
Meu primeiro amor tinha o cabelo castanho lisinho, olhos castanhos e era um pouquinho maior que eu. Provavelmente devia ser alguns meses mais velho, já que eu era uma das mais novas daquela classe. Eu amava! Sentia uma emoção que nem sei descrever, mas lembro sim que a sentia.
Uma vez ouvi algum adulto, uma mulher, que falou para mim: – Criança não ama! – eu fiquei muito brava e me lembro de protestar: – EU AMO! – disse em alto e bom som. – Amo sim, e amo o Rogério!
Não me lembro quem era a adulta, talvez minha mãe, talvez minha tia Marta… Eu era bem pequena, tinha só quatro anos. Sim, você entendeu bem, tinha quatro aninhos! Estudava no jardim da infância e minha professora, que eu achava linda, se chamava Regina. Para seus alunos, Tia Regina.
Tia Regina me deu uma grande alegria. Os pares da festa junina para a dança da quadrilha eram escolhidos por ela. Quem vocês acham que ela escolheu para ser o meu par? Ninguém menos que o Rogério. Meu coração pulou de alegria, e me lembro da emoção e também de querer disfarçar que estava tão feliz. Fico hoje me perguntando, por que algumas vezes temos vergonha e queremos disfarçar nossa felicidade?
Como eu me lembro de tudo isso? Eu simplesmente me lembro… E, mesmo hoje (melhor nem contar quantos anos já se passaram daquele junho, algumas décadas), ao lembrar, consigo recordar da emoção sentida.
Dançamos aquela quadrilha e foi lindo! Aliás, essa foi até hoje a quadrilha que mais gostei de dançar na minha vida.
Dizem que somos feitos de emoção. Eu acredito nisso. Acho que emoção nos molda. As boas nos moldam para sermos mais doces, para algo interno que nos resgata e conforta nos momentos difíceis da vida. Até hoje eu discordo da adulta que me disse que criança não ama. Eu sei hoje que ela se referia a um amor romântico, mas mesmo assim, eu discordo mesmo, porque eu amava o Rogério, do meu jeitinho, de uma menininha de quatro aninhos, da forma mais pura e autêntica que é o amor. Simplesmente o querer bem, o encantamento e a vontade de estar do lado.
Saí da escola no ano seguinte, como eu disse, era das mais novas e a lei tinha mudado. No outro ano, quando voltei, nunca mais o vi. Acho que mudou de escola.
Se sofri por que amava? Não. Se fiquei pensando no Rogério? Não. Eu brincava, e brincava muito, e isso também era feito de amor.
Brinco com essa história a vida inteira. Outro dia peguei as fotos da quadrilha e mostrei para meus filhos. Eles riram, e ficamos perguntando na mesa: – Cadê o Rogério? Inventamos mil destinos para ele e jantamos dando boas risadas.
Desejo do fundo do meu coração que o Rogério tenha sido um menino feliz, assim como eu fui, e desejo que onde quer que esteja, que esteja bem.
Como disse Drummond: “Amar se aprende amando”.

feliz do Rogério que teve sua história contada de tão bela forma, ler e se sentir na quadrilha da tia Regina é um grande privilégio , ler um texto aonde o autor tem o poder de transportar o seu leitor é uma delícia, para o autor, uma arte incomparável .
Vc está de parabéns minha amiga .
Obrigada André!! Fico feliz que tenha conseguido levá-lo pra minha infância. Bjs
Adorei, algumas pessoas só imaginam o amor carnal, não imaginam o quanto perdem de vida por isso. O amor é bem mais amplo. Não é palpável porque é um sentimento, mas acalma a alma e torna a vida bem mais fácil. O seu texto está muito bom, verdadeiro ou não. Parabéns Adriana.
Realmente o amor é bem mais amplo. Fico feliz que gostou!! 🙂 Obrigada
Que delícia essa história de amor sentido, Dri!!!
Fez com que eu rebobinasse (acho que esse termo não existe mais) minha história de vida, para me lembrar da primeira flor que recebi. Um menino chamado Evandro, que estava na quarta série, e eu na terceira. Nossas filas de entrada na aula e de volta à classe no fim do recreio, ficavam lado a lado, e ele não tirava os olhos de mim. Tantos dias e tantas vezes, sem nos falarmos, que até um sorrisinho matreiro passou a ser natural. E dessa forma se passaram os meses. Um belo dia, estava eu sentada num banco da escola tomando meu lanche, e sozinha, quando me apareceu o Evandro, com uma rosa na mão, falou rapidamente: Pra você! E saiu correndo!!!
Achei lindo. Guardei a rosa dentro de um livro e no coração. Eu tinha 9 anos e ele devia ter dez.
Lembranças felizes…
Que lindo!! Adorei conhecer o Evandro e te imaginar com seus 9 aninhos!!! Obrigada por relatar aqui!!! Bjs Obrigada