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Meus carnavais e a machista que fui sem saber.

Lembro de muitas histórias de carnaval. Na infância, esperava ansiosa minha tia Marta e minha prima Gi chegarem do Rio de Janeiro, com a fantasia que minha tia trazia pra mim igual ao da minha prima. Sempre tão lindas! Lembro de nós duas na matinê, no salão do clube à espera para desfilarmos no concurso de fantasias… já fomos baianas, bruxinhas, ciganas etc.

Na adolescência, a primeira vez que fui a um baile à noite estava de melindrosa, tinha 12 anos e fui uma única noite. Queria porque queria ir, já que minha prima ia, mas não gostei. Não me senti pertencendo, ainda gostava da luz da matinê e de ficar jogando confetes e serpentinas… A noite ainda não era para mim!

Com 13 anos, passei as cinco noites com um grupo de uns 40 adolescentes como eu, fantasiados de egípcios e gritando: “Alalaooooo, mas que calor”. Aquilo para mim foi o máximo! Passei as cinco noites junto com o grupo, correndo pelo salão, cantando sem parar aquele refrão e sem olhar para nenhum garoto. Eu era mais criança que adolescente ainda.

Já no ano seguinte, 14 anos, começaram a ser mais divertidos os bailes de carnaval. Nesse ano, lembro que junto com minha amiga Alexandrina, ficamos “apaixonadas” platonicamente por um mocinho no salão, que nunca nem sequer dançou uma música com nenhuma de nós. Acho que nem nos via, era “gatinho”, como dizia a gíria da época dos anos 80 quando era para fazer referência a alguém bonito. Ali eu descobri que gostei do colorido que a paixão nos traz, mesmo quando não é correspondida. Ainda era uma menina que nunca tinha beijado na boca.

Com 15 anos, já era mais encorpada, bem morena, e novamente com minha prima e amigas fizemos fantasias iguais para algumas noites. Éramos piratas com meia arrastão preta, top vermelho com lantejoulas e um pano de cetim vermelho que servia de saia, biquine por baixo, porque tudo era bem curto, era moda. Ano que comecei a ser vista pelos mocinhos. Dançava com um, depois com outro e com outro pelo salão. Funcionava assim: Tinha uma grande roda e quando parávamos de dançar com o par, ficávamos no entorno dessa roda dançando até outro convidar para dançar. Sempre nós, as meninas, esperando passivamente sermos convidadas. Eu nunca convidava ninguém, poderia justificar com minha timidez – de fato era tímida demais para chegar em algum moço –, mas não era só isso, era algo que no fundo estava enraizado em mim. “Isso não é papel de moça, os homens é que devem tomar a iniciativa”.

Os homens podiam escolher e nos tirar para dançar, mas nós, moças mais recatadas, jamais faríamos isso. Isso nunca passou pela minha cabeça como algo a ser questionado, nunca nem pensei, e se quisesse dançar com alguém, por que não ir tirá-lo também? Nesse ano, me lembro de dois mocinhos que ficavam “me disputando”… Uma vez, dançando com um deles, um amigo o chamou para brigar, e ele, como ‘bom macho e fortão’, falou pra mim: “– Tenho que brigar agora, depois eu volto, me espera”. Eu sei lá qual o motivo da tal briga, na hora o achei muito valente. “Nossa, uau, ele vai brigar, como é forte! Como é valente!”, esses eram meus pensamentos.

Bom, os dois que me “disputavam”, o valentão e o outro, eram amigos, esse outro tinha uma namorada… mas passava por mim quando não estava dançando comigo e me media de cima a baixo, jogava charme, fazia comentários, mesmo dançando com ela, sem nenhum respeito por ela. Eu, na verdade, também não percebia que isso não era respeitoso nem com ela e nem comigo.

Na última noite, a banda tocava até quase o raiar do sol, e nas repetições do mais um, eu estava dançando com outro mocinho. A música parou e ele veio todo para cima de mim tentar me beijar, quando o tal que me “disputava” com o amigo fortão, o que tinha namorada, disse em alto e bom som: “Não mexe com essa moreninha que eu vi primeiro!”. Como se eu pertencesse a ele, como se eu fosse um mero objeto.

