
Fui convidada a escrever um texto… pandemia, um ano depois.
Me estranhei com a dor muda, com o sofrimento silenciado, com a sensação de impotência e desesperança com que me deparei, ao tentar trazer em palavras minha vivência de agora.
Tantas perdas, tantas relações estremecidas, tantos momentos perdidos, tanta instabilidade material.
A principio estávamos lutando, sendo fortes, praticando resiliência frente a um inimigo imensamente maior que nós, contra o qual tínhamos poucas armas e nenhum conhecimento.
Agora estamos nos relacionando com um inimigo conhecido, antigo, com a manifestação da ignorância nos inúmeros erros de gestão. Erros que significam vidas. Erros que significam vazios. Erros que significam também nossa falta de capacidade de reagir enquanto povo brasileiro de forma organizada e assertiva.
Palavras de motivação e reflexões sobre como cada um pode lidar melhor com os fatos já não cabem mais.
Precisamos de palavras de misericórdia. Precisamos de compaixão ativa.
Precisamos transmutar essa dor muda em ação pelos mais necessitados.
Precisamos colocar nossos recursos internos e externos à disposição, para socorrer os que estão ficando pelo caminho. Para oferecer o pão, mas também a alma e o coração.
Direcionar nossa energia de indignação, dor e medo em ações de
corpo, fala e mente, na escala que nos for possível.

Etienne Janiake, minha cara, lindas palavras, mas.
Acredito que no momento mais escuro da noite é que começa a clarear.
Não nos derrotamos pelo inimigo em comum, nos derrotamos frente as nossas ações, nos derrotamos quando nos sentimos derrotados.
Este inimigo que esta ai é só mais um, muitos outros já passaram e muitos outros virão e nos não devemos baixar a cabeça.
Acho, no fundo do meu coração que ainda temos muita força para lutar, que podemos fazer isso o tempo todo, lutar e lutar e lutar, porque somos mais fortes, porque simplesmente não podemos nos dar ao direito de derrota.
Ainda a tanto o que fazer, basta arregaçarmos as mangas da camisa, e colocarmos a mão na massa, sim, se nos indignámos com a gestão, vamos pegar a nossa espada que é a caneta e escrever sobre isso, se estamos esgotado pela falta de gerenciamento, vamos buscar orientar, demonstrar, dar exemplo ir em frente.
Acho que sim, devemos ter compaixão, mas ainda não é o momento de chorar, este momento ainda é de luta, de forçar, de coragem para buscar até a ultima gota de sangue a solução que ajudara a grande maioria.
Quando o nosso irmão ao lado chora a perda de um ente querido, damos o nosso ombro, mas revigoramos a nossa revolta, transformando este sentimento em luta, que ajudara um próximo irmão.
Somos livres para lutar ou desistir, mas, sem sombra de duvidas, prefiro lutar.