Cores, ó cores!
Onde estais?
Revela-nos se és real
Se na noite não a vemos
Oculta na penumbra
Mistério calado ao luar
É noite…
…e num giro vem o dia
Tu te mostras ao raiar
Arco colorindo os céus
Vidas cintilando tons
Cores que vem e vão
Paleta multicor no caos a criar
Partículas luminosas ao ar
Eis o espectro em nosso olhar
Mas, um eclipse nos cega
Uma sombra a nos ofuscar
Pois se não és a luz mesma
…nem os átomos
…nem as coisas
…nem nada
Se transparente tornares
Poderias revelar
O que brilha dentro de tudo
Secretamente a irradiar
Em silêncio
Para além da noite-e-dia
Vibração a nos suscitar
A espera de outra Luz
Um novo arco-íris
Para nos guiar
Espectro invisível Que os olhos não podem ver Cores que não podem expressar Se não descolorir Ascendendo E do centro iluminar Dentro do fogo Fundindo-se Incandescendo-se Tornando-se fagulha No coração solar
Williams Delabona – Belo urbano, artista plástico, empresário, se divide em suas múltiplas atividades, administrar a escola Criativa www.escolacriativa.com e seu trabalho como artista plástico www.williamsdelabona.com . Gosta de animais, vive perto da natureza e acredita que tudo está interligado, o micro e o macro universo. Sua paixão? Tem várias, mas viajar está entre as primeiras. Quadro – @williamsdelabonart
Cara do Match: – Oi, nossa
estamos bem perto hein?
Meu pensamento: – Mas que raios?
Porque não vi isso? 4km de distância. Deus me livre se for um Serial Killer, ou
pior, pode ser alguém que vai ficar me mandando mensagens a cada meia hora,
perguntando onde estou…Nossa, e não tem nada a ver comigo…devia estar muito
carente meia hora atrás. Melhor dar Unmatch?
Meu dedo na ação: – “unmatch”
–x–
Bom, melhor antes de mais nada
explicar algumas funcionalidades dos aplicativos de relacionamentos para quem
não sabe como isso funciona:
Tinder: Você monta
seu perfil, colocando suas preferências: homem ou mulher, faixa de idade,
etc… aí escreve uma pequena biografia (se quiser), coloca seu Instagram (se
quiser), coloca músicas (se quiser). Por fim, adiciona fotos bonitas ou esquisitas,
porque acho que às vezes essa é a decisão de algumas pessoas, e pronto, você
pode começar a brincar.
Happn: Igual o
Tinder, porém ele mapeia quem cruzou o seu caminho ou passou perto.
Nos dois apps, se você não gosta
do perfil que te aparece, é só apertar o X e ele sai da sua linha do tempo. Se
você gosta, manda um coração. Se ele também te mandar um coração, vocês formam
um Match! Que lindo!! É aí que podem começar a conversar. Agora, se você se
arrependeu do match, é só apertar unmatch, e a pessoa some da sua lista. Foi o que eu fiz ali em cima.
Ah a decisão de apertar o X ou o
Coração tem que ser imediata, nada de deixar para depois (péssimo para
indecisos como eu).
Tem outros jeitos também de falar
que você gostou da pessoa, mas aí você tem que pagar e isso tá fora de cogitação
pra mim.
De uma forma geral, se você ainda
não entendeu, imagina um catálogo da Avon, da Tupperware ou da Natura, em que
no lugar de todos esses produtos que essas marcas oferecem, há homens “se
oferecendo” em um catálogo online e no celular. Tipo isso.
Agora, esses aplicativos nunca
foram do meu gosto, exatamente pela ideia formada em minha cabeça de estar
escolhendo homem em um catálogo, algo um pouco bizarro na minha opinião. Mas
vamos combinar né? Essa quarentena acabou temporariamente com o jeito
tradicional de conhecer pessoas, e também acabou com a minha “lista de possíveis
contatos”. No começo, lá por maio, até baixei o Happn, mas depois de poucos
dias deletei. Ahh me deu preguiça e decidi respeitar meu tempo e minha
necessidade de ficar sozinha. Percebi que meu coração precisava de um respiro,
um tempo isolado pra terminar de se curar, pra se conhecer e finalmente se
abrir a um outro alguém, fosse para compromisso sério ou não.