Como me senti? Sinceramente, naquele dia, me senti desejada, importante, e estava gostando das investidas do garoto que levou um sinal amarelo do outro. Eu fiquei passiva, esperando que os meninos decidissem de quem eu era. Como assim de quem eu era? Eu que deveria escolher! Afinal, eram dois pretendentes, mas eu não tinha essa percepção e talvez até achasse interessante ser “disputada como um prêmio”. Hoje consigo enxergar o quanto eu era machista e não tinha consciência de nada disso. Sou uma desconstrução dessa machista.

Enfim, me despedi, fui embora com minha prima e amigas. Já com saudades daquele carnaval, que me traz lindas lembranças, mas com água na boca de um beijo que não aconteceu, mas… a vida é um caixa de surpresa e o primeiro beijo veio no carnaval do ano seguinte… Mas essa história é outra…

Adriana Chebabi  – Bela Urbana, idealizadora do blog Belas Urbanas onde faz curadoria dos textos e também escreve. Publicitária. Curiosa por natureza.  Divide seu tempo entre seu trabalho de comunicação e mkt e as diversas funções que toda mulher contemporânea tem que conciliar, especialmente quando tem filhos. É do signo de Leão, ascendente em Virgem e no horóscopo chinês Macaco. Isso explica muita coisa. 

Foto Adriana: @gilguzzo @ofotografico
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Meus olhos no Carnaval

Não me recordo há quantos anos, e contá-los seria só um detalhe, quando fui pra rua atrás de Blocos de Carnaval.

Os grandes não me interessavam muito porque sentia fobia – pequena que sou, mal via o chão.

Procurava a Agenda Carioca e também o “disse me disse” a respeito de um bloquinho de esquina.

Fazia meu roteiro. Adorava ver a criatividade do povo, mas a minha não ia além de um short velho, uma mini camiseta, tênis velho e uma rosa no cabelo. Pochete também (rs). Totalmente ninguém na multidão!

Rio de Janeiro, fevereiro, sempre mais de 35 graus, dias de sol. Sábado à tardinha, concentração do Cacique de Ramos, o mais antigo bloco que mantém a tradição de desfilar entre cordas, com a ala da Velha Guarda e apenas uma marchinha. Saí às 7 da noite – se não tem a camisa do bloco e está fora das cordas, siga ao lado, farra igual, batucada, cantoria e pé no asfalto… Lá vai o bloco! Uma vez sentada no meio-fio com uma latinha de cerveja na mão, um vendedor perguntou se eu estava bem. Meus cabelos brancos denunciavam mais uma coroa na avenida. – Estou ótima!

Domingo, 8 da manhã, e o sagrado Boi Tá Tá na Praça XV, famosa praça no Centro da cidade do Rio de Janeiro. Bloco parado com toques políticos, artistas engajados em causas sociais, músicos famosos. Uma mistura perfeita! Marchinhas antigas e novas, sambas, rock, frevo, de tudo um pouco. Nesse bloco, já abandonei namorado velho para ver Teresa Cristina na beira do palco, no meio da muvuca. Acho que ele ainda está me procurando. Ali também já beijei namoradinho de escola que não via há anos. Sumiu também.

Agora é lei, e se é multado caso faça xixi na rua. Mas sou do tempo em que não existiam banheiros químicos… Xixi atrás dos carros, muitos!

O roteiro mudava conforme a disposição, acompanhar o tradicional Escravos da Mauá pelas ruas do Centro da cidade, esse com samba-enredo que se cantava com papelzinho na mão. Gosto pouco!

Partindo Zona Sul, o hilário: “Largo do Machado, mas não largo do copo!” Bloco pequeno que dá a volta em duas ruas e volta para o Largo. Ali se vai atrás de uma bandinha, cujos integrantes se somarmos as idades dá uns 1000 anos. Dos prédios, as pessoas cantam e acenam: momento sambódromo! Só diversão!

Suor, fome indo embora num pastel de queijo, cachorro-quente sem salsicha e sucos duvidosos. Não existe cansaço, não dá pra ser politicamente correto, é carnaval! São dias pra se esquecer e vestir vários personagens.

