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MUITO MAIS DE NÓS MESMOS

A vida é uma dádiva e a existência um fenômeno extraordinário. A existência em nosso planeta obedece regras da natureza, confirmadas e imutáveis por milhares de anos.

Já a existência humana representa uma aventura igualmente extraordinária, dinâmica, complexa, dialética, ainda assim submete-se a regras da natureza, mas sobretudo, da natureza humana.

O avanço de nossa espécie sobre este planeta exigiu de nós esforços seculares que, um dia após outro nos trouxeram a este momento e patamar civilizatório e evolucional fundado em nossa capacidade de criar, superar e trilhar novos e inovadores caminhos.

Conseguimos ao longo de milhares de anos, por nossa capacidade intelectiva e de iniciativa, o relativo domínio da natureza em favor de nosso desenvolvimento e bem estar. Vencemos as adversidades do clima, as doenças, a fome, tudo resultado de nosso progresso civilizacional alcançado pelo esforço de todos e de cada um dos que participam deste avanço da condição humana.

Ainda que marcada pela imprevisão e incerteza, a aventura humana no planeta atingiu níveis outrora impensáveis algumas décadas atrás. Tudo construído por nós, pela nossa perseverança e imaginação.

O momento atual é marcado por avanços tecnológicos atingidos em velocidade nunca antes alcançados em nossa trajetória. As inovações se sucedem em ritmo quase indescritível e diário, servindo de base para outras que igualmente alicerçam outras que nos trazem novas percepções sobre o conceito de futuro. Vivemos uma época em que o futuro é hoje.

Na esteira de tais inovações temos hoje, absolutamente incorporadas a nossas vidas cotidianas várias novas formas de comunicação e contato entre as pessoas, notabilizando-se dentre estas as nossas já inseparáveis redes sociais.

Difícil nos dias de hoje encontrarmos pessoas que não mantenham diária relação e atuação com quatro ou mais ambientes virtuais de convivência social. Uma moderna e agora essencial relação de comportamento social.

A velocidade das informações e nossa interação não somente como receptores mas sobretudo como reprodutores delas nos inserem na condição de condutores, de agentes ativos do diário turbilhão de assuntos. A um só tempo somos agentes passivos e ativos desse fluxo frenético de informações.

Mas a despeito desta modernidade prosseguimos sendo humanos e, nesta condição, trazemos para nosso momento de modernidade quem somos, quase que reproduzindo e validando aquelas regras da natureza, contudo da natureza humana.

O complexo caminhar de nossa civilização resulta de comportamento social individual que, enfeixado ao comportamento dos demais se unifica em comportamentos coletivos.

Uma das indisfarçáveis características de nossa natureza humana presente em nosso comportamento coletivo, e agora, relevada pela dinâmica das redes sociais (notadamente) é nossa tendência ao julgamento.

Participamos todos, todos os dias de julgamentos instantâneos, recebendo e emitindo juízos de valor sobre temas dos mais variados, pessoas, situações, integrando-nos a maiorias ou minorias dependendo do tema. Mas estamos sempre julgando.

 A “opinião” e repercussão das redes sociais compõe hoje quase uma entidade imaterial de indiscutível importância para tomada de decisões que influirão em nossos caminhos. São quase uma terceira pessoa coletiva, uma posição de suma importância que paira sobre todos nós. Mas quais seriam a utilidade e benefício disso?

Difícil supor quais os efeitos desse fenômeno, mas ele já velho conhecido.  

Praticamos nossa tendência humana de julgar não é de hoje. Nos jogos romanos a era pré cristã a indulgência do imperador para quem iria viver ou morrer era decidida após ouvir as galerias das arenas. Os cidadãos decidiam instantaneamente pela vida e pela morte.

Um pouco adiante na história tivemos outro exemplo clássico do nosso julgamento popular quando decidimos entre dois sujeitos, um chamado Barrabás, e outro chamado Jesus. Sabemos bem o resultado.

Assim, ainda que entendamos o advento de inimagináveis formas de comunicação de que dispomos atualmente, inescusável também constatarmos que toda essa modernidade está a nosso serviço, a serviço de quem somos e da forma como vivemos e agimos, em suma, de nossa natureza humana.

É ai que toda essa modernidade por vezes parece muito velha para mim, pois apesar de todo o avanço ela somente consegue nos trazer muito mais de nós mesmos.         

André Guimarães – Belo Urbano, advogado, é um materialista histórico dialetico