Depois de um término de
relacionamento, cada um tem seu tempo de cura. O seu pode ser diferente do dele,
dela. E traumas ficam, assim como aprendizados. Aprendizados doloridos, mas que
me fizeram enxergar a necessidade de me olhar por inteira, de compreender minhas
vontades e equilibrá-las entre meu orgulho e meu amor próprio.
Minha intenção é ser sincera
primeiro comigo. Me entender e assim estar apta e aberta a entender o outro. Não
quero mais jogos. Não quero ter que fingir desinteresse ao demorar para
responder uma mensagem. Não quero ter que continuar com alguém por carência. E
tem dias que não quero falar com ninguém, não quero conhecer ninguém. Tem dias
que quero ficar solteira e gosto disso. Não quero me sentir obrigada a entrar
em um relacionamento porque com essa idade a sociedade diz que eu devia estar
namorando, noiva, casada, grávida ou com filho.
Não quero ser o padrão que a
sociedade impõe. Quero criar o meu próprio padrão.
Também não vou ser hipócrita e
falar que quero ficar sozinha pra sempre, ou que eu me preencho e não preciso de
mais ninguém. Estou cansada desse discurso que às vezes pregam de que temos que
ser exclusivamente autossuficientes. Quando que ser autossuficiente virou
sinônimo de deixar de incluir um outro na nossa vida? O ser humano precisa de
vínculo com outros seres humanos e ponto, e se você discorda vai dar uma lida
no livro da Brené Brown, “A coragem de ser imperfeito”.
Entendo que esse tipo de discurso
é pautado em nossa história, por termos sido caladas por muito tempo. Porém, se
continuarmos proclamando a “Guerra dos Gêneros”, onde vamos parar?
Independente de gêneros, cada um
tem suas feridas, suas ideias, seus pensamentos, suas vulnerabilidades, formando
histórias únicas e particulares.
É lógico que em alguns dias minha
presença será suficiente, assim como em outros dias a presença de alguém ao meu
lado será importante e necessária. Não importa se ainda é só uma paquera, um
casual, uma amizade com benefícios ou algo que vire por fim um relacionamento
sério. Mas o que tá faltando acima de tudo é respeito. Quero oferecer respeito
e ser respeitada, porque a falta dele desencoraja.
No passado deixei de tocar em
meus sentimentos, deixei de me fazer entender. Não me permiti falar sobre o que
me afligia, e por imaginar o que o outro estava pensando através de suas ações
ou ausência destas, me confundi. Desrespeitei a mim e a ele, e vice versa. Meu
orgulho e meu ego cresceram, e ao invés de antídotos, seus excessos viraram
alimento para minha insegurança.
Quando consegui falar tudo que queria,
já era tarde.
Eu mesma tapei meus buracos, e eu
mesma estou aprendendo a lidar com os vazios deixados por outro. Não quero ser
a responsável por deixar um buraco no coração de ninguém.
Dali amadureci e aprendi a não me
fazer calar.
É, não imaginava que um “unmatch”
ia cavar em mim labirintos. Apesar disso tudo ter saído de um pensamento cômico
do meu cérebro, encontrei pelo caminho medos reais oriundos de um passado ainda
presente. Medo da rejeição, do abandono e da traição. Medo de me fazer sufocar
por mim mesma, e de esquecer quem eu sou.
E entre essas lembranças e pensamentos, estou aprendendo a me ler por completo. Estou aprendendo o significado da empatia. É assim que o respeito passa a ter propósito, passa a ser consciente, e é assim que a coragem de mandar aquela mensagem pra aquele alguém nasce no peito, mesmo que aquele alguém seja por agora só o match de um aplicativo.
Ariela Maier – Bela urbana. Uma empreendedora e escritora que ama viajar. Se encontra e se desencontra pelas palavras e gosta de pensar que através da escrita, ajuda almas perdidas que carecem de emoções e histórias cheias de vida. @Arielamaier
Cansada, à beira da exaustão mental, ela olhou para seu santuário na cabeceira da cama. Imagens de Santo Antônio com o Menino Jesus no colo, Nossa Senhora de Aparecida, São Jorge, São Longuinho, Nossa Senhora Fátima, Cosme e Damião, o Cristo Redentor de braços abertos, Ganesha e Ibeji! Sincretismo puro!
Nada acalmou seu coração. Tempos difíceis esses. Tempo complicado de se entender os porquês. Como Deus leva uma criança acometida por uma doença cruel? Como Ele vê as mazelas desse mundo e não faz nada? Ahhhh faz! Mulher de pouca fé!
