

assim nos conformamos  sozinhos,

pois assim também vivem os vizinhos.

Acostumados a pisar fundo,

agora o limite é a esquina,

diferencial será a disciplina,

para continuarmos bem neste mundo.

Rainer Friedrich Hinnebusch – Belo Urbano, professor aposentado de Língua Alemã. Gosta de harmonia, inclusive na língua falada.
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Amor incondicional

No meio de uma pandemia, um adeus. Dolorido, chorado, de coração quebrado.

Minha Nina. Minha doce cachorrinha de quase 17 anos, uma idosa, um serzinho do bem, da paz, dorminhoca, já com dificuldade de se levantar, um pouco de falta de equilíbrio, um olho já com catarata. Um amor incondicional.  Humilde em seus pedidos . Companheira. Precisava de ajuda e de cuidados. Me ensinou tanto!  Deixou tanto em mim e levou grande parte do meu coração. 

Sou enfermeira aposentada, durante toda minha vida profissional trabalhei em hospital. Cuidando.  Ajudando.

O que não costumo comentar,  é que incontáveis vezes sofri, chorei escondido, orei em silêncio por aqueles que de mim precisavam.

Estudei quando não sabia,  corri atrás dos médicos para me ajudar nas soluções. Ensinei o quanto pude tudo que aprendi.

Mas havia conhecimento. Ações. 

Hoje não. Hoje penso nos meus colegas de profissão e rezo para que se faça a luz. 

Não há conhecimento suficiente para se enfrentar essa batalha com um mínimo de segurança na tomada de decisões.  

Angústia. Esse sentimento tão difícil fazendo parte de cada minuto no dia a dia dos profissionais da saúde.  Não há como não dizer: “Meu Deus!”

Respirar, aliviar, como? 

Há tantas “Ninas” todos os dias nos hospitais.  Devem existir tantos corações quebrados!  Mas com voz suave, riso esboçado e mãos carinhosas.

Meu Deus!  

Ruth Leekning – Bela Urbana, enfermeira alegremente aposentada, apaixonada por sons e sensações que dão paz e que ama cozinhar.  Acredita que amor e física quântica combinados são a resposta para a vida plena. Louca pela Nina  (na foto, já com 15 anos)
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O Corona Aqui e Agora – Suíça 2020

Hoje, 14 de Abril de 2020, faz um mês que não saímos de casa. Aqui na Suíça, não é proibido sair e também não é preciso autorização para tal, mas a situação lá fora faz com que fiquemos tranquilos e solidários com quem precisa sair para trabalhar e para com as pessoas mais vulneráveis. E assim é com a população em geral aqui, provavelmente, o resultado natural da responsabilidade e disciplina enraizadas neste país. 

Enquanto isso, muitos procuram quem são os culpados, outros fazem previsões para cenários futuros diversos, outros negam a realidade como uma forma de proteção e outros ainda tentam politizar ao máximo a situação, como é o caso no Brasil. Porém, todos estão tendo que, em algum momento, olhar para si mesmo. O olhar passa a ser mais interior que exterior. Antes, não havia muito tempo para isto.

Se o vírus surgiu no mundo animal, no laboratório, através da 5G, ou na própria Terra, aí está ele, com seu poder invisível, sem limites geográficos, étnicos, culturais, temporais ou espirituais. Porém, todos têm que colaborar segundo a coletividade, de um dia para o outro acabou a preponderância do individualismo. A solidariedade e o altruísmo passaram em primeiro plano.

Ele chegou sem pedir licença e exigiu que tudo fosse redimensionado: o tempo, o consumo, a economia, a alimentação, as viagens, as relações entre as pessoas, as famílias e as prioridades.

Analisando as suas consequências físicas no corpo humano, ele atinge principalmente os pulmões, órgão que, na medicina chinesa, está ligado à tristeza. Assim, podemos refletir, como estava a humanidade até então e a própria condição dos nossos recursos naturais.

Observando os centros de energia do corpo, conhecidos como Chakras, o pulmão é um dos órgãos ligados ao Chakra do Coração. Chakra ligado ao sistema respiratório, lembrando que a primeiro e a última coisa que fazemos, enquanto estamos visitando este planeta, é inspirar e expirar, respectivamente. Somos submetidos a pensar que não depende de nós a capacidade de inspirar e expirar e, por fim, nos perguntamos quantas vezes agradecemos o respiro que nos é dado e permitido para estarmos aqui e agora. 

