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Eu e ele no sofá da sala

Foi em um carnaval que o conheci, passei os quatro dias no sofá com ele. No sofá da sala, sofá cama por sinal. Não é o que deve estar pensando caro leitor. Eu explico. Na véspera, em uma festinha de carvanal na casa de amigos da escola do meu filho Pedro, ele com seus três aninhos, torci meu pé na hora de ir embora em cima do salto alto. A casa era longe da minha e ainda tinha que buscar os outros dois filhos, cada um em um local. Fui firme segurando o choro de tanta dor. Minha noite foi um horror e no dia seguinte, o médico me imobilizou, além de ter que tomar todos anti-inflamátorios necessários.

Bom, meus filhos tiveram um carnaval com o pai e eu fiquei bem acompanhada com O CAÇADOR DE PIPAS.

Que livro é esse? Senti tantas emoções! Conheci Cabul dos anos 70, os dois meninos Amir e Hassan, a força do amor desses amigos, que também eram meio-irmãos… mas isso só soube no decorrer da história. Das diferenças das classes sociais, da decadência do Afeganistão e todas as violências… e das competições de pipas, que me levaram também para a minha infância…. eu nunca consegui empinar uma pipa, nunca soube colocá-la no alto, já meu irmão era ótimo nisso.

Senti tantas emoções com aquele livro, com aquela história tão redonda, tão bem escrita, tão profunda. Chorei profundamente em alguns momentos, me encantei com belezas em outros. Devorei o livro nos quatro dias que fiquei naquele sofá com o pé imobilizado.

Quando terminei, minha sensação era de plenitude. Sentia uma tristeza por me despedir, a história estava tão impressa em mim que foi difícil me desligar, mas ao mesmo tempo, tinha a consciência que tinha chegado ao fim como deveria ser, sem ter que tirar e nem colocar nada a mais. Que história!

Tenho vários livros que gostei muito, alguns me marcaram profundamente, mas O Caçador de Pipas me despertou algo além da história. Primeiro pelo impacto que senti. Segundo, porque quis saber mais sobre o autor, Khaled Hosseini, tive e ainda tenho vontade de conversar com ele sobre seu processo criativo. Terceiro, me despertou o desejo de escrever uma história e publicar um livro, mas naquele momento não me vi capaz, porém uma semente foi plantada em mim.

De lá para cá, voltei a escrever mais, me atrevi nos contos, quem sabe uma hora venha a escrever uma bela história que vire um livro. Quem sabe alguma de um carnaval no sofá? E quem sabe ainda, alguém, um dia, se inspire pela minha história…

Adriana Chebabi  – Bela Urbana, fundadora do Belas Urbanas onde faz curadoria dos textos e também escreve. Publicitária. Curiosa por natureza.  Divide seu tempo entre seu trabalho de comunicação e mkt e as diversas funções que toda mulher contemporânea tem que conciliar, especialmente quando tem filhos. É do signo de Leão, ascendente em Virgem e no horóscopo chinês Macaco. Isso explica muita coisa.

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MULHER DAQUI PRA FRENTE

Despertando para somar lembranças… nessa página de meninas “arretadas”… por natureza. Eis que, vibro minha leituras de mulher para mulher.

Pergunta básica: Estarmos BELAS hoje, nos faz melhor do que estiveram outras mulheres ontem?

Resposta básica: Vasculhando minha estante, qual para muitos jovens seres possa ser (cringe)… É preciso usar a inteligência mental usando a visada inteligência artificial… ela possui vantagens sobre conhecimentos necessários, a respeito de belas mulheres que nos antecederam.

É  vibrante.

É estimulante.

É essa senhora Marina Colasanti… hoje com 84 primaveras, foi uma das belas dos anos 80. Tendo em conta que sempre… a sua autoestima nos foi presenteada… desde 1968, carregada de nosso tempo vivendis… para o novo modus vivendis, que o “BELAS URBANAS” como outras BELAS, até hoje continuam jogando no campo… saindo da arquibancada que sempre ficou atrás das grades…. das telas de arames (farpados) ora essa!

