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EU TE AMO TANTO A TI

Madrugada magra de estrelas
Bar afogado em delírios
Tu
Te divertes entre tranquilos perigos
Homens atenciosos que te oferecem álcool
E colo

Uma amiga pergunta:
Por onde anda
Quem o vê?

Então
Te lembrarás de mim
E eu
Estarei longe demais
De teus prolixos teoremas sobre a felicidade
Das verdades devastadoras que nos constrangiam
Ditas com tanta delicadeza
E boa educação

O brilho do teu olho
Não mais alcançará o brilho
Do meu olho
E naturalmente mudarás de assunto

Eu – que te amo tanto a ti –
Tu – que me amas dissimuladamente –
Viveremos um no futuro do outro
(Vestígios de minhas pegadas no teu corpo
Teu sorriso abandonado no meu coração)

Algo de mim te alegrará
Jeito de ti me acompanhará
Cúmplices sentimentos diante de cada espanto:
a criança pobre que vende lágrimas
a madrugada deslumbrando-se em segredos
este país ausente de Deus

Eduardo Lapinha – Belo Urbano, poeta, letrista, Agente Fiscal de Rendas e ex-geologo é um aquariano com ascendente em Peixes que já sonhou muito. Hoje, fala menos, ouve mais e tem na literatura seu paraíso artificial.

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A Vida

A ida que tem a vida repleta e colorida só se perde pelas mazelas que insistimos em carregar.
O sorriso que subestimamos tem um grande poder de mudar, mas as caretas que carregamos costumam rugas criar.
A atitude positiva, a forma de olhar a vida é decisão sua e você não precisa se entregar.
As dificuldades que enfrentamos o tempo vai levar e tudo que escolhemos sofrer vai ficar para trás.

Quando fecharmos nossos olhos podemos escolher lembrar das largas gargalhadas que demos, das palhaçadas que fizemos e do que sentimos em cada um destes momentos.

Um gosto gostoso, de que vivemos, que foi bom, vai renascer em cada lembrança de vida, e você vai se olhar no espelho e pensar que soube realmente viver.

Diga não ao sentimento ruim, ele vai passar. Diga não ao sentimento de raiva, ele não vai resolver absolutamente nada. Diga não ao que não agrega, se por um momento este sentimento ousar pousar em você, pense e sorria, este remédio vai amenizar os sintomas do sentimento ruim, até que o remédio definitivo, o tempo, faça o seu trabalho.

A vida só tem um V, o resto é justamente IDA!

André Araújo – Belo Urbano. Homem em construção. Romântico por natureza e apaixonado por Belas Urbanas. Formado em Sistemas, mas que tem a poesia no coração e com um sorriso de menino. Sempre irá encher os olhos de água ao ver uma Bela Mulher sorrindo
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Mas você não está mais lá

Eu me lembro de quando tinha medo de ficar sozinha em casa
E de quando eu não conseguia nem ir comprar meu próprio pão
E o melhor de tudo
Era que eu não precisava fazer nenhum dos dois

Me lembro de quando eu via o mesmo filme mil vezes
E me contentava com a rotina

E de quando eu não pensava em meninos
Ou no amor
Nem mesmo na companhia, mesmo que vazia
Ou em ter alguém mais
Além de mim
Que saudade de quando eu era suficiente!
De quando eu dizia que estava sozinha
E que estava tudo bem
E era verdade

Eu me recordo de quando eu não me arrumava
E nem era preciso
Ou esperado que eu o fizesse
E de um tempo quando eu não tinha memórias
E portanto não sentia saudades

Hoje eu tenho saudades
De quando eu tinha certeza de mim
E de quando parecia que tudo seria igual para sempre
E que o futuro nunca chegaria

Eu ainda me lembro daquela menina
Que parecia incerta por fora
Mas que por dentro era templo de conforto
Uma rocha
Eu me olho no espelho
E sorrio por saber que foi você quem me fez a mulher que sou hoje
“Ainda penso em você
Mas você não está mais lá”
Ela sorri de volta

Giulia Giacomello Pompilio – Bela Urbana, estudante de engenharia mecânica da UNICAMP, participa de grupos ativistas e feministas da faculdade, como o Engenheiras que Resistem. Fluente em 4 idiomas. Gosta de escrever poemas, contos e textos curtos, jogar tênis, aprender novos instrumentos e dançar sapateado. Foi premiada em olimpíadas e concursos nacionais e internacionais de matemática, programação, astronomia e física, além de ter um prêmio em uma simulação oficial da ONU
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A linguagem do amor em sala de aula

Ao entrar numa sala de aula o aluno/professor é apresentado a vários universos ao mesmo tempo, são histórias, vivências e experiências de vida que se cruzam entre si. No meio de tudo isso há a personalidade de cada indivíduo que é expressa no comportamento dentro daquela coletividade.

