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Um destino mais que turístico

bandeira de Portugal

Portugal é, ou deveria ser, mais do que um destino turístico para os brasileiros. É o reencontro com uma parcela importante de nossa herança histórica e cultural, que nos ajuda a entender e aprender mais sobre nós mesmos e nosso próprio país.

Talvez seja devido a que moro fora do Brasil – na Dinamarca, um país geografica e culturamente bem distante da minha terra natal – o fato de me sentir tão em casa quando estou em Portugal. Estive lá quatro vezes, duas a passeio, e duas a trabalho; todas as vezes em Lisboa e arredores. E cada vez me identifico mais e me dá mais vontade de voltar, seja para os mesmos lugares, seja para outras partes ainda não visitadas.

Uma cidade predominantemente ensolarada, tendo o rio Tejo como espelho, Lisboa guarda pequenos tesouros entre suas ladeiras estreitas, em lojinhas de quinquilharias que parecem ter parado no tempo, nas casinhas amontoadas, com varais que dão para a rua, nos azulejos das fachadas… Cada cantinho tem algo de pitoresco e revelador das semelhanças entre eles e nós.

Isto sem falar das vistas maravilhosas que se tem, por exemplo, do Castelo de São Jorge ou dos miradouros no Bairro Alto e do Elevador de Santa Justa, além da simpática região ribeirinha, onde se encontram o monumento aos navegantes, a Torre de Belém e o Mosteiro dos Jerônimos, circuito obrigatório para qualquer visitante.

E as comidinhas, então? A variedade de pratos com peixes e frutos do mar, a infinidade de docinhos regionais com os nomes mais inusitados, como lampreia de ovos, cavacas das Caldas, fofos de Belas, trouxas da Malveira, queijadas de Sintra, os famosos pastéis de Belém, ou ainda os tradicionais caldo verde e pão com chouriço, são “de comer e chorar por mais”, para usar uma expressão bem portuguesa.

Aliás, para quem gosta de idiomas, decifrar a língua portuguesa deles é uma atração à parte.

Embora seja possível entender quase tudo, há sempre umas palavrinhas ou expressões desconhecidas, ou que soam engracadas para os ouvidos brasileiros, como ‘pequeno almoço’ para café-da-manhã; ‘pastilha elástica’ para goma de mascar, ‘comboio’ para trem, ‘telemóvel’ para celular, ‘equipa’ para time, e por aí vai… Uma vez, numas das minhas viagens de trabalho, uma colega portuguesa me contou que seu filho tinha ‘magoado’ o pé, jogando futebol. E na mesma ocasião, ela me comentou que tinha visto um ‘carro a arder’ no trecho da rodovia por onde passávamos naquele momento. Convenhamos, um carro ‘a arder’ soa muito mais poético que um carro ‘pegando fogo’; é como se tivesse sido extraído de um livro de Eça de Queirós.

Falar no autor de Os Maias me fez pensar em Sintra, onde a trama do romance foi parcialmente ambientada. Patrimônio cultural da humanidade pela Unesco, Sintra é um destino imperdível, situado numa região montanhosa nos arredores de Lisboa, com paisagens belíssimas. Entre seus vários edifícios monumentais está o Palácio da Pena, “o mais completo e notável exemplar da arquitetura portuguesa do Romantismo,” segundo um site de turismo português.

Então, depois de visitar Sintra, vale a pena rodar mais um pouquinho, direção sul, e ir até o Cabo da Roca, o ponto mais ocidental da Europa continental. Dali, pode-se admirar o Atlântico e vislumbrar a posição geográfica privilegiada de Portugal, de braços abertos para o mar, o único caminho possível para a expansão do pequeno país na época dos descobrimentos, quando sua história de grandeza foi escrita, mudando também os rumos da nossa história para sempre.

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Miriam Moraes Bengtsson – É formada em Comunicação Social/Publicidade e Propaganda pela PUCCAMP e possui mestrado em Comunicação e Inglês pela Universidade de Roskilde, na Dinamarca. Desde 1992, atua nas áreas de marketing e comunicação. Natural de Garca, SP, vive atualmente em Copenhague, Dinamarca, com marido e dois filhos, e trabalha com comunicação digital e branding em empresa da área farmacêutica. Em seu tempo livre, gosta de praticar esportes, viajar e estar com família e amigos. Contribui para o Belas Urbanas com suas experiências de viagem.
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Trapalhada na terra de Francisco

Viajar é uma delícia, mas nem sempre tudo sai redondinho, conforme os nossos planos, e são justamente os contratempos, gafes, e até mesmo momentos de tensão e apreensão, que rendem boas risadas e boas histórias para contar aos amigos depois.

