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A primeira a gente nunca esquece

Minha primeira viagem para fora do Brasil aconteceu há quase 20 anos. Até então, assim como a maioria das pessoas que eu conhecia, e acredito até que como a maioria dos brasileiros, eu sempre havia imaginado ir para algum destino nos Estados Unidos ou na Europa. Mas, na verdade, minha primeira experiência no exterior foi num país bem mais próximo: Bolívia. Foi uma oportunidade que apareceu de repente, e que acabou sendo uma viagem inesquecível.

Convidada por um amigo da época da universidade, que vivia em La Paz, decidi viajar sem fazer muitos planos (para ser sincera nem sabia direito o que havia lá para turistas). Só comprei as passagens para um período de 10 dias e fui.

A capital mais alta do mundo, La Paz está localizada entre 3.300 e 4.100 metros acima do nível do mar, numa espécie de vale no planalto andino, ao pé da Cordilheira Real. Devido ao ar rarefeito naquela região, a gente se sente bastante cansada nos primeiros dias, mas nada que um bom chá de coca não resolva. Perfeitamente lícito na Bolívia, o chá ajuda o corpo a se recuperar do soroche (mal das alturas).

Passado o mal-estar inicial, uma das coisas que me fascinou em La Paz foi a vista que se tem do imponente pico Illimani, a montanha mais alta da Cordilheira Real. Também me impressionaram as formações geológicas do Valle de la Luna, os estranhos objetos de rituais andinos que se vendem no Mercado de la Brujas, como por exemplo, feto de lhama, e os belos edifícios da época colonial. Além disso, gostei muito de ver a grande populacão de origem indígena, principalmente as simpáticas cholitas, com suas tradicionais saias de várias camadas, xales, chapéus-coco e tranças.

De La Paz fizemos pequenas excursões para áreas próximas. Uma delas foi às ruínas arqueológicas de Tiahuanaco, uma civilização anterior à civilizacão Inca. De lá, seguimos até o Lago Titicaca, que está na fronteira entre Bolívia e Peru. O Titicaca é tão grande e profundo que até parece mar; é realmente impressionante. Outra pequena excursão foi subir até o pico Chacaltaya, onde se encontra a estacão de esqui mais alta do mundo. Que emoção! Foi lá que vi neve pela primeira vez.

Mas acho que o passeio mais emocionante mesmo foram a ida e a volta de Coroico, na região de Yungas, uma área de transição entre as serras subandinas e o Amazonas, coberta por florestas. Naquela época, automóveis, ônibus e caminhões ainda utilizavam a perigosa Ruta de la Muerte – o nome já diz tudo – cuja largura era suficiente para apenas um veículo, fazendo com que o tráfego alternasse entre só subida ou só descida.

Descemos a serra ao anoitecer, devido à longa espera pela operação descida. Como já estava escuro, eu não tinha a mínima noção do perigo que estava passando; acho que nem sequer sabia que aquela estrada tinha aquele nome. Só fui me dar conta disso na volta, que foi durante o dia. A estrada sinuosa, à beira de profundos precipícios, não tinha nenhuma protecão lateral. Assustador, mas com uma vista maravilhosa ao mesmo tempo. Ouvi dizer que hoje em dia há uma nova estrada para veículos e a rota da morte só é utilizada por mountain bikers em turismo de aventura.

Enfim, minha primeira viagem a outro país não podia ter sido mais interessante. Na volta, para fechar com chave de ouro, ainda tive a sorte de ver o Illimani bem de perto, quando o avião sobrevoou a montanha numa manhã ensolarada de agosto. Espetacular!

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Miriam Moraes Bengtsson – É formada em Comunicação Social/Publicidade e Propaganda pela PUCCAMP e possui mestrado em Comunicação e Inglês pela Universidade de Roskilde, na Dinamarca. Desde 1992, atua nas áreas de marketing e comunicação. Natural de Garca, SP, vive atualmente em Copenhague, Dinamarca, com marido e dois filhos, e trabalha com comunicação digital e branding em empresa da área farmacêutica. Em seu tempo livre, gosta de praticar esportes, viajar e estar com família e amigos. É do signo de Touro e no horóscopo chinês é do signo do Cachorro. Contribui para o Belas Urbanas com suas experiências de viagem.