Quando comecei a dar aula eu já conhecia “As cinco linguagens do amor” descritas pelo autor Gary Chapman. Comecei a observar o jeito de cada aluno e como ele demonstrava amor e também se sentia amado.

De acordo com o autor as cinco linguagens do amor são: Palavras de afirmação; Tempo de qualidade; Presente; Toque físico e Atos de serviço. Todos nós temos um pouco de cada linguagem, mas sempre tem a linguagem que se destaca, é aquela que está mais presente na nossa comunicação.

Minha linguagem de amor que fala mais alto é “presente” e eu preciso descrever como reflito sobre minha linguagem de amor em sala de aula. Eu expresso amor dando presente, por isso eu presenteava os alunos aniversariantes com um mimo, era algo simples e padronizado, como uma borracha colorida ou um lápis mais descolado. Essa era minha maneira de dizer “você é importante pra mim”.

Quando eu tinha uns 5 anos de idade e era aluna do período pré-escolar, eu levava flores que pegava no caminho e dava para a professora como se fosse a maior declaração de amor.

Sinto-me amada quando ganho um presente e durante a jornada de docente eu fui muito presenteada, ganhei vários mimos, como bilhetes/desenhos/canecas/livros. Cada mimo diz para mim até hoje que sou amada.

Em 2014 eu ganhei uma joia! Naquela época eu era professora de uma escola da periferia na zona sul de São Paulo. A minha joia foi recortada de uma revista e eu fui presenteada porque ao ganhar o aluno me disse que se ele tivesse dinheiro de verdade ele me daria uma joia de verdade. Eu agradeci e me emocionei porque a maior verdade para mim foi sentir o carinho daquele gesto, pois aquele aluno me comunicou seu amor da forma mais verdadeira.

Miriam Camelo de Assis – Bela Urbana, alguém sendo constantemente reformada pelas palavras. Formada em administração e letras. É professora de língua portuguesa por profissão e paixão. Ama artesanato e uma boa conversa.
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Luz de Abril

Sei que é estranho depois de tanto tempo ainda ficar pensando;
Você marcou demais a minha vida, tinha uma forma polida de mexer as mãos e de sorrir;
Tinha uma inteligência natural sobre tudo, sobre o Universo e sobre as pessoas;
Muitas vezes me perguntei como poderia, como era tão inteligente;

Mesmo não sendo seu filho, muitas vezes me senti conectado com o tom da sua voz, que ainda escuto;
Tom que por muitas vezes me disse “Seu Caminho não é aqui Dé” e eu olhava com profunda admiração para você;
O cigarro garrado na mão e posições claras sobre o que pensava e o que queria;
Sabia muito bem se colocar no seu lugar e colocar quem quer que fosse também no seu lugar;

Já tem tempo que você partiu, partiu para outro lugar, partiu porque sua missão acabou, partiu porque tinha que partir;
Mas mesmo com tanto tempo, guardo de você muitas resposta e confesso, ainda meu pego perguntando e ouvindo no mesmo tom de você;
A luz de Abril, o sorriso que se partiu, as lembranças que deixou, os sonhos que me ajudou a construir;
Tudo isso ficou aqui, então Luz de Abril, você também ficou, meu coração, ainda de menino, agradece o colo quente que me deu.

Um enorme beijo no seu coração.