Gosto de ir sozinha, não sei andar em fila com amigos e filhos. Gosto realmente de ser ninguém. Dançar com estranhos, rir das performances. Me dar o direito de sentar no chão, lavar o rosto com água mineral, cantar alto e desafinado e ir “carnavivendo”!

Atravessar a Baía de Guanabara no bloco da Barca, que vai de uma cidade a outra flutuando e batucando.

A cada ano o Rio de Janeiro se reinventa na criatividade, nos nomes dos blocos.

Agora muitos tomaram grandes proporções que já não me agradam mais. Fico de olho nos batuques de esquina antes que cresçam. Os ouvidos sempre atentos a qualquer batucada e o corpo vai seguindo com faro de perdigueiro até encontrar sua caça.

Maria Nazareth Dias Coelho – Bela Urbana. Jornalista de formação. Mãe e avó. É chef de cozinha e faz diários, escreve crônicas. Divide seu tempo morando um pouco no Brasil e na Escócia. Viaja pra outros lugares quando consigo e sempre com pouca grana e caminhar e limpar os lugares e uma das suas missões.
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Saldo de um carnaval

Carnaval de 1997. Era uma viagem de uma turma de amigos recém-formados. Éramos em doze no total, enfiados em um apartamento de um quarto em Caraguatatuba. Havia gente dormindo até na cozinha.

Na terceira noite eu fiquei com um dos colegas. Romance improvável, não fosse o clima de carnaval. Graças a Deus na manhã seguinte já era dia de eu ir embora. Precisava voltar mais cedo pois havia levado uma prima minha, que não era da turma da faculdade e já trabalhava e tinha que retornar a São Paulo. Hoje em dia ninguém se importa mais. Mas na época era estranho ficar com colega de faculdade, depois de tantos anos sendo apenas colega de faculdade.

Algumas semanas depois, como de costume, a turma se reencontrou em mais uma baladinha. O constrangimento inicial não durou muito. Ficamos novamente. Nesse dia, já fomos embora de mãos dadas.

Depois da nossa segunda “ficada”, combinamos de sair para jantar e pela primeira vez após tantos anos, estaríamos somente nós dois. E nesse dia, ele me disse que precisava falar algo muito importante, que seria melhor falar antes que eu soubesse por terceiros. Diga-se terceiros, todos os demais colegas da turma.

Pois ele me revelou que no carnaval ficou comigo porque havia feito uma aposta com os amigos. O choque foi tão grande que francamente eu não sabia se ria ou chorava. Ele se desculpou, disse que não queria que tivesse começado dessa forma e eu meio desconcertada dei um sorriso amarelo e fingi ter achado engraçado.

Isso passou. Às vezes durante algumas brigas eu ainda escavava essa história, mas com o tempo isso deixou de ser importante. Após cinco anos esse romance gerou um casamento, que após mais dois anos gerou uma filha e um ano depois, gerou a nossa empresa. Foi um relacionamento de 17 anos. Hoje já estamos separados há 6 anos.      

O casamento acabou, mas a filha ficou, a empresa ficou e a amizade ficou.

O que teríamos feito das nossas vidas se não fosse o carnaval de 1997?

Impossível saber.

Noemia Watanabe – Bela Urbana, mãe da Larissa e química por formação. Há tempos não trabalha mais com química e hoje começa aos poucos se encantar com a alquimia da culinária. Dedica-se às relações comerciais em meios empresariais, mas sonha um dia atuar diretamente com público. Não é escritora nem filósofa. Apenas gosta de contemplar os surpreendentes caminhos da vida.

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Todos os dias são dias de Carnaval.

Parece loucura mas já parou para pensar que a festa mais importante de fevereiro só é um reflexo do que acontece nos tantos outros dias do ano?

Todos os dias acordamos, nos espreguiçamos, meia volta no quarto, dente escovado e a máscara na cara que é para manter o humor escolhido para o dia. 

Ao longo do tempo troca-se as personagens e no descanso do lar é onde as fantasias perdem formas. 

Todos os anos a mesma rotina, as promessas quase que impossíveis desejadas no novo ano que se inicia e lá estamos nós aguardando ansiosamente pelos novos enredos, novas histórias.