Além disso, há outro órgão ligado à este Chakra, como o próprio nome diz, o coração, que representa o amor incondicional, o perdão, a compaixão. Mais uma vez refletimos, como andavam estes sentimentos na nossa sociedade, quanta escassez de tudo isso!

No nível dos sentidos, o Chakra do Coração está ligado aos braços e mãos, ou seja, o Tato e, de repente, não podemos abraçar…temos que manter dois metros de distância uns dos outros. Quando queremos bem e gostamos de alguém, naturalmente, queremos abraçar a pessoa, pois os corações se aproximam, acolhemos com o coração. Pensamos quantas oportunidades de nos abraçarmos que deixamos passar.

Quanto à seu nome e aparência, Corona, ou Coroa para nós. Mais uma vez, lembramos dos centros de energia do corpo e do Chakra Coronário, no topo da cabeça, ligado à nossa espiritualidade e transcendência. Nossa capacidade de despertarmos através do corpo fisico. Parece que é agora ou nunca…

Mais do que nunca, somos obrigados a aprender a estar no estado de consciência plena – conhecido como ‘mindfulness’ – estar no aqui e agora. O ser humano é escravo do seu sofrimento por estar nas lembranças do passado ou nas incertezas do futuro, esquecendo-se que a vida acontece no presente. Agora, sem muita opção de escolha, aprendemos a estar no momento presente, aqui e agora.

E é neste cenário que, virtualmente, eu e meus alunos, que em certos momentos passam a ser também meus professores, compreendemos o verdadeiro sentido da prática do Yoga. A palavra Yoga vem do sânscrito “Yuj” e quer dizer União, colocar junto, aproximar. Unir o corpo fisico e mental, o material e o espiritual, a energia masculina e feminina, em um equilíbrio perfeito. Mesmo através da distância, a lição continua sendo somos todos Um.

Viviane Hilkner – Bela Urbana, publicitária (PUCC) e Profissional de Marketing (INPG). Atuou na área, no Brasil, em agencias de publicidade e meios de comunicação, e, na Itália, em multinacionais no Trade Marketing e Brand Development & Licensing. Morando na Suiça, mudou seu estilo de vida e apaixonou-se pela prática de Hatha Yoga. Ansiando compartilhar esta prática e sabedoria milenares, forrnou-se professora.Atualmente, ensina no Centre Kaizen e no Club de Yoga da Associação de Esportes e Lazer da Nestlé.Organiza Workshops e Retiros de Yoga na Suíça e no exterior, principalmente, na Grécia.Sua profissão tornou-se hobby e seu hobby, sua profissão.




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Dona Alba, Frederico e Odorico

Gente, aqui na rua de casa já estávamos todos aguardando o falecimento da Dona Alba. Não era idosa ainda, beirava os 59 anos, mas já tava bem doentinha, tadinha. Tinha diabetes, pressão alta, trombose, diverticulite, gastrite, teve pancreatite, tendinite, bursite, frescurite, reumatismo, dor de dente, derrame, enfarte; fumava dois maços de cigarros por dia, era obesa, além de gostar de uma pinguinha. Bateu com as botas ontem, coitada. Nem fizeram autópsia, morreu dormindo e feliz. Foi pro céu, que Deus a tenha. Família foi pegar atestado de óbito e constava na causa mortis: Covid 19.
Todo mundo achou estranho, afinal estavam todos engaiolados há mais de 20 dias…vizinhos levando marmita… Mas acabaram ficando felizes. Na capa do jornal da pequena cidadezinha, pelo menos Dona Alba foi homenageada. Saiu até foto dela com os gatos! Tudo bem que morreu de outros “probleminhas”, já tava na sua hora, mas se não fosse o tal do “coronga”, não teria saído na capa do jornal. E esse era esse seu maior sonho: sair no jornal com foto dos seus bichanos, Frederico e Odorico.

Angela Carolina Pace – Bela Urbana, publicitária, mãe, tem como hobby estudar Leis. Possui preferência por filmes de tribunais de todas as áreas jurídicas.

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A MUDANÇA NA LINHA DE FRENTE

Acabei de terminar o turno na ala Covid-19. Olho-me no espelho: tenho um C no nariz pela máscara N95 que uso o tempo todo. Marcas profundas no rosto deixadas pelos elásticos; meus olhos parecem cansados, meu cabelo está úmido de suor. Não sou mais médico e ser humano – agora sou apenas médico, soldado na guerra contra o vírus.

