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Onde tudo começou – Setembro Amarelo

O suicídio é um fenômeno complexo, multidimensionado, abarcando desde fatores genéticos hereditários, como vemos na Depressão Endógena, sendo que os acontecimentos proximais ao fato constituem o chamado gatilhos.

Atravès da etimologia da palavra podemos perceber o quanto nos mobiliza afetivamente. Sui em latim significa si mesmo, próprio, e Cidius propõe exterminar, extirpar.

A partir desta definição vemos, como pontua Aaron Beck, Pai da Terapia Cognitiva e precursor dos atuais Centros de Valorização as Vida, que o intuito do suicida é se desfazer de um sofrimento intenso e interminável, que ele cunhou com o termo Psychache, dor emocional.

O potencial suicida apresenta um estreitamento cognitivo que propicia o que denominamos de visão em túnel. Esta distorção cognitiva faz com que ele não perceba outras possibilidades de resolução do conflito, reforçando o pensamento dicotômico, também chamado Tudo ou Nada. Nos relacionamentos abusivos, tóxicos vemos esta dinâmica quando a parte preterida impõe como condição da manutenção da vida, o retorno do amado.

A inspiração para a Campanha Setembro Amarelo, exemplifica muito bem esta dinâmica. Em 1994, Nick Mene, então com 17 anos de idade se mata dentro de seu Mustang Amarelo que havia reformado, após uma desilusão amorosa. Os pais Dale e Dalare Mene, no dia de seu funeral, distribuem cartões orientando acerca do ocorrido e expressando suas angústias. Junto ao cartão constava uma fita amarela como reconhecimento pela paixão do filho.

As relatar sobre este fato não tem como não me lembrar sobre o suicídio anômico, definido por Emile Durkheim, em 1896, no livro Suicídio, um estudo Sociologico, obra fundadora da Sociologia. Nel Durkheim que a perda dos vínculos sociais, de não se sentir pertencente a um grupo, na medida que as referencias impostas pela Familia, Estado e Igreja perderam o sentido, com o advento da Revolução Industrial, há o surgimento de um sentimento de vacuidade, podendo constituir gatilho ao ato suicida.

Com base no exposto acima, somado a idiossincrasia, a individualidade, precisamos desenvolver políticas públicas que despertem e atualizem o potencial dos cidadãos contribuindo assim para uma sociedade mais humana e igualitária.

E no tocante ao processo suicida, precisamos estar atentos a maneira como a pessoa se comporta e organiza seu dia a dia.

Levando-se em consideração que mais de 90% dos casos seriam evitáveis e são frutos de transtornos mentais, abordá-los, encaminhando-os a serviços especializados, não somente os evitaria como os ajudaria a dar um sentido a sua existência.

Assim, ao percebermos mudanças abruptas, com presença de labilidade do humor, irritabilidade mais acentuada e constante, desleixo no autocuidado, consumo mais excessivo de álcool e outras drogas, entre outros comportamentos discrepantes na maneira padrão de agir, faz-se necessário conversar orientando-lhe a partir de uma escuta empática e ativa, sem julgamentos, ofertar ajuda. Caso aceite, precisamos conduzi-la a um serviço especializado e não deixar que vá sozinha, pois nessa situação há uma ambivalência, existe uma grande possibilidade de não ir caso deixemos que vá por conta própria. E caso não aceite, recorrer a um aparelho da Saúde Mental como o CAPS, Centro de Atendimento Psicossocial, um espaço multidisciplinar para receber a orientação necessária e procurar estabelecer uma estratégia de resgate a esta pessoa comprometida mentalmente.

Estes procedimentos não são garantia de que a pessoa não execute o ato, mas são possibilidade para uma mudança.

José Eduardo Bertazzoli – Belo Urbano. Psicólogo Clínico, especialista em Dependência Química e Psicopatologia, atualmente trabalhando no Centro de Atenção Psicossocial, CAPS Álcool e Droga Reviver, do Serviço de Saúde Mental Dr. Cândido Ferreira. Amante de leitura, mitologia, poesia e esporte.. acredita na realização do potencial humano.
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