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Sobre relacionamentos abusivos – parte 1 – Coringa

Dizem que os amores são únicos e há quem acredite que na vida toda existe somente um amor.

Como saber se não apostar todas as fichas?

Nunca fui das pessoas que acreditam em contos de fadas e amores impossíveis, o que mais almejava era uma boa companhia para poder relaxar comigo numa tarde de domingo sem muita pretensão. Então assim te conheci.

Você se aproximou e aos poucos fomos nos conectando de uma forma surreal, completa e única.

Abreviamos todos os passos tradicionais de uma relação e nos casamos após o primeiro beijo. Apelidamos nossa casa e criamos raízes e razões para ficarmos juntos para sempre.

Você me dizia o quanto valia o risco de se jogar na vida e me apresentou um lugar maravilhoso, onde seria meu refúgio e o nosso lar. Eu me entreguei, mergulhei, te contei todos os meus segredos e em troca você me revelou os seus.

A conexão já havia sido criada e em tudo estávamos ligados. Eu e você contra o mundo e lendo nossos signos pelas estrelas de madrugada.

Eu era um livro que você já havia lido.

Surreal mas sentíamos que não poderia ser algo comum.

Nos jogamos nessa imensidão sem ao menos nos previnir. Fomos de peito aberto segurando nossas mãos e voando no espaço.Você me fez perder o medo, me segurou, me amou em detalhes.

Numa noite de amor percebemos juntos o quanto estávamos ligados de corpo e alma. Te olhei e depois de um longo beijo me olhou e disse que eu era a sua Arlequina e assim como o Coringa eu era uma criação da sua mente e que havia me encontrado depois de muito procurar.

Éramos feitos um para o outro.

Nada mais poderia dar errado para nós e entre juras de amor te jurei, ninguém mais poderia me separar de você além de você mesmo e assim eu te provaria meu amor.

E ali descobri que a pior mentira é aquela que contamos a nós mesmos.

Você sumiu por uma noite e me fez desabar em lágrimas sem ao menos saber onde estava.

Os dias se passavam e a única razão pela qual me fazia apostar nessa relação era única e exclusiva de que você e só você conseguia me enxergar atravéz da alma.

Mas esquecemos que energia demais também gera explosões e danos irreversíveis.

Não seria diferente conosco.

Tanta sintonia poderia se voltar contra mim e demorou para eu entender.

O ‘amor tóxico’ nunca mostra seus gatilhos, ele os cria ao longo do tempo. Uma mentira que gerou várias outras e resultou num cenário de tragédia anunciada.

O ciclo precisava ser encerrado, porém como arrancar uma árvore que já tinha dado flor mas momento apresentava espinhos?

Mesmo machucada e com mil motivos para ir embora decidi ficar.

Te segurei, te cuidei e curei todas as tuas feridas. Na tua escuridão eu quis ser luz e na tua fome eu quis ser pão.

Eu só não imaginava o quão doloroso seria as páginas seguintes deste livro.

Dançamos por muito tempo no silêncio onde a música era o delírio.

Continua …

Gi Gonçalves – Bela Urbana, mãe, mulher e profissional. Acredita na igualdade social e luta por um mundo onde as mulheres conheçam o seu próprio valor.