Antes de começar o meu turno, tenho que vestir o equipamento de proteção – é quando eu sinto a adrenalina: você está na sala com seus colegas, tenta contar uma piada, mas nossos olhos refletem nossa preocupação em nos proteger adequadamente enquanto realizamos todas as etapas do processo de vestir: luvas, avental , segundo par de luvas, óculos, gorro, máscara, viseira, sapatos, capas para sapatos. Me torno uma pessoa irreconhecível! Ainda preciso lidar com más notícias: outros profissionais da área da saúde morreram hoje em decorrência do COVID-19. Soldados mortos em batalha…..

Entrar na enfermaria é como entrar em uma bolha: todos os sons são abafados pelo equipamento pesado. Nos primeiros 10 a 15 minutos, você não vê nada, porque sua respiração embaça a viseira até que ela se adapte à temperatura e então você começa a ver algo entre as gotículas de condensação. Você entra, esperando que as capas dos sapatos não se soltem como de costume, e o turno comece.

Você segue as instruções de seus colegas exaustos no turno anterior: organizamos as tarefas e começamos a visitar os pacientes: o paciente jovem que você estava prestes a intubar no outro dia está melhorando, o idoso está morrendo, a freira ainda está brigando e a enfermeira do hospital não está indo bem … Você vê rostos que não conhece e outros que conhece muito bem, rostos de pessoas que trabalharam em sua ala até apenas algumas semanas atrás.

É incrível a rapidez com que tudo mudou. Sua rotina de pesquisa e clínica parecem coisas de um passado recente que não voltará tão cedo. As horas passam e seu nariz dói mais e mais, a máscara corta sua pele e você mal pode esperar para tirá-la e finalmente respirar. Respirar. É o que todos nós queremos hoje em dia, médicos e pacientes, enfermeiros e profissionais de saúde. Todos nós. Nós queremos ar.

Finalmente, chega o fim do seu turno, 12 horas cada vez mais longas e mais intermináveis ​​de sede, fome e necessidade de se aliviar, coisas que você não pode fazer quando está de plantão: beber, comer ou ir ao banheiro significa tirar o equipamento de proteção. Muito arriscado. E muito caro. O equipamento de proteção individual (EPI) é precioso, e retirá-lo significa ter que substituí-lo, reduzindo a quantidade disponível para seus colegas. Você precisa ser econômico, resistir e usar uma fralda que você espera que não precise usar, porque sua dignidade e seu estado psicológico estão comprometidos o suficiente, pelo trabalho que você está fazendo, pelo olhar nos rostos dos pacientes , as palavras de seus parentes ou quando você os chama para atualizá-los de acordo com as condições de seus entes queridos. Alguns pedem que você deseje um feliz dia ao pai, outros que digam à mãe que a amam e lhe dão carinho … e você faz o que eles pedem, tentando esconder de seus colegas as lágrimas nos seus olhos. Aquele paciente que estava mal falece nas suas mãos, independentemente dos esforços sobre-humano de toda a equipe. Sangue, suor e lágrimas. Bem isso mesmo!

O fim do turno chega, reforços chegam, outros colegas assumem. Você lhes dá instruções, o que fazer, o que não fazer. Você pode ir para casa, mas primeiro precisa tirar as proteções e deve ter cuidado – cuidado com cada movimento que fizer. A remoção do equipamento de proteção é outro ritual que deve ser realizado com calma, porque tudo o que você está vestindo está contaminado e não deve entrar em contato com a sua pele.Você está cansado e só quer fugir, mas deve fazer um último esforço, concentrar-se em cada movimento que fizer para remover todas as proteções. Cada movimento tem que ser lento. Você pode finalmente tirar a máscara e, quando a tira, sente uma dor lancinante pelos cortes sangrentos que ela fez no nariz. A fita era inútil – não impedia que seu nariz sangrasse ou doesse. Mas pelo menos você é livre. Você veste um uniforme e vai para o vestiário.

Você se veste, sai do hospital e respira fundo. Entre no carro. Quando você chega em casa, precisa ficar vigilante novamente. A entrada já está organizada como a área de roupas do hospital, porque você não pode arriscar contaminar a sua casa. Você se despe, coloca tudo em uma bolsa e toma um banho quente rapidamente: o vírus pode sobreviver até em seu cabelo, então você precisa se lavar bem. Muito bem! Somente depois deste ritual, posso enfim ficar ao lado de minha família. Ufa!

