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A vida baseada nos apps – desde quando passamos a viver em uma tela?

É fato que a tecnologia nos proporciona vantagens surreais. Graças a ela que temos acesso a todo tipo de informações e notícias, podemos aprender sobre milhares de temas e nos conectar com pessoas ao redor do globo. A tecnologia é uma ferramenta que serve a diversos propósitos: da educação ao entretenimento, do trabalho ao lazer, da utilidade a ociosidade.

Há 20 anos, quem imaginaria que teríamos ao alcance da mão uma infinidade de apps para inúmeros propósitos? Se eu não lembro de beber água (quer coisa mais básica que isso?) é só fazer o download de um app que vai se certificar de que estou me hidratando corretamente. Posso até ter um app pro meu app, como os que registram as séries e filmes consumidas no aplicativo da Netflix.

E isso sem falar nas trocentas redes sociais que surgem diariamente e que precisamos entrar para conferir o que nossos amigos e conhecidos estão fazendo. O Instagram é o novo Snapchat, o TikTok é o novo Instagram, e toda essa ladainha até os nossos celulares não terem mais espaço para app nenhum. E aí, o que fazer? Como pedir comida, chamar um táxi (Ops! Uber, por favor), como lembrar de beber água?

Essa nossa dependência dos apps é assustadoramente perigosa. As pessoas vivem em função de ferramentas que foram feitas para auxiliá-las, mas que em verdade ocuparam todo o espaço do nosso cotidiano. Para acordar precisamos que o app de alarme toque (já que ninguém tem despertador analógico em pleno 2020), para fazer nossas tarefas temos que checar nossos calendários digitais, para dormir lá vem outro app de meditação e sons relaxantes.

A vida segue então regulada por uma máquina, por porcentagens de bateria, por atualizações de software. Mergulhamos tão profundamente em um mundo virtual que deixamos de viver o mundo real. Estamos nos tornando pessoas menos focadas, menos contemplativas, mais influenciáveis. Os apps monopolizam nossa interação com o meio, as notificações constantes nos puxam para bem longe do aqui e agora.

E vamos buscando a solução dentro do próprio problema: apps de saúde mental, apps de relaxamento, apps para focar nos estudos. Não me entenda mal, também sou fã desse mar de caminhos a seguir que a tecnologia nos oferece. Mas estamos em uma encruzilhada que nos pede que façamos algumas mudanças. Está na hora de buscar um ponto de equilíbrio entre o que é saudável e o que não é.

O impulso inconsciente que temos de “passear” entre um aplicativo e outro, dando refresh continuamente na esperança de que algo novo apareça, isso definitivamente precisa mudar. A tela deve estar à nossa disposição, mas não o contrário. E eu acredito que se fomos capazes de inventar coisas tão grandiosas como o mundo virtual, somos igualmente capazes de encontrar o balanço perfeito para esse nosso relacionamento com as telas.

Letícia Chieppe – Bela Urbana, estudante de Direito, apaixonada pela escrita e por tudo que ela proporciona. Encontrou nas palavras um refúgio para suas reflexões.