Independentemente da sua crença, saiba que tem gente no comando da nave. Por mais que você não entenda naquele exato momento o caminho que ela está percorrendo, saiba é o melhor.
O mesmo comandante que te fez duvidar de Sua bondade, colocou em sua vida, dias depois, pessoas que vieram ensinar a perseverança, o amor e a restauração da fé na humanidade. Porque sim, em meio a tantas coisas e notícias desfavoráveis é possível se acalentar com uma história de vida, contada com lágrimas nos olhos e uma reconfortante xícara de café!
Ah, mulher de pouca fé! As imagens na cabeceira da cama estão para te lembrar o tempo todo que HÁ comando, há perdas e há vitórias! E principalmente, há porquês, por mais que você ainda não esteja pronta para entender. Então, faça sua oração, agradeça e viva, mesmo sem ter todas as respostas.
Marina Prado – Bela Urbana, jornalista por formação, inquieta por natureza. 30 e poucos anos de risada e drama, como boa gemiana. Sobre ela só uma certeza: ou frio ou quente. Nunca morno!
Não dá para falar de racismo porque minha pele é branca. O privilégio me encontrou antes que eu soubesse o que isso significa.
Não dá para falar, mas ele existe e é maior do que meus olhos alcançam, muito mais violento do que minha compaixão dá conta.
Não vou escrever com métrica, nem estética, nem cronologia. Vou deixar vir à tona minha lembrança do mundo, das misturas de dentro e fora de mim.
Quando eu era bem pequena, imaginava que um dia eu seria negra, que era só questão de tempo para minha pele colorir e brilhar, como a da Tereza, amiga da minha mãe, que chegava em nossa casa e preenchia a sala de cor, com sua risada escandalosa.
Eu olhava no espelho, mas o dia não chegava. O branco não saía de mim…
Ainda menina, eu escolhi minha madrinha, uma mulher negra, linda, de olhos grandes, sorriso rasgado que me deixava fascinada. Ainda hoje eu admiro a força da minha Alice.
Minhas bonecas preferidas eram pretas e isso parecia estranho, não era comum.
O mundo do negro tinha que parecer excêntrico, pequeno, oculto.
Aos poucos, fui me deparando com a realidade bruta.
Na cidade onde nasci e cresci, havia um clube para brancos e outro para negros. Mesmo sem entender, eu nunca contrariei, nem questionei, nem protestei. Obedeci e segui a ignorância.
Não posso falar em racismo sem me enxergar como alguém que o perpetuou por inércia.
Já adulta, num estágio da faculdade em Campinas, soube de um garoto de 10 anos, filho de uma professora, que perguntou para mãe por que pobres eram pretos. Só de ouvir a hipótese levantada por esse menino senti meu peito apertar. E, mesmo depois de todos os argumentos da mãe sobre igualdade e justiça social, ele concluiu que o discurso não correspondia, pois na escola ele não via crianças negras. Ele só as via no sinal, na rua. Por vários dias, esse diálogo que eu não presenciei, ficou na minha cabeça.
Eu estudei em escola pública e na minha sala havia diversidade de etnias e de classes. Talvez, na idade dele eu não tivesse essa preocupação. Mas, a realidade estava ali e eu não vi, não soube ver, não quis ver, não aprendi a ver… Só segui.
Por fim, me lembrei de um dia que eu estava no shopping com meu filho. Nessa época ele tinha pouco menos de 3 anos e uma espontaneidade que só as crianças têm. Ele apontou para um homem e disse em voz audível que ele parecia um brigadeiro. Eu gelei dos pés a cabeça e, antes que eu formulasse um pedido de desculpas, os dois já estavam abraçados. Nunca vou me esquecer de suas palavras: “foi a coisa mais gostosa que alguém disse sobre mim”. Já se passaram mais de 20 anos e eu ainda me emociono.
Fato é que reconhecer uma injustiça não me coloca em uma posição confortável, pelo contrário, exige a responsabilidade do posicionamento e da ação. Ter amizade e afeto por negros, tratá-los com educação e respeito, ainda é muito pouco diante dos séculos de crueldade que distorceram suas identidades, disseminando a discriminação, mantendo os maus tratos, a violência, a injúria e, com isso, dificultando suas vidas e atrasando suas histórias.
O que vem acontecendo não é diferente do que já ocorria antes.
Por mais que eu não me sinta à vontade para tomar essa causa e falar como se eu pudesse sentir essa dor, pois seria ingênuo ou leviano, eu posso ouvir, quero aprender e devo sim levantar minha voz ao menor sinal de preconceito.
