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Os quatro

São três. Foram muito desejados. Por instinto, sabia já na barriga o sexo de cada um. Coincidência? Nao creio.

Duas meninas, um menino.

Casamentos desfeitos, mudanças de casas, cidades, eles a tiracolo.

Mãe daquelas de levantar cedo, fazer o café da manhã ao gosto de cada um, cuidar do material de escola, da roupa, levar pra escola, festinhas, fazer festinhas, dar conselhos, vivê-los intensamente.

Primeiro veio uma doce menina, forte, inteligente. A seguir outra menina que digo sempre ser o meu prêmio de originalidade; meio doidinha no seu mundo particular, sonhadora, intensa, brigona. Por último para completar nossa felicidade, anos depois, veio aquele que chamamos de príncipe: lindo, carinhoso, sensível, hiperativo. Fomos assim vivendo em quatro!

Na casa, apesar das regras flexíveis, algumas tinham que ser respeitadas: sem refrigerante, banhos rápidos, sem restos nos pratos e o uso obrigatório de palavrinhas magicas: Bom dia! Com licença! Por favor! Obrigado!

A noite criamos um jeito peculiar de ligação: oito da noite, cama da mãe, sem tv, sem celular.

Ali era o nosso momento de ler, cantar, contar e ouvir histórias e como tínhamos o nosso príncipe com grande diferença de idade, quase todos os dias, cantávamos as mesmas músicas, lia-mos as mesmas histórias.

Fomos vivendo, crianças se tornaram adultos muito rápido. Um a um foram seguindo seu rumo. Cidades diferentes, países diferentes.

Casa vazia, solidão, depressão.

Resolvi alugar a casa, me desfazer de quase tudo e viajar.

Me reinventei. Passei por testes de rejeição, aprendi outra língua. Me virei muito bem para orgulho dos filhos. Eu, em poucos momentos me surpreendi comigo, acostumada que era aos desafios que a vida me impôs.

Perdas irreparáveis pelo caminho, me tiraram o rumo que hoje tento reencontrar.

Nao guardei roupas de bebês, só muitas lembranças em fotos e em inúmeras histórias que vivemos.

Hoje nos damos bom dia e boa noite, todos os dias. Contamos como foi o dia, contamos nossos planos. Nos apoiamos em todos os momentos.

Esse nosso elo é eterno. Nossos encontros foram e sempre serão os maiores encontros de nossas vidas.

Maria Nazareth Dias Coelho – Bela Urbana. Jornalista de formação. Mãe e avó. É chef de cozinha e faz diários, escreve crônicas. Divide seu tempo morando um pouco no Brasil e na Escócia. Viaja pra outros lugares quando consigo e sempre com pouca grana e caminhar e limpar os lugares e uma das suas missões.
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