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Amanhã é outro dia

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Foi mal. Sim, foi bem mal. Ela não deveria ter dito aquilo, ele acreditou. Liberdade, era isso que eles queriam, mas a liberdade é um conceito e nem sempre com o mesmo entendimento.

Ela chorava no 15 andar, chorava olhando as luzes da cidade, chorava sem parar, era uma dor tão intensa que doía o corpo, doía a barriga. Precisava de vento, o vento gelado da madrugada. Eram duas da madrugada e o sono nem sinal dava.

Ela se misturava com ela. Ela antes e agora agora. Ela adolescente, ela quarenta e tantos anos. Chorava de raiva da menina que foi e chorava de dó dessa menina, da pureza, da alma branca, das dores que viriam depois por ser tão assim. A vontade era de dar um chacoalhão nela de ontem. A vida a fez sobreviver, mas a endureceu por fora. De perto, a doce menina vivia ali, na dura mulher, o que causava sempre um conflito.

Olho não esconde quem se é, mas ela sempre tentou esconder o que incomodava os outros. Sentia culpa por ser bonita, mais que muitas. Nunca gostou de aparecer por isso, mas mesmo assim aparecia. Pela beleza, mas também pela energia. Confundia. Era quieta, era quente, era branca, era vermelho, era preto.

Uma confusão, que despertava paixão, sim muitas. Algumas vividas, outras (a maioria) deixadas de canto com respeito a quem a sentia. Fugia das paixões. Paixão tira o controle e sem controle o medo é maior. Fugia do medo.

Olhava a lua da janela. Não sabia ao certo quem era naquele momento, mas sentia que seu choro era quente e salgado. Gostava do vento forte e gelado que batia no seu rosto, como se fossem tapas na cara, dizendo: ACORDA.

Quem chorava nas alturas era a menina que ela foi que só queria um colinho do pai. Queria que os monstros fossem exterminados do planeta, queria que não houvesse nenhum tipo de fome e que as queimadas fosse só jogos com bolas. Impossível e por saber disso, a mulher, chorava.

Palavras ficam no ar, voam no espaço e nunca mais somem. Era verdade ou mentira? As palavras não vão embora com o vento, ficam em algum lugar ecoando para sempre.

Palavras duras podem ser ditas, mas palavras que digam mentiras não devem jamais serem ditas. Como saber qual é qual?

Seria mais fácil ser abduzida por ETs e nunca mais voltar. Seria mais fácil não ser ela. Seria muito mais fácil ser bege. Seria mais fácil que a liberdade fosse só estar fora das grades de uma prisão.

Sendo prática, a quarentona que era, sabia ser. Respirou fundo, resolver tomar um chá amargo de limão, enxugou as lágrimas e decidiu que amanhã pensaria nisso. Amanhã é outro dia.

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Adriana Chebabi – Bela Urbana, idealizadora do blog Belas Urbanas onde escreve contos, poesias e crônicas nesse blog. Publicitária e empresária. Divide seu tempo entre sua agência Modo Comunicação e Marketing  www.modo.com.br e as diversas funções que toda mulher contemporânea tem que conciliar, especialmente quando tem filhos. É do signo de Leão, ascendente em Virgem e no horóscopo chinês Macaco. Isso explica muita coisa :)

 

 

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