Seria cômico se não fosse trágico a semelhança gritante com que a nossa vida se parece com um verdadeiro carnaval invertido e basta observar.

Todos os dias são dias de carnaval. 

Da alegoria ao passista, na pista a rainha de bateria dá um verdadeiro show. A máscara de riso esconde o choro de luta de quem sabe que não pode fraquejar. 

Aqui fora da avenida os fanfarrões não sabem brincar. O confete é bala e a púrpurina é dor.

Aqui fora da avenida todos os dias são  dias de carnaval, e nem de longe lembra a alegria das crianças.

Aqui é selvageria, carnaval na raça, só sobrevive quem dança conforme o dança. 

E por isso não dá para desafinar, é preciso ter samba no pé e gingado.

É preciso ter molejo e sacudir a poeira.

Na avenida da vida saber passar e chegar sem perder o ritmo.

Ir para avenida, desfilar, carnavalizar. Pois todos os dias são dias de carnaval.

Gi Gonçalves – Bela Urbana, mãe, mulher e profissional. Acredita na igualdade social e luta por um mundo onde as mulheres conheçam o seu próprio valor. 
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Você é brasileira? Então samba aí para a gente ver…

Ah, fevereiro! O mês mais esperado do ano na áurea época da minha juventude! As cinco noites com bailes de Carnaval nos clubes sociais da minha cidade, no interior de São Paulo, são algumas das minhas melhores lembranças daqueles tempos.

Atualmente, depois de quase 20 anos morando na Dinamarca, já quase nem me lembro que fevereiro é mês de Carnaval. Primeiro, porque aqui não existe a tradição carnavalesca como no Brasil – a comemoração dos dinamarqueses, chamada Fastelavn, é só para crianças, e consiste basicamente em fantasiar-se e bater num barril de madeira até quebrá-lo para pegar as guloseimas escondidas dentro dele. Segundo, porque não há clima para Carnaval aqui em fevereiro, nem literal nem metaforicamente. Os dias são frios e escuros, não combinam com o Carnaval que conhecemos e apreciamos. E terceiro, neste ano de pandemia, Carnaval parece coisa de um passado muito distante.

Em tempos normais, pode-se, sim, participar de uma folia carnavalesca ao estilo brasileiro por essas latitudes, mas em outra época do ano. Existem organizações que promovem festas em algumas cidades da Dinamarca no mês de maio, quando o clima está mais apropriado. Trata-se de festivais que incluem música, dança, desfiles de escolas de samba e outras atividades. Participei várias vezes desse Carnaval fora de temporada em Copenhague para sentir-me um pouco mais perto de casa.

O que me parece mais interessante desses eventos é que geralmente são organizados por dinamarqueses que se identificam e abraçam esse aspecto da cultura brasileira, às vezes até com mais paixão que os próprios brasileiros.

O Carnaval celebrado no Brasil sempre foi muito promovido internacionalmente e, de fato, fascina muitos estrangeiros. É algo que quase qualquer pessoa no mundo pensa quando se fala do Brasil, além do futebol, é claro! Isso é muito bacana, mas eu gostaria que o Brasil se destacasse por outras capacidades também; que outras ideias viessem à mente das pessoas quando pensassem sobre o nosso país.

Em várias ocasiões, ouvi o comentário: Você é brasileira? Sabe sambar? Samba um pouquinho para a gente ver… Eu nunca fiquei ofendida com isso, porque achava legal que as pessoas tinham interesse pela nossa cultura. Mas hoje, pensando bem, acho que é muito pouco. O Brasil tem tanto mais para mostrar, mas ainda insiste em promover apenas uma pequena fração de suas muitas facetas.

É certo que crise política, escândalos de corrupção e outros problemas socioeconômicos que nos assolam há bastante tempo não favorecem a imagem do Brasil no exterior, mas acho que, mesmo assim, ainda temos muitas coisas boas de que nos orgulharmos.