Acabou. A mudança acabou, a luta está apenas começando.

Dedicado á todos os profissionais da saúde.


Rodrigo Afonso Sardenberg – Belo Urbano, cirurgião torácico em São Paulo, corintiano, gosta de viajar, extremamente educado, um gentleman.
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Na vida uma trena é mais útil que uma régua

Há alguns anos eu recebi um presente de uma plataforma online: um livro (virtual) e a chance de presentear mais duas pessoas com o mesmo link de leitura.
O livro diz sobre o sagrado feminino, eu já li e acho a história digna de muitas releituras e estudos.
Fiquei feliz demais e na hora já pensei nas duas mulheres, amigas, que eu gostaria de presentear. Uma delas é minha contemporânea de maternidade, um exemplo de força e determinação e a outra uma mulher muito sábia que passava por um momento profissional difícil e vivia o ostracismo mais dolorido que eu já acompanhei.
Encaminhei o link com o coração pleno de certezas e liguei para comunicá-las em viva voz que eram minhas escolhas.
A primeira, Beatrice, recebeu como se fosse uma joia. Disse que devoraria palavra a palavra do que ela chamou de aventura da primeira leitura totalmente virtual. Conversamos e rimos por alguns longos minutos, num papo bom e cheio de gratidão.
A segunda, Marta, me deixou atônita com o telefone no ouvido e um nó no peito. Ela respondeu seca que não tinha tempo para esse tipo de leitura, que estava numa fase de cuidar do espírito e se detinha à literatura religiosa que, de acordo com suas palavras, acrescentavam luz à sua formação moral e lhe permitiam a evolução. Não digo que foi grosseira, mas, soberba. Agradeceu e eu me desculpei, me sentindo a inconveniente que leva chocolates para diabéticos.
Naquele instante dois pensamentos me cutucavam: joguei fora uma oportunidade, já que uma vez enviado o link, era irrevogável; e, como alguém que eu julgava inteligente, se prestava a esse tipo de limitação?
Por dias amarguei minha indignação.
Até que me lembrei de uma frase do Umberto Eco que diz “nem todas as verdades são para todos os ouvidos” e passei a olhar Marta e sua busca por evolução com outro ânimo.
A vida dela estava de ponta cabeça, os sonhos enterrados, a força minada, e a religião era o seu bote salva-vidas no meio do oceano.
Não tinha como ela desviar sua atenção para brisa ou para o céu… Sobreviver exige esforço total.
Assim, eu aprendi sobre o mundo possível.
Cada um tem uma trena do (seu) possível. Trena e não régua, porque a gente avalia quando esticar ou recolher à medida que vive. É maleável, programável e se vale da nossa disposição e autonomia.
Essa metáfora me confortou e abriu espaço em mim para continuar em contato com a Marta, sem ressentimentos.
Por que contar essa história em plena pandemia?
Porque eu me dei conta que estamos vivendo o nosso possível.

Vejo as pessoas discutindo sobre o que é melhor pensando apenas nelas e sensação do conflito entre a régua e a trena volta a me cutucar.
Esse drama de muitas vezes quando alguém defende algo que não concordamos nos fazermos reféns das nossas convicções (ou daquelas que nos parecem mais seguras), mas esquecermos de reconhecer as
impossibilidades que nos cercam.
Dentro das nossas contradições, queremos paz e fechamos os olhos, crentes de que estamos envolvidos e esclarecidos.
Deixamos de vislumbrar o que mostram outros pontos de vista de considerar o que vem a ser a medida do possível para cada um.

Dany Cais – Bela Urbana, fonoaudióloga por formação, comunicóloga por vocação e gentóloga por paixão. Colecionadora de histórias, experimenta a vida cultivando hábitos simples, flores e amigos. 
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Repouso. Pausa. Cura.

“O mundo vai girando cada vez mais veloz,
A gente espera do mundo e o mundo espera de nós,
Um pouco mais de paciência”
Lenine

Vivemos na era da ansiedade crônica, tempos frenéticos, movimento acelerado, avalanche de informações e de ações.

Perdemos a barreira entre o profissional e o pessoal, entre horário de trabalho e horário de ócio, entre público e privado.

