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Agressões que ocultam segredos “tumulares”

O conheci numa reunião de trabalho. A bonita camisa, de manga comprida arregaçada, expunha sua virilidade masculina através da exposição daqueles punhos e mãos.

Trocas de olhares discretos e interesse mútuo o fizeram terminar um namoro de muitos anos e nos levou ao altar um ano depois, apesar de bem maduros.

Era o terceiro casamento dele, sem filhos, o que facilitava nossa relação.

Meses depois, em um desentendimento sem grande importância, ele revelou um ser irado, que eu desconhecia, gritando comigo, sem poupar os vizinhos.

Quando ‘a poeira assentou’, disse-lhe: “Eu nunca vivi situação semelhante e não a viverei. Se você não é capaz de se controlar, nosso romance termina aqui.”

Recado compreendido, ele passou a se controlar e não repetiu o espetáculo comigo, mas me era difícil ver seus tons agressivos e sórdidos com garçons, com o zelador e porteiros do prédio, com nossa auxiliar doméstica, com seus funcionários e outros.

Para amigos e familiares ele era tido como educado, gentil e muito sensível.

As agressões dele, comigo, eram outras. À cada saída de casa, ele fazia questão de testar sua virilidade, à minha frente. Trocava olhares com mulheres estranhas ou gracinhas com mulheres conhecidas, de amigas minhas a caixas de lojas e supermercados.

Eu passei a ver seus comportamentos agressivos e essas atitudes desprezíveis como expressão de sua frustração por suas dificuldades sexuais.

O recomendei a buscar um terapeuta especialista em sexualidade, cujo trabalho levou uns três anos.

Alguns anos se passaram e os problemas sexuais, de agressividade e de desrespeito continuavam vivos e fortes.

Num dado momento, uma atitude verbal e gesticular, muito agressiva, foi dirigida a mim e decidi pôr um fim àquele relacionamento, que me fazia mal e se mostrava sem conserto.

Um ano após o divórcio, ainda com grande parte dos pertences dele em casa, fui em busca de um documento e encontrei uma declaração de amor, de um amigo dele, que frequentava a nossa casa semanalmente, para ele.

Esta carta era antiga, o que indicava o tempo daquele relacionamento, e era a peça que faltava naquele enorme puzzle. Sua agressividade, dificuldades sexuais e outras atitudes disfuncionais, ganharam legitimidade, à partir daquela declaração de amor masculina, guardada cuidadosamente entre fotos e cartas significativas.

Mantive este fato comigo, pois sei que ele o pretende levá-lo para o túmulo, mas fui usada, tanto quanto sua atual mulher e todas as suas ex-esposas, que serviram de esconderijo para sua real identidade.

Muitos anos se passaram e eu ainda tento me recompor desse relacionamento abusivo, buscando compreender o porquê de incluí-lo no puzzle de minha vida.

Anônimo – Mulher, brasileira,  não quis ser identificada.

SOS – ligue 180