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SER E QUERER SER

Imagine que tenho cabelos brancos desde os 28 anos. O Léo tinha três anos quando fez o alerta – deitei minha cabeça no seu colo miúdo num final de tarde e ele, ingenuamente, declarou que havia algumas linhas brancas misturadas aos meus cabelos.
Desde então, muitas cores e disfarces para afastar um medo ridículo de parecer velha. Ridículo aos 28, numa crescente escala de tempo.
Com os anos, fui me sentindo escrava das tinturas. Quando eu não queria ou não podia pintar o cabelo, eu me sentia obrigada a fazê-lo e isso me incomodava. Eu fiz inúmeras tentativas para driblar a aparência: luzes, reflexos, cortes, cores… Uma estrada longa mesmo. O meu desejo de liberdade era freado pela aprovação (no caso reprovação) dos outros. Tem ideia de como isso dói?
“SER, PARECER, QUERER SER COMO UM CAMALEÃO.”
Não é saudável.
E o meu discurso de autenticidade? E o meu desejo de liberdade? E minha relação com o tempo?
Foram anos de sofrimento e reflexão sobre o sentido desse embranquecimento dos cabelos.
Ah! Tem quem curta colorir, quem não se incomode com as frequentes idas ao salão… E tudo bem. Não estou aqui para criticar as escolhas alheias. Aliás, nunca faço isso.  
Mas, eu fico pensando o que define o padrão (belo) antinatural dos cabelos? Pior: por que homens grisalhos são charmosos e mulheres feias? Se tem explicação, não é lógica.
Não me enquadro!
Para mim, particularmente, o envelhecimento traz luz e maturidade. Traz uma tranquilidade com minha imagem que talvez eu não tenha tido em nenhuma outra fase da vida, nem mesmo na plenitude das gravidezes. Eu posso me assumir assim, do jeitinho que estou!
O fato notório e irrevogável (até quando eu quiser) é que não pinto mais meus cabelos (taokey?) Eles estão curtíssimos e quase totalmente brancos, quase naturais porque ainda tenho um restinho de luzes (ou descolorante, como queira). Foi minha tacada de mestre!
Tenho precisamente 48 anos 8 meses 6 dias e algumas horas. Portanto, “nova ou velha” são adjetivos bastante relativos. Se ao me olhar, você me acha jovem, lamento que meus cabelos lhe desapontem – eu vivo isso! Mas, se ao me olhar você percebe o tempo passando, não se incomode, esses cabelos brancos estão em minha cabeça, somente nela.
Com isso, quero dizer que essa decisão é íntima. Se lhe interessa, me faz bem sentir-me livre, apesar dos olhares indiscretos, das opiniões, e tudo mais. “DEIXE QUE DIGAM, QUE PENSEM, QUE FALEM…”
Eu não tenho mais o medo de parecer velha. Tenho outros medos, mais desconhecidos, menos evidentes, mais limitantes… Eu vejo necessidade de dizer isto porque de modo muito singelo entendo que estamos vivendo um período de mudanças profundas, em que as atitudes precisam ser marcadas e o respeito ressaltado.
E respeitar é a melhor forma de conviver!

Dany Cais – Bela Urbana, fonoaudióloga por formação, comunicóloga por vocação e gentóloga por paixão. Colecionadora de histórias, experimenta a vida cultivando hábitos simples, flores e amigos. 
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