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Setembro é Amarelo

Este é o mês de conscientização sobre a prevenção do suicídio. Este mês deveria também ser o período de reflexão sobre os comportamentos que abreviam a vida de muitas pessoas. E algumas partidas poderiam ter sido evitadas, principalmente, se homens pudessem olhar um pouco mais para si e para os seus próximos. O amarelo é um sinal de atenção. Olhar com mais cuidado, mais profundo. O patriarcado vem impactando o número de suicídios masculinos porque causa uma cegueira emocional.

Se o suicídio é um assunto complexo, a construção da identidade masculina também acompanha esta mesma complexidade. O patriarcado cria um véu que encobre os sinais precoces de que alguma coisa não vai bem. Quando meu irmão mais novo, começou a dar os primeiros sinais, acreditava que ele iria superar, porque como homem, forte e saudável, como alguma coisa poderia abalar a sua vida.

Acostumado a suportar pressões, cobranças e pesos, homens não podem fraquejar ou desistir. Nunca e jamais iria pensar que o sofrimento interno pudesse ser tão escondido. Jovem com tantos privilégios, sucesso, e prestígio, dificilmente estava preparado para encarar que meu irmão estava em sofrimento. Homem não pode chorar. Não pode demonstrar sentimentos, não pode se aproximar porque o feminino significa fraqueza. Homens são treinados a praticar e sofrer assédios, domesticados a atacar e ser atacado, ferir e ser ferido. Enfim, a construção da masculinidade é a distorção do masculino, refletindo nos homens, comportamentos distorcidos, capaz de torná-los vítimas de si mesmo.

Se a pressão foi sobre ele, na verdade também a pressão foi sobre mim, por não ter entendido mais profundamente, como a banalização pode causar cegueiras e silêncios. Em uma sociedade patriarcal, costumamos seguir regras e comportamentos comuns a maioria dos homens. Esquecemos das individualidades, das subjetividades e infelizmente optamos por um comportamento de rebanho.

As masculinidades e suas relações tóxicas surgem dentro de uma descontinuidade. Dentro de uma ruptura com a realidade projetando como reais as ilusões assumidas na vida de cada homem. A descontinuidade é um processo de rompimento consigo e com os demais que estão a sua volta. Bloqueio de emoções e de palavras. Império tirânico do silêncio e do vazio preenchedor das necessidades masculinas. Meu irmão não tinha tempo para nada, mas eu também deixei de ter tempo para ele. Porque agendas não batiam. Compromissos disfarçados como fugas. A falta da vontade do encontro. Um hábito se torna uma regra de conduta, quando essa regra passa a ser seguida e obedecida cegamente. Sem questionamentos. É isso que as relações tóxicas fazem nas masculinidades. Assumimos um processo de generalização, de padronização e de naturalização. Ahhhh, homens são todos assim, calados, fechados e não se abrem com ninguém. É necessário vencer esta força com muito carinho e afeto. Gostar de si mesmo é o primeiro passo a aprender a ouvir a angústia do outro.

O alerta amarelo deve ser dados a todos os homens. Quebrar com o código das masculinidades tóxicas porque em seu ciclo vem aumentando a situação de suicídios. Quero deixar um claro aviso, que homens possam cuidar de si, que homens possam cuidar de outros homens, com exemplos de vida. A vida é muito mais forte que padrões que inibem os sentimentos. Acolher, escutar, abraçar pode fazer a diferença.

Aprender significa estar num fluxo contínuo de olhar a si mesmo para ver o outro. Porque aprender é um processo corretivo de nossas percepções. Aprender é possibilitar a continuidade da vida dentro de nossos corações.

Sergio Barbosa – Belo Urbano. Professor de Filosofia. Co fundador da Campanha Laco Branco. Gestor de projetos voltados para homens autores de violência contra a mulher. Pai de três pessoas maravilhosas. Adora plantas e verde.