O sumário desse meu livro 1° EDIÇÃO 1981 –  Livro “MULHER DAQUI PRA FRENTE”, ao ler, vocês ficarão emocioandos… e tem um que nos fala com palavras gritantes…  página 81 – MEU MARIDO NÃO DEIXA!

BELAS URBANAS… e tem outro na página 55 –  que nos mostram o revezamento estrutural que grafita sobre: MULHERES ASSASSINADAS!

Pesquisem sobre essa ardente escritora… que com argumentos fatais (expressão) nos faz pensar que… o tão espevitado e sarcástico cringe da energia, que nos ofertam hoje os roteiros midiáticos sobre palavras…

No fundo do baú, tem muito mais do que grafitam muitas vãs filosofias.

Boa leitura para todos vocês! E também reafirmo com as palavras do meu pai…  Joaninha, um barco só chega no cais, se cuidarmos do remos e não propriamente das remadas. Até (e não é loucura da Joaninha!

Joana D’arc de Paula – Bela Urbana, educadora infantil aposentada depois de 42 anos seguidos em uma mesma escola, não consegue aposenta-se da do calor e a da textura do observar a natureza a redor. Neste vai e vem de melodias entre pautas e simetrias, seu único interesse é tocar com seus toques grafitados pela emoção.
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O velho livro

Vindo de uma família de leitores, cresci com livros em qualquer espaço onde eles coubessem.

Estantes e prateleiras cheias de livros para aumentar e saciar curiosidades.

Mas foi um dia, revirando uma estante na casa da minha avó que eu encontrei o primeiro livro que eu iria ler mais de uma vez.

Nesse dia, jovenzinha eu, apenas 12 ou 13 anos, achei um livro atrás  da coleção de discos de vinil do Beethoven, meu avô amava música clássica.

Meu avô já havia nos deixado, então, nunca tive a chance de perguntar de onde esse livro veio.

O livro se chama Désirée e a escritora se chama Annemarie Selinko. Tinha rabiscos de criança do lado de dentro da capa, um desenho de um gatinho, mas nem minha mãe ou meus tios lembravam de ter visto ou rabiscado esse livro. O livro era uma edição dos anos 50, todo amarelado, cheirava velho e poeira. 

Eu lembro minha avó dizendo que esse livro não era para mim, eu era muito jovem para apreciar o conteúdo. Na verdade, acho que ela disse isso só para fazer meu lado turrão aflorar e teimar em ler o livro. 

Eu já era apaixonada por histórias, sempre fui, desde aquela primeira aula na escola primária.

O livro é grande, centenas de páginas, comecei a ler e me encantei. Me apaixonei pela história, demorou para eu ler. Quando passei da metade do livro, descobri que haviam duas páginas em branco, erro de impressão. 

E agora? Desastre?  Bom, continuei lendo, encantada com a história de amor entrelaçadas com guerras, tristezas e reviravoltas… terminei o livro e aquelas páginas em branco não saíram da minha cabeça, mas como a gente cresce, eu acabei colocando as páginas lá no fundo do baú.

Até que um dia minha mãe me comprou uma versão nova do livro, um presente, eu já tinha mais de 25 anos, as páginas estavam lá…

Não havia como só ler duas páginas, então resolvi ler o livro todo novamente e dessa vez a história foi por inteira.

O livro que eu achei na casa dos meus avós eu acabei perdendo, mas o que minha mãe me deu tem um gatinho na capa do lado de dentro desenhado pelo meu filho.

Ana Carolina Beresford – Bela Urbana, trabalha numa caridade que ajuda pessoas com deficiências físicas e mentais a locomoverem-se, sente muito orgulho do seu trabalho. Adora animais e viajar sempre que pode.
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Crer ou não crer

Um livro que me marcou muito, foi o livro Crer ou não crer de Leandro Karnal e Padre Fábio de Melo.