Posso ser antirracista – sou e serei. Minha pele não vai colorir, em sinal de transformação, mas minha consciência pode aprender a brilhar e o meu coração a agir.
Dany Cais – Bela Urbana, fonoaudióloga por formação, comunicóloga por vocação e gentóloga por paixão. Colecionadora de histórias, experimenta a vida cultivando hábitos simples, flores e amigos.
Diário de uma pandemia 20/3/2020 8:30 É primavera. Há uma semana declarou-se a crise COVID 19. Sentimentos e pensamentos poderiam ser resumidos nesta semana. Ação e o coração sofrendo. Ainda trabalhamos, damos serviços mínimos, porque o governo não nos colocou na lista de empresas que precisam fechar. Mas a pressão imposta pelo sistema de saúde é para fechar.
ficaemcasa.
Minha situação mental é estressante, ainda que ativa, adrenalina para administrar esse momento. Mas também muito sobrecarregada pelo de risco para nossa saúde, nossa economia necessária para nos dar suporte e os conflitos sofridos em nossas relações de trabalho. É como ter sofrido um choque frontal entre dois trens: a equipe de direção e a de gestão decidimos o quê precisava ser feito e as necessidades individuais da maioria dos trabalhadores. Esse confronto foi inevitável porque qualquer decisão tomada envolvia risco ou conflito em uma área ou outra. Agora não sabemos se tomamos a decisão certa … Tudo será esclarecido em alguns meses e, honestamente, minha visão é de uma incerteza avassaladora. Lidamos com muitos lutos de relance, aqueles que são realmente tristes pelas as pessoas que estão caindo com o COVID. De longe, este é o mais importante de todos e o que mais nos preocupa. Mas há outros lutos que estamos vivendo e que devemos administrar em uma marcha forçada: o luto pela perda da normalidade, por não poder encontrar pessoas queridas, familiares, amigos, colegas que nos apreciam em vários campos. O luto por ter de interromper a atividade que, em alguns casos, é a nossa motivação e nos ativa todos os dias, o luto por sacrificar as férias para poder ter o meu tempo livre neste momento difícil. Isolamento versus ter que trabalhar em tempos de isolamento. E acima de tudo, o medo, a COVID, o sofrimento ou o sofrimento das pessoas que amamos, até o medo da morte. E medo de fazer coisas erradas de um lado ou do outro.
E esperamos, todos os dias, as demonstrações de solidariedade, resiliência e respostas à emergência, ações de pessoas exemplares que aplaudimos desde nossas janelas todos os dias, e pessoas que não recebem esse aplauso explícito, mas que também nos dão suporte – muito obrigada! – reconhecimento a todas elas por favor. Esta é uma reflexão resumida do que experimentamos atualmente. Existem muitas nuances, emoções opostas e o melhor e o pior de cada um de nós vieram à luz. Proponho que nos reconheçamos nesse melhor e pior, que aceitemos diferenças em todas as áreas e que apostemos no exercício de nos colocar no lugar dos outros, agora é hora de nos encontrarmos novamente em espaços de solidariedade e cooperação que salve a todos nós com soluções coletivas que não deixem ninguém para trás.
Nati Yesares – Bela Urbana, vive em Barcelona, é formada em ciências ambientais e atualmente é chefe da área ambiental em Solidança, empresa dedicada a economia social. É motivada por tudo que ajude a construir uma sociedade sustentável e justa para todos.
Neste dia do professor, de 2019,
minha homenagem vai para milhares de alunos que passaram pelos meus olhos e
ficaram no meu coração. Agradecimentos a muitos que receberam, pouco ou muito
de minha influência. Gratidão tanto aos que se lembram de mim como aos que nem
sabem mais quem eu sou.
Afinal, tenho sempre em mente que
ensinar é, muito mais, aprender. Como se sabe, em francês o verbo é o mesmo:
“apprendre” (aprender e instruir, cf. Dicionário Michaelis).
Realmente, ao longo da vida fui
entendendo que quanto mais ensinava, mas aprendia. Portanto, o professor é um
aluno ao quadrado, capaz de potencializar o conhecimento.
Muito tenho a agradecer por tudo
a todos meus alunos e alunas, sem exceção.