A tradição carnavalesca, a música e os aspectos culturais do Brasil devem ser preservados e difundidos, mas precisamos mostrar para o mundo que podemos oferecer mais do que isso. Gostaria que o país do futebol e do Carnaval também fosse reconhecido por seus avanços científicos e tecnológicos, por seus valores democráticos, por sua criatividade, seu respeito à vida e ao meio ambiente e por encontrar soluções sustentáveis para o desenvolvimento do nosso país.

Como já dizia um velho samba-enredo da Mocidade: “Sonhar não custa nada…”

Miriam Moraes Bengtsson – Bela Urbana, formada em Comunicação Social/Publicidade e Propaganda pela PUCCAMP e possui mestrado em Comunicação e Inglês pela Universidade de Roskilde, na Dinamarca. Desde 92, atua nas áreas de mkt e comunicação. Natural de Garca, SP, vive atualmente em Copenhague, Dinamarca, com marido e dois filhos. Trabalha com comunicação digital e branding em empresa da área farmacêutica. Em seu tempo livre, gosta de praticar esportes, viajar e estar com família e amigos.
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As Máscaras Masculinas no Carnaval

A grande maioria das pessoas espera e se prepara ansiosamente para a maior folia do Brasil, o carnaval.

Historicamente, a folia de carnaval acontece durante três dias que antecedem a quarta-feira de cinzas, dia que se dá início à quaresma e que simboliza a reflexão e mudança de vida. Carnaval vem do latim carnem levare – afastar-se da carne – mas como assim? Sabe aquela história que todo regime começa na segunda-feira e no fim de semana antes você come e faz tudo que pode? Então, carnaval é isso aí… aproveitar ao máximo os prazeres da carne.

Na magia do carnaval nos despimos da repressão e censura, das obrigações e responsabilidades do cotidiano para nos vestirmos de fantasias e máscaras, com uma falsa sensação de que “tudo é permitido”, vivendo intensamente a alegria, o prazer e a descontração, mas por baixo da máscara da folia aparecem outras máscaras, aquelas que vamos colocando desde a infância, que culturalmente é passado de geração em geração e nem percebemos – as máscaras do patriarcado, do machismo estrutural e privilégios masculinos. 

Sei que este ano, devido à Covid, o carnaval de rua foi adiado e nos clubes cancelado, assim como o ponto facultativo na grande maioria das cidades, mas por que este artigo então? Porque o povo brasileiro é festeiro, e é bem provável que o carnaval particular aconteça. E um fato é que no período de carnaval há o aumento do índice de assédio (que acontece o ano inteiro) e, por incrível que pareça, a grande parte se dá em lugares privados e não públicos, ou seja, nos lares e entre amigos e familiares.

E aí homens, quais comportamentos resultantes das máscaras que estamos tendo ou abafando e que afloram mais no carnaval?

Uma máscara comum é a do assédio e que muitos homens se justificam como paquera. Assédio é quando o espaço da mulher é invadido, a mulher é desrespeitada, o seu corpo é como objeto, a sua segurança é ameaçada e seus direitos violados. Isso é desamor! E paquera é onde o respeito acontece e o espaço da sedução é vivido pelos dois. Há um consentimento, um interesse das duas partes, há liberdade de escolha, e a entrega ao desfrute do amor e erotismo acontece.  

Quais outras máscaras utilizamos e que para nos autoafirmarmos (defesa da própria identidade) na nossa masculinidade, utilizamos da violência verbal, física, sexual e assim por diante? 

Nós homens, e como seres humanos, temos a condição básica de pertencimento a outro ser humano e de criarmos vínculos emocionais. Queremos amar e sermos amados!

Mas como viver isso? Nos autoconhecendo e nos desenvolvendo! E o primeiro passo é tomarmos a decisão de não mais fazer mal para as mulheres e qualquer outro ser humano e assumirmos a responsabilidade por absolutamente tudo, de como vivemos, e parando de procurar culpados.

O segundo passo é identificarmos as máscaras que utilizamos. Nos observar em nossos comportamentos e os impactos que causamos nos outros. O machismo estrutural acontece de muitas maneiras, mas tem a característica de depreciar, discriminar, ser preconceituoso, de dominar e de ser superior.

Quanto mais nos conhecemos, mais ampliamos a consciência e passamos a nos respeitar e respeitar o outro, e com o outro, desfrutamos o melhor do carnaval com a máscara da alegria, do prazer e descontração!