Tive uma experiência desse tipo recentemente, quando estive na Itália com minha mãe e uma tia. Elas vieram me visitar em Copenhague, onde moro há 12 anos, e daqui fizemos uma pequena excursão incluindo Roma, Assis e Perúgia. O propósito principal era ir a Assis, atendendo ao pedido de minha mãe que há muito tempo queria conhecer a terra natal de São Francisco. A escolha das outras cidades foi em função da proximidade com Assis.

Supostamente a mais experiente em viagens do trio, eu sabia que teria que organizar tudo sozinha. Parecia que tudo estava sob controle, mas a gente sempre dá uma derrapada em algum lugar. E foi chegando em Assis que isso aconteceu.

Antes de sair de Copenhague, eu já havia checado sobre como era para ir da estação de trem Santa Maria Degli Angeli até a cidade propriamente dita, que está situada no alto de um monte. Era só pegar o ônibus Linha 3 e descer na Piazza Matteotti. Dali, chegaria ao hotel, a poucas quadras da praça. Fácil.

Quando chegamos ao ponto de ônibus, uma turista norte-americana com um Chihuahua a tiracolo contava entusiasmada a outros passageiros sobre sua vasta experiência turística na região. Pensei: “Que bom! Ela poderá nos dar umas dicas!” Fomos conversando durante o percurso, e acabei não reparando no nome da praça onde fizemos a primeira parada. “É aqui que devemos descer”, ordenou a americana para mim e para outras ‘vítimas’. Olhei pela janela e vi pessoas se deslocando vagarosamente por um caminho íngreme, que ia se desdobrando em várias camadas de subidas. “Tem certeza?”, perguntei, pensando nas malas que teríamos que arrastar. “Infelizmente sim, o ônibus não pode subir mais do que isso”. Desci do ônibus, um pouco preocupada, tentei perguntar ao motorista, mas este não me escutou e retrocedeu rapidamente pelo mesmo caminho de onde havíamos vindo. “A americana deve ter razão.”

Empreendemos a primeira parte da subida; eu puxando as duas malas mais pesadas, enquanto minha mãe e minha tia se esforçavam para me acompanhar. Ao chegar na primeira bifurcação, percebi que não tinha um mapa da cidade, que estava sem conexão com a Internet e que não sabia direito para que lado ficava o hotel. A solícita turista americana nos indicou a direção para onde acreditava ser a rua do nosso hotel, e se foi para outro lado, entregando-nos à nossa própria sorte. Continuamos subindo, mas não saber quando tempo aquilo ainda ia durar era desesperador. Confesso que naquele momento me arrependi de ter cedido aos incessantes pedidos da minha mãe de conhecer Assis. A cada quadra que subíamos, pensava: “Como vamos nos locomover nos próximos dias neste lugar? Eu com duas senhoras de terceira idade?” Me fez lembrar de Ouro Preto e suas ladeiras intermináveis.

De repente, aparece um casal de australianos, as outras vítimas que tinham ido na conversa da gringa e estavam igualmente perdidos e cansados. “Consegui um mapa!”, disse o homem, com esperança nos olhos. Comecamos a estudar o mapa para ver quanta subida ainda faltava, quando uma alma caridosa se aproximou – um senhor de meia idade, morador de Assis, que nos ofereceu carona até a praça principal da cidade. Que alívio! Ele nos levou até a Piazza del Comune, a poucos metros dos respectivos hotéis. A partir daí, foi tudo de bom. A parte mais alta de Assis, por onde cruza a Via San Francesco, é um pouco mais plana e onde se encontram os principais pontos de interesse. Pudemos nos locomover de ponta a ponta sem dificuldade.

O que eu fui saber depois é que o ônibus voltava um pedaço do percurso para depois pegar outro caminho e subir até a tal Piazza Matteotti, no topo da montanha. De lá, teria sido só descida até o hotel! Quem sabe da próxima vez…

Apesar do contratempo, fiquei apaixonada por Assis, uma cidadezinha charmosa e pitoresca, um lugar mágico. O turismo gira principalmente em torno da vida de São Francisco, que viveu na Idade Média entre o final do século XII e começo do século XIII, mas mesmo para turistas não religiosos, é um destino muito interessante, por sua história, arte, arquitetura e paisagens magníficas. Sua origem Umbro-Romana remonta a aproximadamente 300 anos a.c. Vale a pena visitar.

mirian 2

Miriam Moraes Bengtsson – É formada em Comunicação Social/Publicidade e Propaganda pela PUCCAMP e possui mestrado em Comunicação e Inglês pela Universidade de Roskilde, na Dinamarca. Desde 1992, atua nas áreas de marketing e comunicação. Natural de Garca, SP, vive atualmente em Copenhague, Dinamarca, com marido e dois filhos, e trabalha com comunicação digital e branding em empresa da área farmacêutica. Em seu tempo livre, gosta de praticar esportes, viajar e estar com família e amigos. É do signo de Touro e no horóscopo chinês é do signo do cachorro. Contribui para o Belas Urbanas com suas experiências de viagem.