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Olhar sem manobra

Durante um bom tempo ficou alí…

perdida na costura e nas linhas engasgadas.

Parecia até soberba, indiscreta ou maliciosa. Era nada.  

Era um turbilhão de medo e desafio.

Os anos passando até pelos dentes, os cabelos deslocados, maçãs do rosto quentes

e molhados versos.

Andava cansada e dizia isso em silêncio todos os dias quando estava no chuveiro,

aquele momento único em que podia desmoronar um pouquinho.

Era ansiedade e medo… Ou só cansaço.

Tudo o que mais queria era que mãos confiáveis lhe tirassem os sapatos e as meias.

E que ao olhar para a bunda dela sentisse tesão de carinho, de vontade de amor,

daquele amor que não julga o corpo pela estética, daquele que julga cada cicatriz ou marca de forma poética.

Ser vista além dos detalhes finos, brutos, marcados pela idade ou leves.

Por tudo!

Olhos sem censura, olhos sem manobras registradas, olhos de feiticeiras águas.

E uma massagem nas costas… Ah…uma massagem no ego.

Ela merecia…

Poder ouvir baixinho no ouvido um sussurro:

 “amo cada detalhe do teu corpo cansado”.

Era tudo o que ela queria…

Siomara Carlson – Bela urbana. Arte Educadora e Assistente Social. Pós-graduada em Arteterapia e Políticas Públicas. Ama cachorros, poesia e chocolate. @poesia.de.si