Perdemos a noção de que vivemos em um organismo vivo, com recursos limitados, que não comporta a satisfação dos desejos por consumo e experiências, que criamos a cada dia.

A Terra pede resguardo. Repouso. Pausa. Cura.

Estamos vivendo um momento ímpar. 2020 ficará para a história como o tempo em que a Terra parou. E nós, como habitantes desse tempo e espaço, o que faremos com essa pausa?

Tenho achado louvável e admirável os esforços de tantas pessoas e instituições, oferecendo atividades, propostas, cursos, livros, filmes, meditações, guias e dicas de como lidar com o “confinamento”. Se te ajudam, ótimo!

Mas me fica a impressão de uma nova avalanche, da continuidade da sensação de não estar dando conta de tantas coisas disponíveis, de estar aquém, por não conseguir acompanhar tudo.

“Dentro de nós existe um universo.
Fora de nós existe apenas um mundo” – Prashant Iyengar

Dentro de nós temos as respostas para as nossas angústias, medos, dúvidas e aflições.

O mundo que vemos fora é reflexo do mundo que cultivamos dentro. Nosso olhar determina a qualidade da nossa experiência.

Isso não é teoria, não é auto ajuda, mas precisamos experimentar por nós mesmos, para perceber sua validade.

O silêncio ensina, a pausa revigora, tempo de qualidade cura.

Que possamos aproveitar esse tempo para nos cuidarmos e cuidarmos uns dos outros.

Que tenhamos fé na potência criativa, viva em cada um de nós, para encontrar soluções para todas as adversidades que iremos enfrentar.

Que lembremos a todo momento que a realidade é co-construída por todos nós, que a natureza segue farta e abundante, nos permitindo re-criar formas mais saudáveis e felizes de ser e conviver.

Etienne Janiake – Bela Urbana, psicóloga, professora de Yoga e meditação, mãe, se encanta pelo florescimento humano e pelo cultivo de relações mais lúcidas e compassivas. Nas horas vagas adora dançar e desenhar mandalas.
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A Páscoa da Pandemia

Páscoa é uma palavra hebraica que significa “libertação”. No judaísmo , a palavra Pessach  significa “passagem”. Para os judeus, a Páscoa é a celebração que relembra a libertação do povo hebreu, após quatrocentos anos, de escravidão no Egito. O vocábulo busca traduzir o ápice das pragas do Egito que atingiram as terras e os interesses do faraó do êxodo, no período de Moisés. A Páscoa Cristã representa a ressurreição de Jesus Cristo, filho de Deus.

A Páscoa em meio a pandemia nos faz refletir ainda mais sobre a vida e a morte. Não acredito que seja acaso, que seja mera coincidência. Vivemos hoje o grande despertar sobre o real significado do estar vivo. São tempos difíceis para todos, do mais rico ao mais pobre, estamos sim no mesmo barco, anda circulando um texto pelas redes sociais, que o barco de uns vai afundar e de outros, mais privilegiados não. Eis o grande aprendizado desse momento: estamos sim todos no mesmo barco chamado Universo, não fazemos nada sozinhos, perceba que estamos todos interligados. O aprendizado do isolamento nos obrigou a pensar no coletivo na marra. De nada adianta ser feliz sozinho, rico sozinho, ter sua fome saciada, ter conforto e saúde para si e para seus familiares, enquanto milhares vivem sem nada. Já havia um bom tempo que o mundo andava doente, dava sinais que agoniava, as desigualdades aflorando, a natureza gritando, pessoas emocionalmente estressadas, ansiosas e deprimidas. Foi preciso parar à força, rever sua vida, seus conceitos, seus valores. Sim, o Universo sempre busca caminhos para conduzir melhor a Humanidade, mesmo que nos pareça estranho, doloroso, traumático. Tem sido assim historicamente .

É tempo de transformação e toda transformação global se inicia internamente, individualmente. É preciso Amar o próximo sem preconceito de raça, cor, sexo,  religião ou classe social, enquanto isso não acontecer, não se entendeu o que é Ser Humano.