Viva o carnaval, viva a vida!

Wlamir Stervid ou Boy, para aqueles que o conhecem pelo apelido. Belo urbano, apaixonado pela sua família, por gente e natureza. Sua chácara é seu recanto. Devido ao seu processo de transformação, trabalha com desenvolvimento humano, é Coach Ontológico e idealizador do Homens de Propósito, um movimento entre homens para o autodesenvolvimento e transformação do masculino.
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O que o carnaval tem a ver com isso?

A indústria sexualiza o corpo da mulher desde que ele começa a se desenvolver. Talvez o carnaval seja um dos momentos em que isso mais fique visível para todo mundo ver, e que mesmo assim ainda existem muitas pessoas que não notam. Nós mulheres passamos nossa vida inteira tentando nos encaixar em um padrão de beleza que é cruel, desafiador e que na maioria das vezes não se molda aos nossos corpos. Nós estamos constantemente encarando o espelho e procurando por defeitos que nem ao menos existem.

Vivemos muitas vezes com pessoas que acreditam que o corpo de uma mulher diz mais sobre ela do que quem ela realmente é. Vivemos em um mundo onde uma mulher não consegue andar na rua com a roupa que quiser sem ser assediada, comentada ou observada. Vivemos em uma sociedade patriarcal e machista que nos ensina desde cedo a entrar nos moldes e nos portar “do jeito que deve ser”.

Mas o que o carnaval tem a ver com tudo isso? Bom, pode ser que muitas mulheres usem essa data para dar seu grito de liberdade e sair na avenida com a roupa que quiser, do jeito que quiser sem que ninguém ache nada sobre isso. Pode ser também que para muitas a sexualização dos seus corpos fique ainda pior no momento em que a sociedade julga o tipo de roupa usada ou o comportamento das mulheres que saem na avenida.

A verdade é que o problema está nas pessoas que se veem no direito de julgar e sexualizar os corpos femininos. Nas crianças que desde sempre se veem encurraladas por conta disso. Nas adolescentes que antes mesmo de entenderem o que o corpo significa já são taxadas como objeto. Nas adultas que lidam diariamente com a monstruosidade que é se espremer nos padrões, muitas vezes gerando transtornos e compulsões alimentares.

O problema está na nossa sociedade doente. Porque as mulheres só querem ser elas mesmas, se portar como quiserem, se vestir como der vontade e, mesmo assim, continuar sendo respeitadas!

Juliana Manfrinatti Bittar – Bela Urbana. Bióloga. Gestora empresarial em formação. Apaixonada por livros, se arrisca às vezes na escrita. Tem como um dos objetivos de vida conhecer todas as maiores e mais bonitas bibliotecas e livrarias do mundo.
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Propaganda, carnaval e mulher

Como não pensar em propaganda com a chegada do carnaval? O brasileiro, mesmo não sendo adepto do pagode, do frevo e dos ritmos das escolas de samba, gosta de carnaval por muitos motivos: descanso, viagem, festas, bebedeira e reunião com os amigos, agarros e beijos, muitos beijos, roubados não importa de quem. É um período de liberação total dos costumes.

Tenho um primo de Salvador que contou, certa vez, que havia beijado mais de 200 mulheres, pelas ladeiras, no carnaval da Bahia. A “pegação” indiscriminada é o que muitos fazem nessa época e saem contando como vantagem.

As empresas sempre aproveitaram o Carnaval para apresentar propostas de produtos. Diversas marcas, ao longo de séculos, não se esquecem dessa época, porque parece que as pessoas desligam sua autocensura e se liberam para ampliar alguns limites impostos pela sociedade. O Carnaval tem sido visto como um período de relaxamento em todos os sentidos.

A festa do prazer. A festa da carne.

Muitas coisas foram mudando, hoje, não vemos mais os bailes de carnaval como em outros tempos e o carnaval de rua deixou de existir no século XXI. Restam os grandes desfiles de escolas de samba das grandes cidades e alguns desfiles de blocos em outras capitais do país.