É uma lição de vida, de democracia, de respeito à opinião do próximo. De uma inteligência e sabedoria ímpar, esses dois homens debatem sobre religião, e com suas ideias e pensamentos se entrelaçam numa harmonia que muitos de nós deveríamos, nesta sociedade intransigente e intolerante aprender, refletir e botar em prática.

São nas diferenças que somos todos iguais. Heligare é a palavra de ordem.

Indico a leitura, que te toque como me tocou.

Macarena Lobos –  Bela Urbana, formada em comunicação social, fotógrafa há mais de 25 anos, já clicou muitas personalidades, trabalhos publicitários e muitas coberturas jornalísticas. Trabalha com marketing digital e gerencia o coworking Redes. De natureza apaixonada e vibrante, se arrisca e segue em frente. Uma grande paixão é sua filha

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Não apresse o rio – Barry Stevens

Fiquei alguns dias pensando em qual livro sugerir e resgatar minhas mais profundas lembranças. Depois entendi que, o que quero compartilhar, não é apenas um livro marcante, mas um livro de cabeceira. Foi um presente de uma amiga muito amada, que tem um olhar muito amplo e afetuoso para a vida e amigos. Muitos anos se passaram desde que o li pela primeira vez. Depois foram mais quatro vezes.

Antes de apagar o abajur, se minha mente está tentando apressar meus planos, sempre o resgato, abro em qualquer página, folheio e dali meu coração inquieto se acalma.

Para vivenciar e ampliar a experiência pessoal e as dificuldades em outros âmbitos da vida, a autora usa da Gestalt-terapia, do estilo de vida Zen e índios americanos. Explana com maestria a questão do tempo, do quão somos escravos de nossas mentes apressadas e quantas coisas colocamos à frente de nossos maiores prazeres.

No mundo atual, o mais difícil é ganharmos do tempo que achamos que não temos. Do tempo que fazemos e do que perdemos ao não sabê-lo administrar. Por muitas vezes, colocamos nossos desejos à frente e, ao querer fazer valer somente a nossa vontade e não entender ou compartilhar a do outro, acabamos criando conflitos. Porque acabamos vivendo aquilo que nos ensinaram. É como levar velhos costumes e padrões de nossos pais aos filhos e netos e por aí vai. Parece que virou um costume generalizado os conflitos gerados pelo ego. O ego determina as vivencias diárias do ser humano. Ou seja, te toma O tempo. O ego levanta muros e distâncias.  Não tem como equilibra-lo sem praticar a humildade onde reconhecemos que o outro não tem o mesmo tempo que o seu. E vice-versa. Temos que praticar a nobreza de espírito para o respeito adentrar e o amor também. Mas o que é o amor? Daí fica para outro assunto. Quero isso, aquilo. Tem que ser assim, senão não rola.

A vida real é assim. Mas será que basta conceitos e coisas que nos falaram como a vida deve ser? Claro que não! Não rola mesmo! Somos feitos de saberes, aprendizados e de muitas vivências. Mas não podemos achar que o que temos pra nós são as certezas para o outro de um caminho melhor. Daí a expectativa morre na praia. Ou melhor, no rio!

Reside aqui, nessa pluralidade de vozes, as problematizações conceituais que envolvem presente, passado e futuro. E aí, volto à questão do tempo.

Somos engolidos por ele. Você tem pouco tempo ou a sua vida escorre pelas águas de um rio sem menos aproveitar a paisagem? Em épocas de águas turbulentas, o tempo corre. Porém, se apenas soubermos remar no compasso certo, encontraremos a calmaria em águas cristalinas.

O texto abaixo é um pequeno trecho dessa obra. Tire uns minutos para refletir. É preciso conhecer sua vida. Mas dialogar com ela é essencial. Boa leitura.

Não apresse o Rio, ele corre sozinho, por Barry Stevens.