Vocês, talvez, não saibam; vou
contar. Sempre senti na minha direção, nesse papel, um fluxo contínuo e vibrante
de boas energias, fazendo-me muito bem à pele e ao coração. Isso injeta em mim
sua juventude em doses colossais. É inexplicável com palavras, é algo entusiasmante,
um sentimento sutil fornecedor de doses enormes de disposição e força para
todos os momentos.
Isso, antecipadamente, já serve
de resposta para muitas questões que me fazem pessoas que não entendem bem o
que é ser professor por vocação.
Desde o início perguntavam: “-
como é que você suporta as atitudes dos alunos, sua rebeldia, alguns petulantes
ou prepotentes, como donos da verdade, outros desafiantes quanto ao seu poder e
seu conhecimento?”
Ultimamente, as questões têm sido
do tipo: – “como você aguenta ainda, depois de 35 anos de magistério, ter
paciência para ‘enfrentá-los’ em sala de aula, em vez de ir pra piscina,
tomando uma cervejinha, ir passear, morar numa praia ou viajar pelo mundo?”
“Por que você não deixa as preocupações
da sala de aula e vai curtir os prazeres da vida?”
Para essas perguntas posso
acrescentar sinceramente.
O que me dá imenso prazer, tanto
quanto as sugestões prazerosas mencionadas, é conhecer pessoas novas a cada
ano. Lembrando que, a cada período, mais de 100 alunos entram para seguir os mesmos
passos que nós percorremos ao longo de tantos anos.
Com outras perguntas, retorno às
questões do amigo preocupado, julgando infelicidade e chateação do mestre em
sua jornada.
– O que dá mais prazer a alguém do
que conhecer e conviver, ao longo de tantos anos, com pessoas alegres,
curiosas, animadas, cheias de sonhos, mas também de angústias?
– O que pode dar mais satisfação
do que acompanhar as gerações que se sucedem diante dos olhos e poder
acompanhar tão de perto o amadurecimento da moçada que chega com 18 anos e após
oito semestres segue seu caminho?
– O que pode dar mais alegria do
que sentir que você é importante na condução de pessoas em sua vida e em suas
carreiras num mundo cheio de incertezas?
Posso garantir, são centenas de
vantagens a serem expostas aqui, mas não quero falar demais.
Em minha bagagem de vida, tenho
milhares de histórias pra contar sobre a experiência maravilhosa de minha
carreira.
Sempre me empolguei pensando em
ensinar, desde o primeiro quadrinho negro com giz que ganhei de presente, um
dia lá com meus 7 aninhos, já sabendo escrever, e querendo brincar de
professora, em que eu assumia sempre o papel de mestra, colocando os amiguinhos
sentados pra aprender o que eu achava que devia ensinar a eles.
Se pudesse renascer, sem dúvida
nenhuma, escolheria seguir a mesma profissão, tendo pensado, na fase da minha
juventude, que não aceitaria ensinar nada a ninguém. Entretanto, tendo passado
por outros tipos de trabalho e amadurecimento, tudo acabou me reconduzindo à
minha vocação primeira.
Quem não está neste barco do
ensino por vocação e amor, não pode ter ideia de quanto é incrível ver o
resultado de seu trabalho. Não apenas ao longo e ao final dos quatro anos,
período que passa, a meu ver, num piscar de olhos.
Mais interessante, ainda, é poder
acompanhar de perto, ou mesmo de longe, os resultados de muitos que mantêm
contato virtual, graças à internet, além de algumas amizades presenciais sinceras
e despretensiosas.
Ninguém pode imaginar como tudo isso
é gostoso, uma felicidade difícil de explicar. Sem contar, visitas a agências
de publicidade ou participação de eventos da área, encontrando centenas de
ex-alunos, ocupando inúmeros postos de trabalho do setor ligados ao marketing
ou à comunicação.
Só pra citar um exemplo, recebi
de um aluno um livro indicado no tempo da faculdade (1995), ele hoje um diretor
de uma agência do interior de São Paulo com a seguinte mensagem:
-“Este é o meu exemplar do
‘Relatório Popcorn’ – adquirido ainda quando seu aluno – e que vem sendo utilizado
como a primeira leitura recomendada para todos que chegam à ‘Full Hand’, desde
o nosso primeiro dia de atividade. Gostaria que ficasse com você, em sinal de
gratidão à sua paciência, dedicação e estímulo. Denis. (obs. Temos outros aqui)”.
