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Aquele buraco… um relato real

Eu me calei por quase 1 dia inteiro, não poderia acreditar no que estava acontecendo, tinha chegado no limite de não ser mais necessário.
Olhei para cocaína que estava na minha mão, quase 50 gramas, lembrei das lágrimas da minha mãe, a única que se importava, respirei fundo e tomei a decisão.
Já não tinha mais nenhum sentido eu continuar vivo, todos os que estavam ao meu redor só olhavam para mim e viam problemas, eu só olhava para mim e via problemas.
Não conseguia, de forma nenhuma entender como alguém só conseguia errar, tudo estava em destroços pelo chão, minha vida, minhas esperanças, meus amores, era um espectro social.

Me lembrei claramente do Devair, que havia há poucos dias, dado um tiro na própria cabeça, ele já era passado, as pessoas foram ao velório dele, se reuniram e falaram que ele era um rapaz legal, mas no meu velório, com certeza não iriam, fazer o que no velório alguém com tão pouca expressão.
Tinha nesta época, uma paixão, risos, tive muitas durante a minha vida, mas neste momento parecia muito mais forte, ela parecia, por algum motivo que não consigo explicar, ela parecia mesmo me ver.
Sentei na calçada com ela, Cibele, olhos claros, um sorriso meigo, cabelos encaracolados, dourados que refletiam a armação do óculos dela, dentes completamente perfeitos, um sorriso de parar coração de cardíaco, sentado com ela na calçada, ele me disse, não sei se por piedade ou carinho que havia esperança, que eu não deveria desistir de tudo.

Sorri para ela pelo canto da boca, e disse que era melhor não nos vermos mais, não a queria junto de alguém como eu, destrutivo, complicado, o pior que se pode ter.
Ainda com o pó no bolso, retornei para casa, andando e pensando como seria deixar todos para trás, encontrei, como que no filme alguns personagens no meio da rua, continuei caminhando e fui para casa, lá, sem ninguém ver, peguei o que precisava para fazer o que queria, fui me esconder em uma construção, aonde, novamente, cheirei sozinho toda aquela cocaína, mas não era bom em concluir tarefas, obviamente, não tive a overdose que queria e tive que encarar o mundo novamente, novamente invisível, novamente sozinho, novamente perdido.

Este relato é real, vivido por mim, cada detalhe, hoje, quase 30 anos depois, não uso mais drogas e tenho meu caminho muito bem definido, mas os pensamentos sobre suicídio eram muito comuns na minha cabeça, por varias e varias vezes senti que não era visto, não era escutado e não era percebido.

O suicida tem uma visão um pouco diferente das outras pessoas, ele sente uma solidão tamanha que não consegue controlar, e por isso, segue em direção a caminhos como as drogas, álcool ou o atentado a própria vida.

Existem muitos recursos para mudar isso, a religião, o estudo, o trabalho, mas ele não pode perceber isso sozinho, é muito importante estar atento as pessoas que estão ao seu redor, perceber se eles estão se sentindo parte das coisas, fazer com que elas sejam e estejam junto com as pessoas, mostrar para elas a importância da existência delas.

Depois de quase 3 décadas, 1 Graduação, 2 MBA’s, uma carreira sólida, percebo que ainda tenho muito a viver, que tenho muito a aprender, mas aquele buraco, que me consumia, ainda esta aqui, todo dia jogo terra nela, todo dia procuro novos motivos para viver.

Por isso, preste muita atenção nas pessoas que estão ao seu redor, elas precisam que vocês as vejam.

André Araújo – Belo Urbano. Homem em construção. Romântico por natureza e apaixonado por Belas Urbanas. Formado em Sistemas, mas que tem a poesia no coração. 46 anos de idade, com um sorriso de menino. Sempre irá encher os olhos de água ao ver uma Bela Mulher sorrindo.
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