André Araújo – Belo Urbano. Homem em construção. Romântico por natureza e apaixonado por Belas Urbanas. Formado em Sistemas, mas que tem a poesia no coração e com um sorriso de menino. Sempre irá encher os olhos de água ao ver uma Bela Mulher sorrindo
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Nunca sei onde tudo começa…

As vezes parto dos jardins de Rosa, minha bisavó de vó e mãe, e de um amor que a gente hoje teima em ver apenas em livro bom… Ela, em sua forçosa pena de freira, cumpria a tradição sem vocação, vendo o mundo revezar da janela do convento. Mas era feita de flor e força, e reagiu no dia em que lhe brotou o amor, quando o velho jardineiro de sempre deu ao sobrinho, jardineiro de nunca, a missão de “educar” os jardins… E através da moldura de pedra, a Rosa viva e o jovem jardineiro substituto viram nascer o amor à primeira vista, e vencer a deserdação, as incertezas e o próprio tempo. Vó Delfina nasceu dessa luta… Gosto muito dessa parte do caminho que chega até aqui… Orgulho-me dessa coragem, sorrindo ao imaginar que um pouco dela ainda corre, quase nada diluída, nas minhas veias de admiração pela minha avó e por minha mãe.

As vezes tropeço na fila de pretendentes de meu bisavô de vô e mãe, no tempo em que se ia aos tabloides do Porto atrás de nova chance de matrimônio. Mas que tipo de amor pode nascer daí? – você se pergunta… O mais puro de toda a minha certeza. Na fileira de candidatas a bisavó, minha futura avó Delfina, única e ímpar, tentava a sorte. Muitas vidas a levaram até ali, algumas que os segredos já não contam mais, mas que muitos fados saberiam cantar em sua própria voz (e como eu gostaria de ouvir!). Esperava sua vez… Na outra ponta do acaso, um dos filhos de meu bisavô Cardoso resolveu ser mais. Pugilista desconstruído à mágoas, basquetebolista de rala-coco, nadador d’ouro e ourives de prata, jamais soube que era a minha pessoa favorita nesse mundo, mas encontrou ali, naquela fila de mãe postiça, a dona de seu coração e do que mais pudesse querer. Seu Cardoso, como o tempo tratou de cunhar, foi de Dona Delfina até o fim. E eu sempre acho esse um começo muito lindo de compartilhar. Portugal ficou no mar quando veio o Brasil, e o amor absolvido deu alguns filhos incontestáveis. E há, ainda, nessas vírgulas de conto de fadas, um bocado de começos e amores viscerais…

As vezes entro um pouco mais à frente no tempo, quando “o sol” ainda era rua e mãe do último, primeiro e eterno Milheiro brasileiro. Reza a lenda que ela, “o sol” da rua do sol, irmã de meu avô de mãe, e mãe de meu Dindinho-vô, era a personificação da beleza. E entra aqui, nesse outro começo, como primeira musa do meu belo Dindinho, sopro de amor em seu lar de tantas privações. Cresceu (ele) fugindo da fome nas macieiras dos vizinhos, onde também se escondia da falta de amor de seu pai. Aprendeu a machucar, mas o que soube mesmo fazer, desse esconderijo em diante, foi ensinar o valor da luta e do cuidar. A falta de comida e de amor o levou a ter sempre maçãs em casa, e a amar demais… E como amou!.. A segunda musa, essa proibida, já apareceu em outro começo.. Em outra de suas escapadas do pai, encontrou no lar de seu tio (meu avô Cardoso, irmão de sua mãe), refúgio, sem imaginar que acharia mais do que procurava. A terceira paixão da família irrompe aí.. Avassaladora, instintiva, recíproca, desenfreada, incontrolável, corroendo limites, diluindo diferenças de idade, e acontecendo à flor da pele em outros novos esconderijos. Uma Tia, que é também minha avó Delfina, e seu sobrinho, meu Dindinho também, impulsionados a amantes de uma forma que eu jamais conseguiria julgar. Nem preciso. Primeiro nos segredos de Portugal.. E depois, ante a saudade de alguns poucos anos de afastados, veio ao Brasil ter com seus tios, o sobrinho que era mais.. Minha mãe nasce por aí, nesses tempos de glória e mais luta, para ser mais uma de suas musas descendentes, e meus tios, poucos anos depois, completam o ninho. No mesmo lar uma mãe, dois pais, dois tios, filhos, primos e irmãos, e um segredo que jamais poderia superar o amor. Não superou.