O rio corre sozinho, vai seguindo seu caminho. 
Não necessita ser empurrado. 
Para um pouquinho no remanso. 
Apressa-se nas cachoeiras.
Desliza de mansinho nas baixadas. 
Precipita-se nas cascatas.
Mas, no meio de tudo isso vai seguindo seu caminho. 
Sabe que há um ponto de chegada. 
Sabe que seu destino é para a frente.
O rio não sabe recuar. 
Seu caminho é seguir em frente.
É vitorioso, abraçando outros rios, vai chegando no mar.
O mar é sua realização.
É chegar ao ponto final.
É ter feito a caminhada.
É ter realizado totalmente seu destino.
A vida da gente deve ser levada do jeito do rio.
Deixar que corra como deve correr.
Sem apressar e sem represar.
Sem ter medo da calmaria e sem evitar as cachoeiras.
Correr do jeito do rio, na liberdade do leito da vida, sabendo que há um ponto de
chegada. 
A vida é como o rio. 
Por que apressar? 
Por que correr se não há necessidade? 
Por que empurrar a vida? 
Por que chegar antes de se partir? 
Toda natureza não tem pressa.
Vai seguindo seu caminho. 
Assim também é a árvore, assim são os animais.
Tudo o que é apressado perde o gosto e o sentido.
A fruta forçada a amadurecer antes do tempo perde o gosto. 
Tudo tem seu ritmo. 
Tudo tem seu tempo. 
E então, por que apressar a vida da gente? 
Desejo ser um rio. 
Livre dos empurrões dos outros e dos meus próprios. 
Livre da poluição alheias e das minhas. 
Rio original, limpo e livre. 
Rio que escolheu seu próprio caminho.
Rio que sabe que tem um ponto de chegada.
Sabe que o tempo não interessa. 
Não interessa ter nascido a mil ou a um quilômetro do mar.
Importante é chegar ao mar.
Importante é dizer “cheguei”.
E porque cheguei, estou realizado. 
A gente deveria dizer: não apresse o rio, ele anda sozinho.
Assim deve-se dizer a si mesmo e aos outros: não apresse a vida, ela anda sozinha
Deixe-a seguir seu caminho normal.
Interessa saber que há um ponto de chegada e saber que se vai chegar lá. 

Barry Stevens

Dani Fantini – Bela Urbana, Relações Públicas de formação. Se jogando na escrita de coração!
Mãe da Marina, filha super companheira! Cuida da casa, trabalha com gente, ama animais, plantas, é cercada de bons amigos e leva a vida com humor! Pode-se dizer que é completa, mesmo faltando algumas peças nesse enorme quebra-cabeças que é viver!


Foto Dani: @solange.portes

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O tempo e o vento

Sou uma acumuladora de livros, não tenho coragem de descartá-los. Enquanto tenho espaço suficiente vou juntando. Impossível me separar dos romances, biografias e livros sobre viagens. São eternos.

Coleções povoam minha casa, moram comigo Jorge Amado, José de Alencar, Machado, Zélia Gatai, Érico Veríssimo e muitos estrangeiros, Eça de Queiroz, Milan Kundera, Susanna Tamaro, e muito mais gente vivendo em cada obra. Alguns foram emprestados ou doados a parentes, alunos e amigos, não sei se os terei de volta. Não importa. Eles estão lá com alguém que eu gosto e cuida bem deles (assim espero).

O maior consumidor de meus livros é “O menino que rouba livros”, meu irmão, ratão de sebo. Ele adora vir aqui mexer nas estantes e levar alguns de quando em vez. Eu sempre lhe digo: – são nossos, pode levar. Gostamos de ler e sentir o livro. Nosso pai foi o culpado por esse ótimo vício.

Agora, confesso, foi difícil escolher o mais marcante da minha vida. Todos, na verdade, indicaram algum percurso, mostraram exemplos a seguir ou a evitar. Eu tenho em mim um pouco de cada obra.

Custou decidir, mas escolhi: “O tempo e o vento”.

Não quero me alongar, comento apenas a primeira parte, minha preferida, o início da saga da família Terra-Cambará. História tão forte e impressionante que já se tornou minissérie e filme.

As descrições de Bibiana, além do filme “A Missão”, despertaram o desejo de conhecer aquelas paragens. Efetivamente, conduziu-me a viagens imaginárias e, depois, a conhecer o território das Missões.