Aos Denis e a todos os Andrés e
Andréias, Adrianos e Adrianas, Carlos e Carlas, Caios, Lucas, Danilos,
Danielas, Fernandos, Gustavos, Rodrigos, Marcos, Enios, Enzos, Marias, Joões,
Pedros, Paulos e Paulas, Rebecas, Manuelas, Fábios, Fabianos e Fabianas,
Giovannis e Giovanas, Julianos e Julianas, Carolinas, Tiagos, Vitors e Vitórias…
e centenas de nomes, repetidos, ou inusitados (como o meu) gostaria de falar. Queria
dizer, pessoalmente, com muitos abraços e beijos, quanta gratidão eu sinto por
tudo de maravilhoso que me fizeram sentir durante tantos anos dessa minha vida,
realizando meu sonho infantil de instruir e ajudar pessoas a encontrarem seus
caminhos.
Vejo o tempo passar por meio
deles, em revezamento a cada quatro anos, como belas nuvens passando no céu
azul, jovens, belos e cheios de sonhos.
Pra concluir, devo agradecer a
Deus, pela emoção das recordações de tanta gente. Quanta responsabilidade ter a
incumbência de instruir e falar com tantas personalidades e, agora, poder
declarar meu grande amor por todos ou meus, eternamente, alunos e alunas do
coração.
Desculpem, se, o que afirmo a
seguir, possa parecer politicamente incorreto, deixo de lado esses melindres,
viver é se apaixonar, é fazer por paixão o que o universo nos designou como
missão. Mas me apaixono pelo que faço e, muito, pelos meus alunos e alunas, não
posso deixar de dizer isso e, também, que acho difícil esquecê-los.
Reencontrar ex-alunos, por aí, é
muito bom, é como retornar no tempo e sentir de novo e acrescentar novas
emoções, uma nova parte da nossa história. Sem exceção, todos se tornam nossos
filhos, “nossas crias”, como dizem outros professores felizes nesta profissão.
Precisa mais pra justificar a alegria imensa que é ser professor?
Flailda Brito Garboggini – Bela Urbana, Pós graduada em marketing, Doutora em comunicação e semiótica. Dois filhos e quatro netos. Formada em piano clássico. Hobbies música, cinema, fotografia e vídeo. Nascida em São Paulo. 4 anos como aluna, 35 anos como professora de Publicidade na PUC Campinas. É aquariana (ao pé da letra).
Outro dia a vida me trouxe de volta uma pessoa que foi muito próxima há alguns anos, conversamos, tímidos, desajeitados e constrangidos inicialmente, ao evoluir a conversa fomos nos reconhecendo e o conforto da amizade antiga voltou um pouquinho; tínhamos nossos compromissos, o encontro não durou mais que dez minutos, voltei para meus pensamentos com pedaços de lembranças da vida que eu tinha quando ele fez parte dela, naquela época tivemos um breve romance, eu era muito jovem, curti uma dor de cotovelo danada pois ele era apaixonado por outra pessoa e de repente ela também se viu apaixonada por ele, ou seja, eu conhecia os dois, tive que ver os pombinhos sempre juntos, frequentávamos o mesmo grupo de amigos, foi triste, sentia uma dor física mesmo no peito, parecia que o coração iria sangrar, eu chorei muito por isso, sentia tudo com tal intensidade, com tal paixão que achei que fosse morrer de amor; o tempo passou, eu aprendi tanto com esse episódio, eu me prendi aquela máxima de que se existe amor por alguém e se ele é real, é preciso deixar a pessoa livre para que ela escolha o que o coração dela pedir, sem tragédia, simples assim, a fila anda, como dizem, minha fala interior me dizia isso, uma maneira que encontrei para amenizar minha perda, minha dor, obviamente ele já estava com ela e era livre para fazer o que bem entendesse, nunca tivemos um relacionamento de verdade, foi apenas o inicio de algo que nunca começou, mas naqueles breves encontros eu me sentia bem, me identificava com ele e o mais triste talvez não tenha sido perder o futuro namoro que nunca veio, e sim a conexão que eu sentia com ele; eu tinha plena consciência que nossa recente amizade não iria evoluir, eu segui minha vida e passei a prestar mais atenção às conexões, aos encontros que tinham potencial de se transformar em uma amizade verdadeira pois entendi que eles poderiam ser muitos breves.