As vezes acabo começando pelo fim, que é também começo, quando eu já estava aqui de prova, de feto e de fato, de afeto e artefato, neto de meus avós de mãe, e crescendo nessa deliciosa família sem par. E eu fui neto mesmo de verdade, até quando de mentira, indo pra lá e pra cá entre Santa Teresa e Ipanema, céu e céu, entre amores e elos que nenhuma desconfiança poderia alcançar. Me esbaldei! Até meus 16 anos foi desse jeito: o vô era o Cardoso, e eu tinha algo que ninguém mais tinha – um Dindinho que era tipo segundo vô. Aí o primeiro se foi, e o segundo virou primeiro, até que deixou de ser, também, depois, nesse balé de cuca-maluca. O teste pra desenrolar terminou de confundir, e a verdade da vez é que minha mãe não é mais filha do Dindinho de novo, que é pai dos meus tios realmente, que não são filhos do Cardoso por enquanto, que pode ser o pai da minha mãe com certeza.. E é, também, meu avô, novamente, e pai, também, dos meus tios, sem duvida, e avô dos meus primos além, e eternas saudades enfim, enquanto o Dindinho, que então se apaga, foi e é, também, tudo isso, e muito isso, e muito mais, e de novo, e em dobro, e pra sempre, sempre. Foi mesmo filho do sol.. E hoje somos todos saudades raiadas.

O fato é que nunca sei mesmo onde tudo começa na história da gente, mas me aplaca pensar que posso ir por aí, por qualquer desses muitos começos, que terei sempre um grande amor pra contar e explicar a nossa familia. Nasceu e cresceu em amores reais, que de tão ternos e eternos, seguem vivos na gente, entre a gente e da gente, com cada um que partiu sendo, pra sempre, parte de nós. A missão agora é seguir, começando, todo dia de novo, e juntos.

Obrigado por tudo, Dindinho-vô.

Bernardo Fernandes – Belo Urbano. Um gêmio canceriano, e um ingênuo de 35 anos, nesse contínuo processo insano de se descobrir. Achou na Comunicação uma paixão e uma labuta, e vive nessa luta de existir além do resistir, fazendo diferente e diferença… Ser feliz de propósito, sabe? Sem se distrair desse propósito. E vai assim, escrevendo o que a alma escolhe dizer, tocando o que a viola resolve contar, fazendo festas com cachorros e amigos perdidos, e brincando de volei, de pique, e de ser feliz na aventura da sua viagem. Vai uma carona?
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Ainda penso em você

Provavelmente não existo mais em seus pensamentos, não importa, quanto a mim:
ainda penso em você.

Na cerveja, na saudade daquele olhar cheio de enigmas que busco encontrar, no
sorriso furtivo que me recordo em todos os detalhes.

No jeito tímido, nas piadas bobas.

Sei, é adolescente, chega a ser ridículo, mas: ainda penso em você.

Na promessa velada do tudo que nunca chegou a ser, do universo paralelo que
tínhamos ou não, era tudo mentira? Era intenso para você como era para mim? Não
sei. No vínculo permeado de silêncio que nos olhos abrigavam um todo, um mundo, a
beleza daqueles momentos fortuitos. A poeira do tempo guardou tudo em segredo.

Sei que ainda penso em você. Em dias quietos e contemplativos, nas sextas-feiras,
ainda penso em você. Saudades infinitas, doloridas, daquelas que apertam o peito.

Ainda penso em você e dói, mas também é bom pois sei que assim de alguma
maneira você mora em mim.

Eliane Ibrahim – Bela Urbana, administradora, professora de Inglês, mãe de duas, esposa, feminista, ama cozinhar, ler, viajar e conversar longamente e profundamente sobre a vida com os amigos do peito, apaixonada pela “Disciplina Positiva” na educação das crianças, praticante e entusiasta da Comunicação não-violenta (CNV) e do perdão.

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Um tal Albanês

 Para chegar lá, preciso situar um pouco a história.

 Sou filha de imigrantes portugueses e credito a isso, o meu pé fora de casa, da cidade, do país, nômade que continuo sendo.

 Assim criei os meus para que voassem tão logo pudessem.

 E eles foram saindo aos poucos, os três.

Quando ainda éramos os quatro, depois de casamentos desfeitos, ficamos fora apenas três anos.