As personagens femininas: Ana e Bibiana Terra são mulheres exemplares. Talvez algumas das que me levaram a analisar personagens femininos na minha carreira de pesquisadora e motivação para eu ser uma “feminista feminina”. Sempre me identifiquei com mulheres corajosas e arrojadas em seu tempo. Muito cedo questionava sobre como seria minha vida, tendo visto, com desagrado, exemplos familiares de mulheres submissas. Eu rompi com o padrão “mulher margarina”.

Justamente, “O Continente” mostra a coragem e a determinação dessas duas mulheres muito importantes na construção da cultura sulista do Brasil. São heroínas, sobretudo, porque não se entregaram às adversidades de seu tempo rude e machista.

Acho estupenda a forma da obra. Veríssimo intercala períodos sem obviedade cronológica. Como num quebra cabeça literário, desafia o leitor a um exercício mental, criando o clima e transportando numa viagem à região do Minuano, o vento gelado. Cria tensão em lugares e situações tenebrosas, sempre ligando os personagens com o tempo e a dureza dos extremos climáticos dos pampas dos Terra.

Flailda Brito Garboggini – Bela Urbana aquariana. Formação e magistério em marketing e publicidade na PUC-Campinas. Doutora em comunicação e semiótica. Dois filhos e quatro netos. Hobbies: música, leitura e cinema. Paulistana por nascimento, campineira de coração.

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ENQUANTO LEIO, A CASA É NOSSA

Livros… imagine que você está em frente a um lugar desconhecido, a porta se abre lentamente e você vai entrando, com alguma cerimônia, apreciando as primeiras pistas sobre o que virá depois do próximo passo. Esta é a minha sensação ao iniciar uma leitura. É como se eu fosse recebida pelo autor em sua casa, no seu universo e, por um tempo é também a minha casa, o meu pouso…

Assim, a leitura é para mim um lazer e um direito. É por ela que eu me valho das melhores aventuras e viagens internas e distantes e profundas.

Eu poderia falar de muitos livros e de várias guinadas na vida, no pensamento, no meu próprio despertar… mas, tendo que escolher um, vou ser fiel à minha profunda paixão, que fez mudar a maneira de entender a minha humanidade.

Minha professora de Língua Portuguesa do colegial (atual ensino médio) costumava começar suas aulas com um poema ou trecho de livro escrito a giz no canto da lousa. Como era bom saber que a cada aula, haveria também um presente que eu anotava, atentamente, num caderno de poesias, músicas e pensamentos.

Foi desse modo que, pela primeira vez, eu li algo de Clarice Lispector:

“É tão difícil falar e dizer coisas que não podem ser ditas. É tão silencioso. Como traduzir o silêncio do encontro real entre nós dois? Dificílimo contar: olhei para você fixamente por uns instantes. Tais momentos são meu segredo. Houve o que se chama de comunhão perfeita. Eu chamo a isto de estado agudo de felicidade. Estou terrivelmente lúcida e parece que alcanço um plano mais alto de humanidade. Ou da desumanidade – o it.”

Eu fui tocada e passei a perseguir a autora. Devorava seus livros, ficava atenta às entrevistas dela nos jornais, me encantava com tudo, mas, esse trecho continuava solto, eu não o encontrava nas leituras e era tão forte em mim – Até hoje, eu o digo, sílaba por sílaba, sem precisar ler.

Um dia, numa visita inusitada à biblioteca da casa da amiga de uma amiga, peguei na estante um livro aleatório. Era de Clarice e eu comecei a ler ali mesmo. Pedi emprestado com a maior cara de pau, pois era a primeira vez que nos víamos; ela, generosamente, concordou que eu levasse o livro, desde que o devolvesse, óbvio.

Me deliciei com cada palavra de Água Viva. Até que na página 55, no meio do parágrafo, encontro aquele trecho que ecoava em mim havia quase três anos. Irretocável. Ainda me emociono e me recordo daquela madrugada.