Ao longo dos anos sinto que aquele intenso
sentimento mesmo tão efêmero me transformou, e sou grata por isso, apesar do
amargo da perda me deixou uma ternura tão grande pois amei, eu ainda não tinha
sentido nada parecido, confesso que depois durante meu percurso pela vida me
apaixonei muitas outras vezes mas aquele encontro me alertou para as conexões,
para estar atenta, para não deixar de aproveitar nem que fosse uma horinha de
conversa com aquela pessoa especial, mesmo que não fosse com intenção amorosa,
apenas sentir e aproveitar a presença de um ser humano que se aproxima de nossa
alma, nem todos tem esse poder, nem todos tem esse toque mágico e nem sempre a
vida nos presenteia com esse tipo de sentimento, é preciso saboreá-lo,
usufrui-lo antes que se desvaneça como fumaça na correria do dia a dia, na
viagem que nos leva para outros lugares, nas mudanças inevitáveis, nas mortes
prematuras, nas desavenças repentinas, nas palavras mal pensadas e proferidas
no impulso.
Amo as conexões, os encontros, e aqui cito Rubem
Alves: “Não havíamos marcado hora, não
havíamos marcado lugar. E, na infinita possibilidade de lugares, na infinita
possibilidade de tempos, nossos tempos e nossos lugares coincidiram. E deu-se o
encontro”.
Tenho tanto carinho pelas pessoas
especiais que passaram por minha vida e que no momento não fazem mais parte
dela, queria que o mundo mantivesse perto de mim todos com quem amo estar e
conversar e trocar energias boas, esse contato me traz um pouco mais de sentido
para vida, há dias que buscar o sentido é como encontrar uma agulha no palheiro,
mas esses encontros me dão a certeza que a vida também é boa, amorosa, pode ser
leve e que ali com aquela pessoa posso ter um colo, um aconchego, muitas
risadas e falar do tudo e do nada, não serei julgada, serei aceita tal qual
como sou, nada mais, nem menos, isso é conexão, isso é amor, seja ele em
formato de homem ou mulher, quer seja um amor romântico ou uma amizade, é como
nos sentimos na nossa casa, conexão verdadeira é quando um rosto inchado de
chorar, um nariz escorrendo, um coque mal feito, maquiagem borrada, quando você
fala demais e possui alguns quilos extras não te fazem mais feia, na verdade,
só significa que você é humano e é isso que nos conecta com outro ser humano,
nosso eu real, quando as máscaras estão caídas ou guardadas nos esconderijos e
ainda assim aquele alguém especial nos ama.
Agradeço a todos meus encontros especiais, aos meus amados amigos e companheiros de alma que eu ganhei de presente no trajeto, por momentos ou por anos, mesmo longe estão presentes em tudo que há de mais belo em mim, tudo que me fez chegar até esse momento, preciso de vocês como uma flor precisa de água.
Eliane Ibrahim – Bela Urbana, administradora, professora de Inglês, mãe de duas, esposa, feminista, ama cozinhar, ler, viajar e conversar longamente e profundamente sobre a vida com os amigos do peito, apaixonada pela “Disciplina Positiva” na educação das crianças, praticante e entusiasta da Comunicação não-violenta (CNV) e do perdão.
Dei os pêsames e foi assim que acabou o que nunca foi o que eu queria que tivesse sido. Foi a última palavra. A última, distante da penúltima. Todas distantes, poucos foram os momentos que as palavras não foram distantes.
Entender agora que pêsames foi a última para fechar aquele capítulo foi pesado.Tudo era pesado. E quando tudo é pesado não existe braços que aguentem… um hora cai e pode quebrar.
Nem sei se quebrou, mas caiu. Por muitos anos essa foi minha última palavra para ele. Palavra que esqueci, como esqueci vários detalhes, mas reler me faz lembrar e sentir de forma estranha toda essa história.
Talvez não seja bom mexer com os mortos, eles ressuscitam algo em você e se já morreram é melhor deixar essas memórias em paz. Reviver é se prender ao que já não existe mais. O tempo é outro, mas somos sempre um pouco do nosso ontem, para o nosso melhor e nosso pior.
As coisas não precisam ter mais peso do que já tiveram. Quero deixar o passado descansar em paz. Dar pêsames ao que me prende a ele. Jogar fora as armadilhas que levam as dores.
Passou e só o que ficou na minha memória e no meu coração verdadeiramente está vivo e assim deve ser. Preciso aprender enterrar de vez, deixar ir, esquecer os detalhes do passado. Zumbis só são legais nos filmes.
