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A caixa de Deus

Sempre penso: “Será que existe o outro lado?”. Me pergunto isso desde pequena, desde aquela aula de religião que a freira nos levou para a capela e nos mostrou onde Deus estava.

Conheci Deus através do olhar dela. Era pequeno e estava preso em uma caixa quadrada no altar. Eu tinha 7 anos e olhava aquela caixa com temor. Vai que Deus fugisse dali? Melhor Deus preso ali dentro e seguro… Mas como ele podia nos ver estando preso e fechado? Será que estava esmagado? Será que sentia dor? Será que Deus soltava pum?

Até os dias de hoje, 55 anos depois, algumas dessas perguntas me perseguem. Sou católica, mas não praticante. Minha filha casou na igreja, me lembro tão bem do dia. Ela linda, entrando na Igreja com o pai. Eu no altar e Deus também, na sua caixinha. Eu olhava de canto de olho para Deus para ter certeza que estava ali. Eu rezava para ele estar de bom-humor nesse dia e abençoar os noivos. Porque cá entre nós, viver apertado tira o bom-humor.

O susto do cigarro foi uns meses antes desse dia. Parei. Larguei. Deixei na memória, mas fujo dela o tempo todo, porque se pensar, tenho vontade de me entregar ao vício. Mas sei, como sei, que esse vício pode me matar mais rápido que a genética determina, resisto, mas não é fácil! “Só por hoje”, penso.

Quando olho para os lados e alguém está fumando, sinto vontade de acender um, de me entregar àquela sensação que nem sei descrever. Sinto até inveja do fumante, me vem a lembrança que sentia ao tragar, como um arrepio na alma, mas na hora a memória me leva para Deus na sua caixinha e penso que Ele deve estar muito apertado vivendo naquele cubículo e, por isso, precisa também nos causar o mesmo incômodo que sente. Será que Deus é sádico?

Sou uma idosa, já consigo ter direito a ser atendida prioritariamente nas filas especiais, há outras vantagens também de ter mais de 60 anos (tenho 62), mas não me sinto diferente em nada do que era quando tinha 52, 42, 32… Sou a mesma e não sou velha! Gosto do que querem que as idosas não gostem, mas eu ainda gosto. Se sempre vou gostar, não sei. Deus deve saber.

Hoje, no banco de trás do carro, quando o motorista parou naquele demorado farol, olhei para o lado. Por que olhei? Tinha um homem tomando banho na praça, usando a pia pública, pia de lavar as mãos, e ele tomando banho de caneca. Usava shorts, passava algum sabão… Olhei demoradamente aquela cena, era como um ímã, mas era um tapa na cara. Deus de novo me fazendo me sentir incomodada, eu no ar-condicionado, voltando do salão de beleza, que fiquei 4 horas, fazendo as unhas das mãos, dos pés, tingindo o cabelo, hidratando, lavando, escovando, tomando chá e café… 4 horas, e alguém se banhando no meio da rua… Ah, Deus, saia dessa caixinha, saia desse aperto logo e para com essa coisa sádica de me fazer sofrer pelo incômodo do banho do mendigo, pelo cigarro que renuncio.

Queria ter a indiferença de alguns que conheço… isso seria tão mais fácil! Se eu te soltar da caixinha, podemos fazer um trato? E essa freira que me apresentou você, onde será que está? Do outro lado? Melhor mesmo eu continuar longe do cigarro!

Adriana Chebabi  – Bela Urbana, idealizadora do blog Belas Urbanas onde faz curadoria dos textos e também escreve. Publicitária. Curiosa por natureza.  Divide seu tempo entre seu trabalho de comunicação e mkt e as diversas funções que toda mulher contemporânea tem que conciliar, especialmente quando tem filhos. É do signo de Leão, ascendente em Virgem e no horóscopo chinês Macaco. Isso explica muita coisa. 

Foto Adriana: @gilguzzo_photography


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FÉ vs RELIGIÃO

Ter Fé é fazer parte de uma religião? Ter Fé é ir no culto ou na missa todo domingo? Ter Fé é doar o dízimo e obedecer a tudo o que a igreja pede? Se você concorda que sim, eu te digo que não! Ter Fé é acreditar na Força Suprema, ter Fé é acreditar em si próprio, acreditar que vai dar certo, porém muitas pessoas ainda confundem Fé com religião.

Eu tenho 23 anos, fui batizado e fiz primeira comunhão, fui criado como católico, mesmo minha família não tendo costume de frequentar muito a igreja. Porém, chegou um momento em minha vida, que percebi que não faço parte de nenhuma religião, por minha própria natureza. Sempre respeitei as pessoas que fazem parte de religiões, eu mesmo já estive presente em missas católicas, cultos evangélicos, centros espíritas e vejo que para algumas pessoas realmente isso é muito importante, como ex-dependentes químicos, pessoas em situação de extrema pobreza ou mesmo para pessoas que se sentem bem em frequentar esses ambientes.

Muitos vão me perguntar: Bruno, por que você prefere não frequentar igreja, você é ateu? Não, eu não sou ateu, eu acredito e sempre acreditei em Deus, em uma força superior, sempre tive a Fé presente em minha vida, creio na Força Suprema, mas não tenho Fé em igrejas, nem em religiões, mas por quê? Porque eu ainda vejo muita, muita hipocrisia e preconceito nessas religiões, ao mesmo tempo que o papel delas seria de unir as pessoas e pregar a paz, eu vejo pessoas de uma religião unidas, porém quem esta do lado de fora, ou pertence a outras religiões, tem o dedo apontado para elas, o que gera brigas, revoltas, intolerância e guerras.

Jesus pregava a paz e dizia “ame o próximo como a ti mesmo”, Maomé, Buda e tantos outros profetas de diversas religiões pregavam a paz e o amor, porém as religiões interpretam de outras formas, criando guerras e causando mortes.

Na história da humanidade o que mais gerou guerras foram as religiões, bilhões de pessoas já mataram e morreram em nome de religiões, e muitos vāo dizer: “mas isso foi no passado, hoje em dia já não vemos guerras de religiões” na América TALVEZ não (somente o preconceito…), mas no Oriente Médio essas guerras acontecem diariamente e nunca deixaram de existir. O ano é 2020 e diariamente muitas pessoas ainda sofrem com as guerras geradas pelas religiões.

Até hoje, temos tantas pessoas que usam a religião para enriquecer, se passando por profetas, acumulando dinheiro, comprando mansões fora do país, com o dinheiro de pessoas que ainda passam necessidades, que gastam metade ou mais do salário com a doação de dízimos, e pela falta de estudos muitas vezes não percebem este “roubo” que sofrem, a falta que esse dinheiro do dízimo vai fazer em casa, na mesa.

Estes são alguns dos motivos pelos quais eu prefiro ter Fé na Força Suprema, Fé na vida, do que ter Fé em religiões, e vocês o que pensam sobre esse assunto ?

Bruno de Andrade Nogueira – Belo Urbano. Estudante de jornalismo. Curte fazer acadêmia e tem como lema a frase “nós não somos iluminados, nós iluminamos”