Quando Jesus morreu por nós na cruz e ressuscitou, quis nos mostrar há milhares de anos atrás, que não somos somente um corpo, temos Alma e é a Alma que faz a vida se tornar bela e rara.  O que é a Alma? A alma é o sentir, o ser. A palavra Alma deriva do Latim animu (ou anima), que significa o que anima. É a parte moral do ser humano. O fôlego de vida, o ser humano em si. O nosso corpo tem como substância a matéria e a nossa alma tem como substância, o espírito. O Homem é formado de corpo e alma. Alma é espírito. A morte acontece quando há a separação entre  o corpo e a Alma, mas é a Alma é que faz comunhão com Deus. 

É tempo de cuidar da Alma… A Páscoa da Pandemia…


Daniela Martini Naufel
– Bela Urbanas, advogada, mãe de 3, Davi, Vinicius e Raul, funcionária pública por profissão, fotógrafa por paixão, praticante de yoga e meditação. Ama ler, escrever, pintar e descobrir formas mais saudáveis e espiritualizadas de estar no mundo. @dani.naufel.fotografia


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Isolados e (não) desolados Harlow – Inglaterra

Hoje eu acordei sentindo que tudo está diferente e ao mesmo tempo fazem quase três semanas que estamos na mesma situação, entocados em casa.
Enquanto estou fazendo meu café, escuto pessoas gritando na rua. Achei que era briga de casal, uma mulher e um homem. Curiosa, abri a janela para descobrir de onde estava vindo essa comoção toda. Em uma casa na minha rua, uma mulher jovem na janela gritava para um homem jovem na rua. Os dois expressando um amor eterno e a saudade apertando o coração. Eles moram no mesmo bairro mas já fazem semanas que não se abraçam e para poder matar um pouquinho dessa saudade ele resolveu declarar um poema de amor para sua namorada, sem se importar com quem pudesse ouvir. Quando ele terminou a rua toda bateu palmas e ele agradeceu como se fosse um ator terminando a cena final de uma apresentação no teatro, depois de mais algumas promessas de amor para sua amada na janela, ele foi para casa, ela ficou na janela até ele virar a esquina e sumir de vista. 

Todos voltaram a fazer o que estavam fazendo. Imaginei o quanto deve ser difícil para uma paixão nova ter que esperar para poder se abraçar de novo. Não sou jovenzinha mas me lembro muito bem como é.
Moro na Inglaterra há 15 anos e tenho família aqui, na Itália e no Brasil. 
Converso por WhatsApp com várias pessoas quase todos os dias. Estranho pensar que antes do Covid-19 eu não falava nem com metade dessas pessoas, família e amigos, nem mesmo uma vez por ano. E agora faço e recebo chamadas de pessoas queridas que estavam perdidas no meu passado. 
Uma grande preocupação é com a família na Itália, minha tia-avó de 94 anos, a última de uma geração na minha família materna que passou por situações muito piores do que a que estamos passando agora. Ela sobreviveu guerras, a rua onde ela morava foi destruída por bombas, perdeu amigos nesse dia, passou fome, frio e terror, mas não perdeu seu coração e nem a vontade de viver. Ontem conversamos e ela me disse que ficar em casa com a família não parece ser esse horror que os jovens estão dizendo ser. Ela está aproveitando esse tempo, onde os netos não tem escolha mas ficar em casa com ela. Eu me senti tão pequena e boba, mas ela abriu meus olhos. Como eu admiro essa mulher! 
Fico imaginando como vai ser quando isso acabar. Será que todas as pessoas que conheço vão estar aqui? Será que meu trabalho vai estar lá? Quando saio para uma caminhada curta pelo bairro e cruzamos caminho com alguém pela calçada eu notei que se são adultos ou jovens as pessoas te olham feio. Aquela sensação que você desagradou alguém simplesmente por ter se atrevido a levar a cachorro para um rolezinho no quarteirão. Agora se são idosos, eles te olham e sorriem e perguntam se está tudo bem.
Não posso prever o futuro, mas posso imaginar que não vai ser como antes. Abraços apertados só para quem vive na mesma casa que você. Aperto de mão vai sair de moda. Sorriso amarelo e espaço pessoal de dois metros será a norma. A não ser que você use transporte público, daí não tem jeito. 
Adaptar e continuar como se tudo que mudou impactou para o bem. 
Bom, não sei, mas espero estar aqui para descobrir. 

Ana Carolina Beresford – Bela Urbana, trabalha numa caridade que ajuda pessoas com deficiências físicas e mentais a locomoverem-se, sente muito orgulho do seu trabalho. Adora animais e viajar sempre que pode.