Pesquisando sobre o tema, foquei um pouco no início do século XX e descobri que as mulheres, daquela época, encontravam nos três dias oficiais de reinado de Momo, momentos para se liberarem das regras familiares e se permitiam um pouco de descontrole. O carnaval sempre foi uma justificativa para sair do sério e a mulher assumir um pouco do poder que não lhes era permitido normalmente.

Num site de publicidades antigas, encontrei uma, bem intrigante, do lança perfume Alice. Assim, acabei descobrindo mais algumas curiosidades.

Essa propaganda afasta a sensação de um brinquedo de carnaval. Mostra uma mulher sendo submetida por seu companheiro, tendo os seios nus. Esse anúncio, do início do século XX, surpreendeu-me por ser muito ousado, literalmente, de “pegação”.

 Apesar de afirmarem em muitas publicações a inocência do uso do produto, usado até por crianças nas matinês de antes da proibição em 1961, essa publicidade contradiz a intenção ingênua do uso do Lança Perfume. O anúncio revela, em primeiro plano, o efeito produzido pelo produto, com o personagem do Pierrot, parecendo dominar a companheira entorpecida e submetida, como um tipo de “boa noite cinderela”.

A apresentação da mulher, já em topless, sugere algo considerado indecente naqueles tempos. Tenta aí, fazer certa concessão sem censura, já que é carnaval, tudo pode.

No texto, o anúncio trata de forma muito normal, mais do que se possa pensar hoje, dizendo que o lança perfume: “é sempre o preferido e pode ser pedido em toda a parte”, mencionando as revendedoras, sem qualquer restrição. Ainda menciona as vendas por atacado junto a brinquedos e artigos de carnaval.

No visual, em primeiro plano, o Pierrot parece aplicar o produto diretamente no nariz de sua parceira de dança. A moça que se entrega toda lânguida aos efeitos, parece se deixar dominar pelo rapaz num momento de êxtase provocado pelo produto. Ao fundo, como num baile, veem-se outros casais dançando, assim como uma bailarina, músicos de orquestra e um anjo cupido, com seu arco, apontando sua flecha bem na direção do casal principal, sugerindo a conquista que o rapaz está conseguindo em relação à moça contando com os efeitos do lança perfume. Tudo muito sugestivo e nada moralista.

Basta uma olhadela nas propagandas em geral, para concluir que, há muito mais de um século, a mulher é exibida em anúncios de maneira não muito edificante, sobretudo no verão e nas campanhas da época de Carnaval. Há evoluções recentes, claro, com propagandas celebrando a chamada “mulher moderna”, que presenteia o marido com um carro zero, que toma iniciativa de conquistar um parceiro, que dispensa o namorado para beber com as amigas, mas, ainda assim, são recorrentes os estereótipos de “mulher-margarina” e “boazuda-de-cerveja”. A propaganda, do Alice, seria totalmente condenada pela sociedade atual, sobretudo pelos movimentos feministas.

Os efeitos dos protestos das mulheres já se refletiram, ultimamente, nas mudanças ocorridas nas campanhas das cervejas Itaipava e Skol de modo a terem sido totalmente revistas suas propostas de posicionamento e linha de criação.

Como hoje elas têm poder aquisitivo comparável ao dos homens, formando um robusto nicho de mercado, é natural que a publicidade evite representações de mulheres submissas.

O que precisa ficar claro é que a publicidade é o espelho da sociedade em que ela está. Ela não cria hábitos, ela os reflete. Seu papel não é mudar tendências, condutas ou costumes, mas sim reproduzí-los para que as consumidoras se identifiquem com a marca e não a rejeitem.

Flailda Brito Garboggini – Bela Urbana. Pós graduada em marketing, Doutora em comunicação e semiótica. Dois filhos e quatro netos. Formada em piano clássico. Hobbies música, cinema, fotografia e vídeo. Nascida em São Paulo. 4 anos como aluna, 35 anos como professora de Publicidade na PUC Campinas. É aquariana (ao pé da letra).
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De madrugada, escondida atrás do balcão

Carnaval de 2021…não teremos…ficaremos em casa…JÁ FOI ASSIM NA MINHA CIDADE!

