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Vou falar de infância e carnaval, no ano de 1984

Em relação ao carnaval, nesse ano, o desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro passava por grandes mudanças, entre elas a inauguração do Sambódromo na Sapucaí. Já quanto à infância, eu com apenas 11 anos e meus primos com idades entre 6 e 14 anos, não estávamos interessados no principal acontecimento do carnaval do Rio de Janeiro, ou seja, que o samba deixaria de acontecer no asfalto de grandes avenidas e passaria a ter a sua própria casa.

Naquela época, a chegada do feriado do Carnaval era muito esperada pelas famílias que viviam no interior de São Paulo, principalmente pelas crianças. Um feriado prolongado nos dava a possibilidade de viajar e a torcida era para que pudéssemos sempre ir à praia. O que aconteceu por vários anos consecutivos…

Tínhamos um tio muito querido que adora viajar e sempre convidava a família toda… Digo tínhamos porque esse meu tio nos deixou ainda muito jovem, com apenas 35 anos de idade, vítima de um aneurisma cerebral.

Não quero falar de tristeza, porque meu tio era pura alegria, e falar desse ano, especificamente, me faz homenageá-lo ao lembrar de algumas situações engraçadas que vivenciamos na cidade de Itanhaém, município da Baixada Santista, e que ficaram marcadas para sempre.

A aventura começou já na descida ao litoral, pois como íamos em várias pessoas e, naquela época, os lugares para compras de alimentos eram escassos, tínhamos que levar muita comida para dar conta da fome do povo todo, e para ter espaço para outras coisas que levávamos, meu tio acoplava ao carro uma carretinha.

Saímos de casa de madrugada, e quando estávamos na Marginal Pinheiros, um dos pneus da carretinha se soltou e correu na estrada. Eram só crianças gritando e adultos correndo em direção ao local da parada do pneu. Graças a Deus, a pista estava tranquila (acredito que pelo fato de estar muito cedo) e nenhum acidente foi provocado.

Euforia total nos carros, começava ali o nosso carnaval… muitas risadas, gritos e correria para sairmos da pista o mais rápido possível.

Ao chegarmos na praia, outra situação atípica… Como era a primeira vez que meu tio tinha alugado aquela casa, estávamos acostumados a ir em outro imóvel, demoramos um pouco para encontrá-la. O lugar era distante e com poucas construções, o que deixava o local um pouco sombrio. Os adultos, imediatamente, começaram a comentar o quão difícil ia ser sair dali para ir ver o carnaval de rua, e as crianças mais velhas começaram a falar dos perigos da noite para os pequenos. Muitas risadas e choros.

Meu tio quis alugar uma casa maior para acomodar melhor a família toda, mas também queria nos fazer uma surpresa: na casa tinha piscina com escorregador, o que era uma novidade para todos e acabou causando muito contentamento, principalmente para as crianças, e os choros de minutos atrás se transformaram em muita alegria e euforia.

Durante os dias, as crianças ficavam divididas entre ir à praia ou ficar na piscina. E o carnaval de rua durante a noite? Ah, esta é outra história!

Vou contar aqui o que aconteceu em um dos dias, com duas situações engraçadíssimas…

A família toda foi assistir ao desfile de rua e, chegando lá, havia um público bastante animado. Pessoas desfilando em trajes engraçados e uma considerada plateia acompanhando, dançando, cantando… até que em certo momento, um grupo que estava desfilando começou a jogar no público algumas coisas, o que me lembro eram casca de banana, tomate, farinha, fubá, ovos, entre outros. Minha família toda aglomerada, isso em 1984, certo? Não sabia o que fazer.

Os adultos queriam correr, mas tinham as crianças que para enxergar melhor estavam um pouco distanciadas. Como era carnaval, o público entrou na brincadeira e não era mais possível saber de onde vinham as coisas que estavam sendo atiradas. 

O carnaval acabou cedo para a minha família, tivemos que voltar para casa porque muitos foram atingidos naquela brincadeira, até ovos estavam espalhados pelas roupas. Chegando em casa, foi aquela correria para o banheiro, os atingidos queriam se livrar das roupas e tomar banho.

Lembro que uma das minhas tias teve a ideia de ir usar o banheiro de fora da casa, que era um pouco afastado, e algumas crianças, inclusive eu, resolvemos ir com ela. Afinal, aquele seria um local mais tranquilo, uma vez que a casa estava bastante agitada.

Minha tia entrou correndo porque estava com vontade de fazer “xixi”, mas ela mal entrou e começou a gritar desesperadamente. Nós, crianças, não sabíamos o que fazer e fomos chamar os adultos da casa. Depois de algum tempo, minha tia abriu a porta e mostrou a perereca que se encontrava em um canto do banheiro, tão assustada quanto ela. De acordo com minha tia, assim que ela abaixou o short e foi sentar, viu a perereca… O que aconteceu não preciso contar. Que noite!

Os dias transcorreram e a pauta das conversas era só a perereca no vaso, todos se esqueceram do que aconteceu no desfile, e nem de volta às nossas casas a perereca nos deixou.

São muitas lembranças do carnaval de 1984! Minha família se lembra até hoje dessa viagem, enquanto, certamente, a comunidade da Portela deve se lembrar do título do Carnaval do Rio de Janeiro (conquistado na primeira noite dos desfiles), assim como a escola verde e rosa (Mangueira) também deve trazer nas lembranças a conquista do título na segunda noite e a premiação da campeã das campeãs.

Enfim, enquanto minha família foi surpreendida com arremessos de coisas pelos foliões em plena avenida, os mangueirenses surpreenderam ao dar meia-volta no final da passarela e cruzar a Sapucaí “na contramão”, encantando os presentes.

Pensando neste ano, 2021, em que estaremos isolados, sem comemorações e viagens, vamos ficar em casa e contar histórias. Acredito que assim como eu e minha família, muitas pessoas da minha época, e que viviam no interior, devem ter muitas histórias engraçadas experienciadas no carnaval. Resgatar as memórias da infância é vivê-las um pouco no presente!

Experimente, a festa familiar pode ser muito animada!

Adriana Silva – Belas Urbana. Pedagoga de formação, apaixonada pelo poder transformador da educação e movida por desafios, propósitos e pessoas, há sete anos está no terceiro setor atuando em Programa de Primeira Infância.
Nunca pensou em escrever, mas trabalhou durante anos com crianças em processo de alfabetização e, talvez isso, tenha sido a inspiração para aceitar o convite e compartilhar uma história da sua infância
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