Lia e relia. Fazia ainda mais sentido e melhor, fazia de mim muito mais próxima de Clarice, porque este livro é uma mistura dela própria com uma história que traz toda dualidade humana, em circulação, pela arte, pela palavra, pela intensidade.

Para mim, o livro mais Clarice de todos é Água Viva.

Não muito tempo depois, eu cheguei à página 97, que é o ponto final dessa obra. Mas, ao amanhecer, fiquei profundamente triste. Eu precisava devolver o livro e não sabia como me separar dele. Tanto tempo para encontrá-lo e tão pouco tempo juntos.

Eu tinha necessidade de reler e grifar e interagir com aquela história para me sentir viva, inteira e lúcida, como a protagonista.

Resolvi esse impasse passional com uma ligação. Encomendei um exemplar para mim e entreguei aquele à dona, sem remorsos.

Reli Água Viva muitas vezes. Há muitos outros trechos lindos e significativos que transformam o olhar e ensinam sobre a beleza submersa em cada um de nós.

“Aquilo que ainda vai ser depois – é agora. Agora é o domínio de agora. E enquanto dura a imprevisão eu nasço.”

Quando Clarice Lispector abre a porta, eu me sinto em casa, de verdade.

(Leiam: Água Viva – Clarice Lispector – minha edição é 9ª. da Editora Nova Fronteira).

Dany Cais – Bela Urbana, fonoaudióloga por formação, comunicóloga por vocação e gentóloga por paixão. Colecionadora de histórias, experimenta a vida cultivando hábitos simples, flores e amigos. Iinstagram @daniela.cais

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Uma caixa de livros

Eu tinha por volta de 16 anos quando um vendedor me abordou na rua.

Ele me ofereceu uma caixa de livros por uma quantia que eu podia pagar, com um dinheiro
que tinha de alguns bicos que eu fazia. Eu nem sabia que tipo de livros tinha na caixa, mas
eram livros, me senti comprando um tesouro.

Eu era compulsiva por escrever, tinha inúmeros caderninhos com meus escritos e ninguém
sabia. Eram poemas, contos, diários…E a partir daquele momento, aquela caixa mágica.

Quando cheguei no meu quarto, meu esconderijo, e abri a caixa, o primeiro que eu vi: “Morro
dos ventos uivantes”, de Emily Brontë. Um romance proibido entre Heathcliff e Catherine.
Rústico, selvagem, sedutor, rebelde, do início ao fim. Um livro que recebeu várias críticas na
época.

Todo final de tarde eu me recolhia para viajar no livro, e era num lugar secreto, o morro
vermelho da cidade. Era um morro da cidade de Jaú, uma cidade montanhosa e ele era o ápice
do local. A leitura tinha que ser lá, longe de tudo e de todos, era o meu momento particular.

Um local meio proibido por se tratar de ser longe, mas eu ia com a minha bike e ninguém
sabia, nem notavam minha falta. Eu fugia daquela loucura e ia…

Chegava suada da pedalada intensa, sentava no chão e abria o livro. Que capa, meu Deus!

Uma história de amor gótico, cheia de fantasmas reais e imaginários, um romance inusitado,
indescritível…enigmático. Era o meu momento secreto com aquelas páginas…com os
personagens, cada um deles. Um cenário fantástico que a minha mente formava e sentia.

Que viagem! Aquele livro me salvava…

Lembro até hoje quando li o último capítulo e comecei a chorar, pedindo aos prantos para a
autora: “por favor, continua…continua…”

Naquele dia eu vi o mais lindo entardecer da minha vida…O sol se despediu com uma
mensagem…e nos meus anseios era para mim. “Sonhe”.

Passei a imaginar a vida mais cheia de cores…Esse é o poder de um livro.

Leia…Leia…Leia…

Siomara Carlson – Bela urbana. Arte Educadora e Assistente Social. Pós-graduada em Arteterapia e Políticas Públicas. Ama cachorros, poesia e chocolate. @poesia.de.si
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Um livro que me marcou…

Um?! Difícil escolha… são tantos “amigos”, “amores”, tantas “viagens”, mundos explorados… tantas descobertas, sonhos sonhados numa página.