Apesar de hoje não sairmos de casa por causa da pandemia, em 1984 o motivo para ficarmos em casa era outro: a desigualdade entre meninos e meninas.

Minha mãe, era diferente, me deixava sair e eu era uma das mais animadas. O que eu não me conformava, era com alguns pais de amigas minhas. Minhas amigas não podiam quase sair de casa nesse período.

Argumentos dos pais não faltavam:

– Pessoas bêbadas pelas ruas.

– Pessoas bêbadas dirigindo e os carros perdem o controle.

– Pessoas mal-intencionadas oferecendo drogas, “lança perfume”.

– Amigas que podem beber e te levar pelo mau caminho.

– Danças eróticas.

– Músicas e danças insinuantes.

Afff, eram desculpas mais desculpas.

Mas, eu tive a sorte de ter uma mãe que confiava em mim e sempre dizia que eu é quem sabia qual o caminho a seguir e que eu é quem tomava conta da minha vida.

A única coisa que ficou gravada foi: cuidado, não desgrude do seu copo. Se for ao banheiro, jogue fora sua bebida e pegue outra depois que sair. Eles podem colocar “bolinhas“ e aí, vão abusar de você. Morria de medo.

A estratégia funcionou. Nunca experimentei droga, pulava a noite toda sem parar, ria tanto e me divertia tanto que até hoje ainda penso que muitas das mães que me viam dançando, duvidam da fonte de tanta animação.

E claro, para encerrar a noite, todo mundo ia para a padaria do meu pai comer pão quentinho saindo do forno. E eu? Ia para trás do balcão ajudar a vender, mas ficava atenta, quando meu paquera aparecia… eu não saia do banheiro de vergonha! 

Hoje, com 50 anos, rio das lembranças e vejo que ensinar e confiar é a melhor solução. Prender e proibir, só aumenta a curiosidade. No fim, o diálogo, a confiança e o “olho do vizinho que vai no baile, as perguntas mais descabidas da mãe no dia seguinte e cheirar a roupa da filha todinha escondida…” ainda está valendo!

Roberta Corsi – Bela Urbana.
Fundadora e coordenadora do
Movimento Gentileza Sim,
que tem por objetivo “unir pessoas que acreditam na gentileza” e incansavelmente positiva. Mãe da Gabi e do Gui. Gosta muito de reunir a família ao redor de uma boa mesa
.

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É Carnaval pra quem quiser

É o tempo de se vestir com uma fantasia engraçada.
Que cobre o corpo todo. Ou não.
É tempo de se divertir.
Tempo de ir pra rua, de fazer farra.
De passar tempo com quem se ama.
De viajar.
De dançar até o chão sem julgamento.
De vestir o que quiser.
De festa.
De celebrar a diversidade.
O exótico. O país. A beleza.
De enlouquecer.

Das mulheres se sentirem empoderadas.
Bonitas, sexys, confiantes.
Glamurosas, brilhantes.
Pra que elas dancem sem medo.
Mulher alguma vez fica sem medo?

Tempo de as pessoas serem quem quiserem.
Tempo de não julgar.
De brilhar e de vestir a roupa que teve medo de vestir o ano todo.
Tempo de a comunidade LGBTQIA+ se expressar. Sem medo.
Eles também alguma vez não sentem medo?

Ou de ficar em casa.
Vendo o desfile na TV.
Ou vendo um filme qualquer e fingindo que o Carnaval nem está aí.
De olhar a rua da janela.
De torcer pela sua escola.
Ou não.
De por o sono em dia.
Ou os estudos.
Do que for mais confortável.
Mais alegre.
Ou prioridade?
Mais seguro?

Porque é isso que o Carnaval é.
Tempo de escolher ser e fazer o que quiser.

Giulia Giacomello Pompilio – Bela Urbana, estudante de engenharia mecânica da UNICAMP, participa de grupos ativistas e feministas da faculdade, como o Engenheiras que Resistem. Fluente em 4 idiomas. Gosta de escrever poemas, contos e textos curtos, jogar tênis, aprender novos instrumentos e dançar sapateado. Foi premiada em olimpíadas e concursos nacionais e internacionais de matemática, programação, astronomia e física, além de ter um prêmio em uma simulação oficial da ONU.