Por fim, aluguei a casa e fui atrás de um deles, a filha do meio que se mudou pra Londres, fiquei pouco menos de um mês e senti o gosto da liberdade, num país estranho, outra língua, outra cultura. Pensava em voltar rápido, o problema era o meu inglês quase inexistente. Então a volta foi direto para uma aula particular de inglês e reaprender aquela língua já esquecida com o tempo. A coragem e a determinação eram bem maiores que esse pequeno obstáculo.

Agora a cena era, dois anos depois, a filha casada. Dinheiro juntado para alugar um quarto. Lembro bem da sensação ao chegar a cidade próxima a Londres e falar pra mim, é aqui que quero morar.

Uma semana era o meu prazo para estar junto a filha e arranjar um quarto para passar os próximos três meses, a esperança era conseguir trabalho que me mantivesse por mais tempo. Nunca deixo de sonhar.

Tudo muito caro e com a ajuda da filha, negociamos um quarto mínimo numa casa onde moravam dois Albanezes e uma Jamaicana com um filho de três anos.

Me esperavam, uma cama de solteiro com um colchão afundando, uma cômoda e uma cadeira. O quarto era colado ao banheiro que servia a todos. Sem problemas, na casa os banhos eram semanais para minha alegria, porque duravam horas, eu no meu tradicional banho diário feliz. Os quartos em cima, cozinha e sala vazia embaixo. Choquei. O dono era um Nigeriano que alugava a casa. E realugava os quartos, disse que ia trazer uma mesa e umas cadeiras. Nunca vi.

A cidade ficava duas paradas de trem da cidade da filha, o local era mais bonito que o da filha. A proposta era caminhar cedo, banho, trem para a casa da filha. Arrumar, fazer comida e quando ela voltasse, dar um oi e partir para casa dormir. Final de semana era pegar o trem e em vinte minutos estar no centro de Londres, andar a toa nas feiras, comer nas barracas, viver. Estava feliz. É preciso muito desprendimento e determinação para pisar nesse caminho, mas essa era eu, sou eu.

Assim que fui apresentada aos outros moradores da casa, um homem me chamou atenção nos seus 1.90m boa aparência. Dividia o quarto com o sobrinho de vinte e poucos anos. Expliquei que falava pouco inglês e estava estudando. Eles falavam um inglês sofrível e Albanes, que eu nunca iria aprender.

Na primeira manha após a mudança, eu na janela da cozinha, vi o Albanez velho de nome Fred, passar e fixar seu olhar nos meu. Nós mulheres, sabemos identificar olhares e esse foi bem significativo. Mas estranhei um pouco já que ele aparentava uns cinco anos mais novo que eu. Eu chegando na casa dos 60, cabelos naturalmente brancos e ele com seus 54 talvez. Hora, hora, hora, me senti uma gata….

Vida seguindo, num bom domingo, pós passeios, almoço e a volta pra casa. Ninguém na casa. Desci pra sala vazia, coloquei música no ipad e sentei no chão. Tinha um jardim abandonado por trás de belas portas de vidro me dando a sensação de amplidão após a saída do minúsculo quarto. Claro que já me imaginava limpando e cuidando daquele lugar acabado para pelo menos ter para onde olhar.

Ali sentei e me esqueci. Eis que surge o Fred com roupas nos braços e percebi no canto da sala um varal de pé onde ele foi calmamente pendurando as roupas. Do jeito estava, do jeito fiquei. Ele usava uma bermuda azul clara e uma camiseta branca suja. Iria vê-lo nesses trajes, todo tempo que passei ali.

Se aproximou, dei um leve sorriso e ele me perguntou de onde eu vinha e fui contando um pouco do que sabia me expressar em inglês. Por fim, resolvi mostrar fotos dos filhos e da praia de onde eu vinha. Senti que ele se aproximou demais, mais do que eu gostaria. Ao fundo um sambinha e ele me pega pelos bracos todo desajeitado, me chamando pra dancar….oi…..

Aonde foi que eu atropelei o enredo…

No no no just a moment…..sorry …..e por ai vai…

Nessa hora do chega pra lá e chega pra cá, senti o cheiro azedo de suor e pouco banho de sua camiseta branca suja. Bateu feio.