Sempre o mais atual é o que me marca porque quando estou com um livro que me prende é como se um portal se abrisse e eu passo a fazer parte daquela narrativa… respiro junto em traços de tinta e as palavras fluem pelas minhas veias… mergulho nas páginas, as letras se movem….

Desde Proust à Paulo Coelho… de clássicos à comerciais… o que me encanta são os personagens, a linguagem fluída, a possibilidade de conhecer mil mundos sem ao menos sair do lugar.

Um livro que me marcou foi “A menina que roubava livros”… numa realidade de guerra, onde a dor e caos estavam por todos os lados (qualquer semelhança não é mera coincidência) os livros proporcionavam a fuga necessária para se manter a sanidade… Mas não foi isso que me marcou…

Me apaixonei pela Morte nessa bela narrativa.

Não, não é necessário que se preocupem, pois essa paixão não é daquelas que me fizeram flertar com ela ou colocar minha vida em risco… muito pelo contrário.

Me apaixonei pela figura representada da Morte que não tinha prazer nenhum em levar àqueles que os vivos tinham feito chegar até ela… apenas realizava seu trabalho. Uma figura simples e ao mesmo tempo complexa que se permitiu ter compaixão num determinado momento, mesmo contra toda a sua essência.

Em meio ao caos, que a gente continue tendo refúgios e, que a gente consiga ser mais flexível mesmo que uma vez na vida.

Adriana Rebouças – Bela Urbana, formada em Publicidade. Cursou gastronomia no IGA – São José dos Campos. Publicitária de formação e Chef por paixão. Sócia do restaurante EnRaizAr em São José do Campos – SP.

Foto Adriana: Taine Cardoso Fotografia
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A Arte de Amar

Sinto-me lisonjeado ao ser convidado a relatar sobre um livro que me marcou, tarefa que me excita ao me lembrar de qual, visto que são inúmeros, no sentido do encantamento quanto a conteúdo, como também por ter contribuído no meu autoconhecimento, como todo excelente livro.

Leitura é um dos meus hobbies preferidos e eu a tenho como o nutriente da alma.

Vieram-me à mente vários livros, fiz uma viagem ao tempo, lembrando-me desde a coleção de Monteiro Lobato, o Sítio do Pica-Pau Amarelo, passando pelos técnicos da época da faculdade de Psicologia e da Pós-Graduação.

Poderia citar inúmeras obras, porém cito A Arte de Amar, de Erich Fromm, que, como o título sugere, amar é uma arte e como tal requer conhecimento e prática, desmistificando o conceito de amar como sinônimo de paixão,  confusão esta aceita e reforçada pela nossa sociedade.

Coloca o amar como qualquer outra arte, mencionando os vários tipos de amor e diferenciando o amar dito saudável do neurótico.

É encantador, coloca o amor como resposta mais completa ao problema da existência humana, e sugerindo a maneira de obtê-lo e conservá-lo.

Na introdução já há um indicativo desta jornada quando menciona o Filósofo Grego Paracelso: quem nada conhece, nada ama. Quem nada pode fazer, nada compreende. Quem nada compreende, nada vale, mas quem compreende também ama, observa, vê. Quanto mais amor houver inerente em uma coisa, tanto maior o amor. Aquele que acredita que todos os frutos amadurecem ao mesmo tempo como as cerejas, nada sabe a respeito das uvas.

Em suma, ler é uma viagem, um passeio as profundezas do ser, do Self, permeado por uma infindável imaginação.          

José Eduardo Bertazzoli – Belo Urbano. Psicólogo Clínico, especialista em Dependência Química e Psicopatologia, atualmente trabalhando no Centro de Atenção Psicossocial, CAPS Álcool e Droga Reviver, do Serviço de Saúde Mental Dr. Cândido Ferreira. Amante de leitura, mitologia, poesia e esporte.. acredita na realização do potencial humano.