14 de agosto – Gisa Luiza – 50 anos
Adriana Chebabi – Bela Urbana, idealizadora do blog Belas Urbanas onde faz curadoria dos textos e também escreve. Publicitária. Curiosa por natureza. Divide seu tempo entre as consultorias de comunicação e marketing e as diversas funções que toda mulher contemporânea tem que conciliar, especialmente quando tem filhos. É do signo de Leão, ascendente em Virgem e no horóscopo chinês Macaco. Isso explica muita coisa . A personagem Gisa Luiza do “Fragmentos de um diário” é uma homenagem a suas duas avós – Giselda e Ana Luiza
Dois homens morreram hoje. Pai e filho. Mas que lástima ser essa. Que tristeza
inominável isso é para seus parentes e amigos. Um pai nunca quer ter uma vida mais
longa que a de seu filho, e o filho não quer nem pensar de em perder o seu pai. Claro isso
serve apenas para verdadeiros pais e filhos, onde um soube cuidar de sua criação e ter
dado a ele amor e carinho. Pai é quem cria alguns chegam a dizer. E apenas assim que
se é um verdadeiro pai.
Mas pais não são criaturas perfeitas. Afinal, quem é? Os únicos homens perfeitos
que existem estão presentes nas histórias antigas que dizemos uns aos outros na
escuridão da noite, mas nunca nas histórias pessoais de nosso dia a dia. E mesmo na
morte, essa imperfeição não se vai. Pois é apenas na morte que somos obrigados a ver
aquilo que sempre negamos em nós mesmos e nos outros. E assim foi, para um pai e um
filho que se foram no mesmo momento.
O pai chegou as portas do mundo dos mortos alguns instantes antes de sua
descendência, como deve ser (segundo alguns). E chegando lá conversou por um tempo
que pareceram ser horas, com uma entidade que nunca vira e nunca ouvira falar. Falaram
sobre histórias de sua própria vida e talvez nesse ínterim, tenha tido até mesmo a sua
alma medida de cima a baixo. Pois a história do pai fora longa e sofrida. Em sua historia,
fora abandonado e largado. Lutara e se desesperará. Muito ele passou e diversas
cicatrizes ele acumulou em seu espírito. E apenas ali, no mundo dos não vivos que ele
havia sido capaz de enxergar isso.
Pois em um mundo que não é mundo, onde a carne não existe e o que sobra é o
espirito, apenas as almas podem ser vistas, mesmo que não da forma as quais as
pessoas pensem que as almas são. E o pai e a entidade viam que nele, em sua alma,
havia uma grande gama de cicatrizes. Cicatrizes que apenas os vivos sabiam fazer. E o
pai se entristeceu, se adoeceu e se redimiu. Pois é assim que as coisas são no mundo
dos não vivos. E o filho, após poucos segundos que foram a eternidade, chegou também.
E o pai ao ver o filho ficou horrorizado com o que via. Pois mesmo sem saber, viu
o filho de verdade pela primeira vez. E em seu coração soube que não havia sido o pai
que pensara ser. Pois ao olhar para seu filho pela primeira vez, viu que nele as cicatrizes
eram muito maiores e mais profundas do que o pai jamais havia tido em si mesmo.
Igor Mota – Belo Urbano, um garoto nascido em 1995, aluno de Filosofia na Puc Campinas do segundo ano. Jovem de corpo, mas velho na alma, gasta grande parte de seu tempo mais lendo do que qualquer outra coisa. Do signo de Gêmeos e ascendente em Aquário, uma péssima combinação (se é que isso importa).
Adriana Chebabi – Bela Urbana, idealizadora do blog Belas Urbanas onde faz curadoria dos textos e também escreve. Publicitária. Curiosa por natureza. Divide seu tempo entre as consultorias de comunicação e marketing e as diversas funções que toda mulher contemporânea tem que conciliar, especialmente quando tem filhos. É do signo de Leão, ascendente em Virgem e no horóscopo chinês Macaco. Isso explica muita coisa .
Belas Urbanas são mulheres de verdade que têm a vida corrida, que são éticas, que ajudam o próximo, transformam o mundo em um lugar melhor. Belas Urbanas fazem compras no supermercado, levam filhos no médico, se divertem com os amigos e ainda namoram.O conteúdo deste blog é composto por contos, poesias, reflexões, dicas. Enfim, tudo que faz parte do dia a dia de uma Bela Urbana contemporânea.
Os contos aqui expostos são fictícios. Queremos trazer reflexão, inspiração e diversão. Sejam muito bem-vindos.