Subiu,  eu continuei ouvindo música, sentada no chão e tola, me dando conta que já tinha construído um castelo e colocado o Albanes num cercadinho. Qual nada, tolinha…

E segue o caminho. Rotina, trem, compras, lojas de caridade, descobertas no lugar, aprendizados. Pouco via o cheiroso, mas notei que nossas rotinas eram parecidas, ele saia muito cedo pra trabalhar, eu pra caminhar, mesmo no inverno, 3 graus e eu lá. Não conseguia parar. No retorno a casa por volta das seis horas da tarde, já o encontrava no seu shortinho azul preparando o jantar na pequena cozinha.

Cruzamos várias vezes a escada dias após aquele domingo e ele sequer me comprimentava. Não entendi nada. Mais uma semana e mais um domingo, só ele e eu na casa. Ele entrou na sala, eu no lugar escolhido, no meu pouco inglês, resolvi perguntar porque ele não me comprimentava. Não respondeu, envolvido numa mudança interminável para o andar de cima.

Nesse dia eu tinha almoçado com minha filha e genro e tomado umas duas taças de vinho, suficiente para me animar e aturar a camiseta suja e resolvi oferecer ajuda, até hoje duvido de tamanha estupidez. Um armário numa escada em caracol, essa a insanidade. Devo isso ao teor alcoólico. Por fim, armário no corredor, e ele veio buscar outras coisas, nos esbarramos nos últimos degraus da escada estreita. SUFICIENTE. Ai foi cena piegas de filme americano, tiramos as roupas e saímos derrubando tudo. O cenário foi minha cama molenga, tudo rápido, suado, fedido e muito doido. Contando com o detalhe do rapaz ser bem bem dotado para meu desespero e eu na seca há tempos, literalmente vi estrelas…

Durou, dois minutos ou menos. Sorte minha o banheiro colado ao quarto e eu banho imediato.

Banho tomado, quarto trancado e a realidade bateu forte porque o álcool já tinha saído do sangue. Que merda é essa?! Acabei de chegar, vou embora em dois meses, esse Albanez ou vai me matar transando ou vai me matar, matando.

Aos poucos fui sabendo que morava há dez anos em Londres era motorista de ônibus.

Nunca casou, suficiente para mim. Claro que eu já achava que ia ficar ali e viver um romance, carinho, fazer comida, lavar a roupa, bem necessário, passear sair pra beber, tudo o que a gente vive sonhando. Mas não foi bem por aí, o cara era estranho e estranho ficou. Depois desse atropelamento inicial na escada o cara voltou a não me cumprimentar aí fiquei muito puta e resolvi nem olhar para a cara dele e evitar passar por ele. Mas ele era MAIS esquisito ainda e esperava eu sair do quarto e ficava me olhando. Claro que eu achei que ele ia me matar.

Ele era meio responsável por coisas da casa e a praga do roteador caquético dava ruim volta e meia e claro que a Lady aqui, tinha que pedir ajuda do estranho. Numa dessas ajudas foi o aquecedor do quarto, ele entrou, porta aberta, mexeu, tenho certeza que não fez nada, fingiu. Frio ,gelado. Lá fui eu bater na porta do quarto dele e pedir ajuda de novo, aí ele consertou de verdade. Só que a proximidade da cama nos tirou qualquer dúvida e lá fomos nós para mais um round, claro que eu perdia sempre, nenhum beijo, nenhum nada, só põe tira e tchau. Porra caí de novo, mas já estava até gostando da histórinha na minha cabeça. Odiava, queria matar, depois ria e fugia dele. Num outro domingo, era único dia de folga dele,  não o vi em momento algum, saí voltei, fiz a vida e fui dormir, lá pelas tantas escuto batidas na porta, acordei assustada e abri devagar e aquele 1m90 de um homem bêbado veio caindo por cima de mim. Imagina o esforço que fiz para colocar esse idiota sentado na cama e tentar expulsá-lo do quarto…. out out out, tanto gritei empurrei que coloquei o idiota para fora .

