Posted on 1 Comment

Grupos reflexivos para homens autores de violência contra a mulher

O trabalho com grupos reflexivos para homens autores de violência contra a mulher é uma abordagem sócio educacional que visa promover a responsabilização, a mudança de comportamento e a prevenção da violência de gênero. Essa metodologia busca proporcionar um espaço seguro para que os autores de violência possam compartilhar suas experiências, refletir sobre seus padrões de comportamentos e aprender estratégias para lidar com conflitos e relações interpessoais não abusivas.

É um espaço sem julgamentos. Nem condenações, mas, sobretudo, é um espaço de responsabilização. Quando os participantes tentam colocar as responsabilidades de suas ações em outras pessoas, justamente é invertida essa lógica. O abuso praticado por esses homens não é destino. É uma escolha. Errada. É fato que muitos homens viveram em ambiente abusivos, foram abusados, ou vivenciaram agressões em seus lares na infância. Mas isso nunca pode justificar ou atenuar a repetição de determinado comportamento.

Vivemos uma fase extremamente perigosa em terceirizar a perpetuação do abuso sofrido para a próxima geração, assim, simplificando as atitudes abusivas praticadas como uma reação ao abuso sofrido. É necessário considerar isso. Mas não podemos e devemos ter como justificativa. A perpetuação do abuso e do papel do abusador se deve ao patriarcado, ao machismo e ao exercício de uma masculinidade viciada em virilidade, poder e controle.

O grupo reflexivo para homens autores de violência contra a mulher é realizado em um ambiente sócio educativo, acolhedor, composto por um facilitador, que geralmente é um profissional experiente e capacitado em questões de gênero, masculinidades e violência, e um grupo de homens que tenham histórico de agressão física, verbal, psicológica, abuso sexual contra mulheres. Esses grupos são baseados nos princípios de igualdade, equidade, não-violência, respeito mútuo e confidencialidade.

O grupo reflexivo vem quebrando esse padrão de respostas automatizadas. Essa normatização de atitudes abusivas, controladoras e castradoras.
A metodologia do trabalho com grupos reflexivos geralmente envolve uma fase inicial de estabelecimento de normas e regras, onde são definidas expectativas de comportamento e respeito durante as sessões. Em seguida, os participantes são encorajados a compartilhar suas experiências de violência, explorando as dinâmicas de poder e controle presentes em suas relações.

Os encontros em grupo permitem que os homens compartilhem suas experiências pessoais, escutem as histórias de outros participantes e sejam desafiados a questionar suas visões de masculinidade, poder e controle. O objetivo do projeto é incentivar a empatia e a responsabilidade pelos próprios atos, além de ajudar os homens a desenvolverem habilidades de comunicação saudáveis, resolução de conflitos e respeito mútuo.

Esse projeto é fundamental para trabalhar a prevenção e a redução da violência contra as mulheres, proporcionando uma oportunidade de aprendizado e crescimento pessoal para os homens envolvidos. Além disso, ele também pode oferecer suporte psicológico, afetivo e encaminhamento para outros serviços, como terapia individual, quando necessário.
Alguns aprendizados e resultados:

  • Identificação de padrões de comportamento violento entre os abusadores, relacionados à sua história pessoal, percepções equivocadas sobre a masculinidade e dificuldades de controle emocional;
  • Aumento da percepção de responsabilidade pelos atos cometidos e reconhecimento dos danos causados às vítimas;
  • Ampliação da compreensão sobre as questões de gênero e a desigualdade entre homens e mulheres na sociedade;
  • Adolescência de habilidades de comunicação assertiva e resolução de conflitos de forma não violenta;
  • Reorientação dos abusadores para práticas não violentas, através da mentalização e da construção de uma nova identidade masculina;

Concluo que seja necessário investir em políticas públicas de prevenção, que incluam ações educativas e de conscientização sobre a violência doméstica e familiar desde a infância, adolescência e fase adulta, visando evitar a perpetuação desse ciclo. Além disso, é necessário ampliar o acesso a essas intervenções por meio de parcerias com secretarias de ensino, empresas, secretarias de saúde e segurança pública, e a criação de centros especializados, que ofereçam suporte integral a esses homens, incluindo programas de educação em gênero e ressocialização.

A intervenção com homens abusadores é um passo importante para enfrentar a violência doméstica, violência de gênero e contra a mulher, mas precisa ser acompanhada de outras medidas que atuem na raiz do problema. A conscientização, a educação e o suporte integral são fundamentais para romper com esse ciclo de violência e promover relações familiares saudáveis e igualitárias.

É necessário produzir intervenções educativas, nesses casos geralmente visam oferecer apoio emocional, conscientização sobre questões de gênero e violência doméstica, desenvolvimento de habilidades de comunicação saudáveis e educação sobre resolução pacífica de conflitos.

Eu, homem cruel.
Fui marcado pelo meu passado.
Aqui onde me ergo, 
me dispo do meu orgulho.
Envergonhado pelos atos insanos,
com humildade, refaço o meu traço.
Sim, abusador, dominador do poder,
Cego pelo egocentrismo cruel.
Cravei mágoas e cicatrizes na alma de outros.
Um homem monstro disfarçado de homem cordial.
Fácil papel.
Reflito sobre as dores que causei.
Só agora percebo também as dores que não senti.
Ouvir a mim mesmo.
A minha voz silenciada, calada, vazia.
Entendendo o valor da empatia.
Compreendo o poder do respeito.
Desaprendo a arrogância e semeio humildade no meu coração.
E, com gestos, ações, e dores,  reconstruo meu coração desfeito.
A violência que aflige minha história,
Não será mais causa do sofrer alheio.

Sergio Barbosa – Professor de Filosofia. Co fundador da Campanha Laco Branco. Gestor de projetos voltados para homens autores de violência contra a mulher. Pai de três pessoas maravilhosas. Adora plantas e verde.