Pensava comigo FUDEU, dois meses ainda aqui com esse encosto. Claro que continuou tudo como antes. Perdi aos poucos ILUSÕES e o pouco tesão. Resolvi ir vivendo, realmente não consegui trabalho e comecei a preparar a saída. Mas resolvi dar uma sacaneada no Abanês. Malas prontas, viajaria na manhã seguinte. Desci e fui à cozinha e resolvi chamá-lo para me despedir, ele subiu ao quarto. Fred I’m going to Brazil tomorrow Morning. What… ele achando que aquilo era tudo. Claro que demos a última péssima rápida suada  e eu senti um gostinho bom de Vai se Fuder Fred…

Maria Nazareth Dias Coelho – Bela Urbana. Jornalista de formação. Mãe e avó. É chef de cozinha e faz diários, escreve crônicas. Divide seu tempo morando um pouco no Brasil e na Escócia. Viaja pra outros lugares quando consigo e sempre com pouca grana e caminhar e limpar os lugares e uma das suas missões.

 

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Todo ser humano tem algo a contribuir

Agir implica em correr riscos, acertar e errar. No entanto nem todos tem a coragem necessária e, se escondem atrás das críticas ou de modo pretensioso se dizem donos da verdade. Interessante que ao falar muito do outro revelo mais de mim mesmo. A potência que há no outro pode despertar inveja e, sendo assim a perseguição dos incomodados.

Esse tipo de atitude é algo antigo entre nós humanos, veja o que diz o apóstolo Tiago 2, nas escrituras sagradas: Mas dirá alguém: Tu tens a fé, e eu tenho as obras; mostra-me a tua fé sem as tuas obras, e eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras.

O desafio é como implicar essas pessoas que ficam a margem da vida, despertando a consciência que o bom da vida está em nadar no mar da existência.

Penso que lamentar ou se queixar são palavras lançadas ao vento, mortas e vazias.

Talvez a resistência dessas pessoas possa ser amenizadas na medida que, se perceberem em suas potencialidades. Todo ser humano tem algo a contribuir inclusive esses que apenas reclamam.

O texto RelacioLamentos X Relacionamentos me fez lembrar de uma história:

A carroça vazia

“Certa manhã, meu pai, muito sábio, convidou-me a dar um passeio no bosque e eu aceitei com prazer. Ele se deteve numa clareira e depois de um pequeno silêncio me perguntou: – Além do cantar dos pássaros, você está ouvindo mais alguma coisa? Apurei os ouvidos alguns segundos e respondi: – Estou ouvindo um barulho de carroça. – Isso mesmo, disse meu pai, é uma carroça vazia … Perguntei ao meu pai: – Como pode saber que a carroça está vazia, se ainda não a vimos? – Ora, respondeu meu pai. É muito fácil saber que uma carroça está vazia por causa do barulho. Quanto mais vazia a carroça maior é o barulho que faz.”

Maria das Graças Guedes de Carvalho – Bela Urbana. Psicologa clinica. Ama a vida e suas dádivas como ser mãe, cuidar de pessoas e visitar o Mar.


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Olhar seus olhos

Guardo o olhar que brilha para você,
sem medo de errar, reflete o que tem dentro de mim;
Paixão, amor e desejo, tudo que este olhar tem para dizer;
Entrego o olhar que fixa em você

O mesmo olhar que ao ver, já sabe tudo que tem para dizer;
Ele não a deixa sem graça apenas chama a sua atenção;
Chama que se acende ao imaginar este olhar mais perto de você;
Chama que queima, e que faz você tremer;

Acesso o olhar que conquista você,
Não existem palavras, seu corpo já entendeu;
Seu olhar fita o meu e também me faz tremer;
Não a perco de vista, procuro o seu olhar, o seu olhar procura o meu;

Encontro de olhos fechados as suas mãos, cujo o olhar não percebeu,
Sinto o suor delicado que a imaginação efervesceu;
Como um orvalho da natureza que se criou quando seu olhar cruzou o meu;
Este suor delicado cujo a chama amadureceu, leva a imaginação insana, o seu olhar cruzou o meu.

André Araújo – Belo Urbano. Homem em construção. Romântico por natureza e apaixonado por Belas Urbanas. Formado em Sistemas, mas que tem a poesia no coração e com um sorriso de menino. Sempre irá encher os olhos de água ao ver uma Bela Mulher sorrindo